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Pai e madrasta detidos pela morte de Valentina. Ambos estiveram, à vez, na casa onde terá ocorrido o crime com Polícia Judiciária

Este artigo tem mais de 3 anos

Criança terá morrido em casa, não de forma acidental. Foi levada de carro, na quarta à noite e escondida num eucaliptal, tapada por arbustos. Pai terá confessado onde estava o corpo.

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O corpo de Valentina Fonseca, a menina de 9 anos desaparecida da casa do pai na passada quinta-feira, na Atouguia da Baleia, em Peniche, foi encontrado este domingo, avançou a meio da manhã em comunicado a Polícia Judiciária. Três dias depois de terem alertado as autoridades para o seu desaparecimento, o pai e a madrasta de Valentina, de 32 e 38 anos respetivamente, foram detidos, suspeitos de envolvimento na morte da criança, confirmou fonte da PJ ao Observador. Deverão ser interrogados por um juiz de instrução esta segunda-feira, no Tribunal de Instrução Criminal de Leiria.

Já esta tarde, em conferência de imprensa no Departamento de Investigação Criminal de Leiria, Fernando Jordão, coordenador da PJ local, prestou mais esclarecimentos sobre o crime e avançou que os dois detidos “estão fortemente indiciados dos crimes de homicídio e ocultação de cadáver, entre outros”.

O pai da criança terá confessado à PJ qual o local onde se encontrava o corpo, mas não o homicídio. Ainda assim, na conferência de imprensa a PJ recusou a hipótese de Valentina ter morrido em consequência de um acidente. O pai e a madrasta da menina de nove anos foram indiciados pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver, embora sejam responsáveis em “graus diferentes” dos crimes de que são indiciados.

Pai e madrasta sempre disseram que Valentina tinha saído de casa assim, de pijama

Ainda de acordo com a PJ, a morte “à partida” não terá sido acidental. A menina terá sido morta em casa, na passada quarta-feira, e o corpo transportado para o local onde foi encontrado nessa mesma noite, “possivelmente de carro”. Não há quaisquer indícios de que Valentina fosse vítima de maus tratos por parte do pai ou da madrasta, garantiu ainda Fernando Jordão.

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Na origem do crime, segundo a PJ terão estado “questões internas do funcionamento da família”, embora Fernando Jordão não tenha dado mais pormenores sobre que questões seriam essas. A criança estava em casa do pai “há algum tempo” durante o isolamento social necessário em virtude da pandemia da Covid-19. Na casa onde ocorreu o crime, estariam ainda mais três crianças uma com cerca de “11/12 anos, uma de quatro anos e outra de meses”, acrescentou a PJ não detalhando se as crianças assistiram ao momento em que Valentina morreu.

A mãe de Valentina, pelas 21h00, fez uma publicação na rede social Facebook a agradecer a todos quantos participaram nas buscas nos últimos três dias. “Venho por este meio agradecer todas as ajudas que nós foram dadas… As autoridades a todas as pessoas que se ofereceram no modo geral nas buscas da minha filha em meu nome e em nome de toda a minha família muito muito muito obrigada de coração”. Sónia Fonseca não faz qualquer comentário à detenção do ex-marido suspeito de assassinar a filha de ambos.

Entretanto, este domingo, pouco depois das 15h30, já tinha testemunhado a equipa do Observador no local, uma equipa da polícia científica chegou à casa onde terá acontecido o crime, acompanhada de um reboque — presumivelmente para levar o carro onde o cadáver de Valentina terá sido transportado. O pai de Valentina foi levado para o local, tendo entrado para a casa onde terá sido cometido o crime, provavelmente na tentativa de ser feita uma reconstituição de como tudo se passou. Cerca de uma hora depois de ter chegado, o pai saiu da casa e alguns minutos depois foi a madrasta a entrar entrava acompanha por agentes da Polícia Judiciária.

O pai foi levado até ao eucaliptal onde a criança foi encontrada sem vida, naquilo que parece ser uma reconstituição de todos os passos do crime que foi cometido.

“Ainda não conseguimos descobrir a menina”, diz GNR. Buscas reforçadas com 92 operacionais e cães

Sandro Bernardo, o pai de Valentina, de 32 anos, terá confessado onde estava o corpo da filha esta manhã, depois de ter sido interrogado, mas, ao que o Observador apurou, não confessou ter matado a criança, apenas a ocultação do cadáver. Terá sido mesmo Sandro, funcionário de uma empresa de conservas tailandesa em Peniche, a fornecer as indicações que conduziram as autoridades ao eucaliptal, na zona da Serra d’ El Rei e a cerca de 6 quilómetros de sua casa, onde foi encontrado o corpo da filha, escondido por arbustos mas não enterrado.

De acordo com informações avançadas pela CMTV, o facto de os depoimentos de pai e madrasta de Valentina terem sido sempre coincidentes e de não existirem vestígios de sangue na casa, terá feito com que o caso se tivesse prolongado nos últimos quatro dias, ao longos dos quais PJ, GNR, bombeiros, escuteiros e vizinhos procederam a buscas exaustivas na zona. Sandro Bernardo terá cedido às primeiras horas deste domingo, quando foi submetido a um terceiro interrogatório por parte das autoridades.

Valentina tinha 9 anos. Foi encontrada morta este domingo de manhã

Antes disso, dois familiares tinham contado ao Observador que parte da família receava que Valentina tivesse saído de casa por ciúmes — até porque o pai e a madrasta tinham tido um bebé há um ano e meio. Em contrapartida, tinham explicado também, a menina tinha muito medo do escuro — o que, na perspetiva da família, afastaria a tese de que teria saído pelo próprio pé durante a noite.

