O presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, apontou em entrevista este domingo ao Público várias críticas à forma como Portugal respondeu à pandemia da Covid-19 e deixou inclusivamente dúvidas sobre a qualidade dos ventiladores adquiridos pelo SNS, que, diz, devem ser verificados.

Reconhecendo que isso não teria sido fácil “para quem estava a tomar decisões e face ao grau de incerteza que existia no início de março em relação à dimensão da epidemia”, Alexandre Lourenço destaca que a resposta de Portugal podia “ter sido melhor em vários aspetos, por exemplo nas questões relacionadas com aquisições de ventiladores, de equipamentos de proteção individual“.

O responsável defende que o país deveria ter organizado uma central de compras e que o Serviço Nacional de Saúde nunca deveria ter tido pontos de compra concorrentes (por exemplo, os hospitais e o próprio Governo) a irem ao mercado.

No que diz respeito aos testes, “em fevereiro, o Ministério da Saúde podia ter negociado diretamente com os grandes fornecedores, garantindo que o SNS teria reagentes em quantidade suficiente para fazer os testes“.

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Já no que toca aos ventiladores de EPIs, a compra centralizada beneficiaria a “distribuição equitativa”, uma vez que foi possível ver neste período como os diferentes hospitais se tentaram abastecer em simultâneo no mercado — e “os hospitais com maior capacidade financeira e argúcia conseguiram ter equipamentos antes de outros, e inflacionaram os preços porque foram todos ao mercado”.

Para Alexandre Lourenço, importa agora também “perceber se todas as aquisições que foram feitas correspondem a ventiladores que cumprem as regras de qualidade“.

O líder dos administradores hospitalares criticou ainda a estratégia seguida em termos de criação de uma rede de hospitais dedicados à Covid-19, que passou por uma abertura rápida, mas gradual, de hospitais de referência para a epidemia.

Na altura houve uma ordem: abra-se tudo. A epidemia estava a evoluir com alguma rapidez e havia receio e algum nível de incerteza, mas não devemos ser tomados por essa incerteza“, criticou Alexandre Lourenço.

“O que o SNS demonstrou foi ter plasticidade para responder a uma situação de elevada incerteza. Mas também demonstrou, e está a demonstrar, limitações na capacidade de se reorganizar”, acrescentou o responsável.