A questão já é estudada há meses: por que razão há mais homens a morrerem de Covid-19 quando há mais mulheres infetadas? Embora Portugal seja uma exceção — não só há mais mulheres infetadas, como foram registados mais óbitos do sexo feminino — o panorama europeu mostra outra realidade: 60% das mortes na Europa são de cidadãos do sexo masculino, que representam 71% dos internados nas unidades de cuidados intensivos, segundo dados citados pelo El Confindencial.

A resposta não está na probabilidade de contágio. De acordo com um estudo recente publicado na revista Frontiers in Public Health a propósito da taxa de mortalidade na China, citado pelo jornal espanhol, os homens e as mulheres têm igual probabilidade de serem infetados com o novo coronavírus. Mas, no artigo cientifico em causa, a taxa de mortalidade dos homens estudados foi o dobro da das mulheres.

Embora não haja ainda certezas sobre as razões que explicam estas diferenças, um estudo do European Heart Journal, citado pelo El Confindencial, procura dar algumas pistas. E conclui que os homens estudados (todos com insuficiência cardíaca) tinham uma maior concentração das chamadas enzimas conversoras de angiotensina 2 (ACE2), os recetores que são usados pelo novo coronavírus para entrar nas células humanas. Assim, se há mais ACE2 no organismo, maiores são as probabilidades de contrair Covid-19 e de desenvolver uma infeção mais grave.

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Ainda assim, os investigadores têm cautela em tirar conclusões para a Covid-19. “Não podemos dizer que esta seja a razão principal” pela qual os homens desenvolvem mais complicações do que as mulheres, diz ao El Confidencial Teknautas Adriaan Voors, investigador da University Medical Center Groningen, nos Países Baixos. “Outros [estudos] apresentam explicações alternativas”, refere.

Na investigação que Voors liderou, participaram 3.700 pessoas de 11 países europeus e o objetivo não era produzir um estudo sobre o novo coronavírus — mas sobre doenças cardiovasculares. Daí que todos os participantes tivessem insuficiência cardíaca. Ou seja, explica o investigador, não é possível saber com certezas se todos os homens (incluindo os saudáveis) têm, efetivamente, mais enzimas ACE2.

Embora adiante que, além dos pulmões ou dos rins, “existem níveis particularmente elevados [de enzimas ACE2] nos testículos”, a investigação ainda não permitiu a Teknautas Adriaan Voors compreender por que razão os homens que participaram no estudo produzem mais estes recetores.

Mas, então, se as enzimas ACE2 são uma “porta de entrada” para o novo coronavírus no organismo, é possível diminuir os níveis no corpo humano? Segundo Voors, “não há tratamentos disponíveis” para o efeito, tanto quanto se saiba. Além disso, a enzima tem “duas facetas”: tanto pode ser prejudicial por permitir a entrada do coronavírus, mas se escassear no organismo, agrava a situação cardíaca e pulmonar, explica ao El Confidencial Iván Moreno, porta-voz da Sociedad Espanhola de Medicina Interna (SEMI). O problema é que “não sabemos qual o meio-termo, que a maioria das mulheres tem”.

Uma outra hipótese levantada por outros estudos é a de que, regra geral, os homens desenvolvem mais problemas cardíacos, insuficiência respiratória ou diabetes — doenças associados a um agravamento da Covid-19.