Desde o momento em que se iniciaram as buscas, o pai esteve sempre presente, por perto das autoridades. Mais do que isso: de acordo com a GNR, Sandro Bernardo chegou mesmo a deslocar-se várias vezes ao posto local, para saber se tinham novidades sobre o paradeiro da filha.

Este domingo, depois de ter sido encontrado o cadáver e de pai e madrasta terem sido detidos, um familiar revelou ao Observador não estar surpreendido com o desfecho do caso: “Nós sempre desconfiámos, não todos claro, mas quem desconfiava estava constantemente a dizer à PJ que só podiam ser eles os dois”.

Afonso Clara, presidente da junta de freguesia da Atouguia da Baleia, também não se mostrou surpreendido com o crime. “Não é nada que a mim me surpreenda de todo. Queríamos que o filme terminasse bem, infelizmente terminou mal”, disse este domingo aos jornalistas no local.

Ouça aqui as declarações do presidente da junta de Atouguia da Baleia à Rádio Observador:

Criança desaparecida encontrada sem vida. “Pais que fazem uma coisa destas não têm perdão”

Filha de pais separados, Valentina teria sido vista pela última vez pelo próprio pai, que relatou às autoridades que, perto da 1h00 da madrugada da passada quinta-feira, lhe tinha ido aconchegar os cobertores, o que fez com que a janela considerada para o desaparecimento da criança se tivesse situado inicialmente entre essa hora e as 8h da manhã seguinte.

Teria sido nessa altura, contou o agora detido às autoridades, que se tinha apercebido de que Valentina já não estaria na cama. Até este domingo, autoridades e vizinhos procuraram uma menina de pijama, casaco e chinelos — até à confissão, a tese mantida por pai e madrasta era de que a criança tinha desaparecido.

Ouvidos pelos inspetores da PJ, Sandro Bernardo e Sónia Fonseca, pai e mãe da menina, tinham também contado que já em 2019, na altura da Páscoa, Valentina tinha fugido de casa do pai, de manhã, para ir ter com a mãe, de quem “tinha saudades”. Nessa altura, Valentina foi encontrada por um agente que, estranhando vê-la sozinha, a conduziu à casa onde morava com a mãe, no Bombarral. O episódio deu força à hipótese de que a criança tivesse saído de casa pelo seu próprio pé — e terá feito com que Valentina fosse sinalizada pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ).

Em comunicado, a CPCJ de Peniche esclarece que o processo aberto em abril de 2019 acabou arquivado no mês seguinte por considerar que “não havia situação que justificasse a necessidade da aplicação de medida de promoção e proteção” de Valentina. A CPCJ acrescenta ainda que desde então “não existiu mais nenhuma sinalização” sobre Valentina.

Ao Observador, fonte oficial da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Peniche confirmou que Valentina Fonseca foi sinalizada há cerca de um ano e meio, mas que o processo foi entretanto arquivado. Já a Polícia Judiciária de Leiria disse na conferência de imprensa desconhecer qualquer sinalização de Valentina à CPCJ em algum momentos.

Na Atouguia da Baleia, na casa de Sandro e Márcia Bernardo, onde Valentina passava alguns dias, a espaços, viviam ainda outras três crianças: dois filhos de uma primeira relação da madrasta, com 12 e 4 anos, e o bebé, filho dos dois.

O de Valentina não é caso único em Portugal

Lara tinha 2 anos. Foi morta pelo próprio pai, dentro de um carro, no Seixal, em fevereiro de 2019. Antes de pôr termo à vida da bebé, Pedro Henriques tinha esfaqueado a sogra até à morte. No final, ligou para o INEM a dar conta do local onde tinha deixado o carro, com o corpo da criança no porta-bagagens, e apanhou dois comboios e um táxi, rumo à casa dos pais, em Castanheira de Pêra. Foi lá que se suicidou, com um tiro de caçadeira.

Ouça aqui as declarações de Dulce Rocha, presidente do Instituto de Apoio à Criança, à Rádio Observador:

“Comissões de Protação não são adivinhas, mas podem ser treinadas para evitar casos destes”, diz Dulce Rocha

Maria João tinha 6 anos. Foi asfixiada com o cordão do roupão do próprio pai, que quereria castigar a mãe por ter-se divorciado dele. “Sou um monstro”, dizia a mensagem que João Pinto enviou para a ex-mulher, naquela noite de maio, em 2009. Antes disso, o pai da criança chamou as autoridades e saiu de casa, em São Mamede de Infesta, Matosinhos — deixou uma chave na caixa do correio, para que a porta não tivesse de ser arrombada. Nessa noite, ter-se-á tentado suicidar duas vezes. Em 2010, na prisão de Paços de Ferreira, pôs finalmente termo à vida.

Joana tinha 8 anos. Como Valentina, foi dada como desaparecida, mas pela mãe, em setembro de 2004. Depois de várias semanas de buscas na aldeia de Figueira, no Algarve, e arredores, Leonor Cipriano foi detida, juntamente com um irmão, tio da criança. Ambos foram condenados a 20 anos de prisão pelo homicídio de Joana, cujo corpo nunca chegou a aparecer — e que, segundo o tio, teria sido esquartejado e dado a comer aos porcos. Leonor e João Cipriano estão em liberdade desde 2019. Mantêm a sua inocência.

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