Todos, ou quase todos, contra o plano de voos anunciado pela TAP para retomar a operação comercial no pós-Covid. A concentração em Lisboa da maioria das rotas previstas, e que só se vão realizar se houver procura, começou por gerar reações duras no norte do país, mas o raio de contestação alastrou aos partidos políticos, incluindo o PS, com Rui Rio a ter o discurso mais duro. O Presidente da República fez saber que acompanha.
O Governo mantém para já o silêncio, mas segundo o jornal Eco, os administradores que representam o Estado no conselho de administração da TAP votaram contra, o que não conta no atual acordo parassocial que entrega a gestão da transportadora aos privados.
“A TAP e empresa é uma empresa de ordem regional da antiga província da Estremadura”, afirmou o líder do PSD. Rui Rio falava aos jornalistas depois de uma longa reunião com António Costa sobre o plano de recuperação económica nacional, mas não deixou de dar uma resposta enfurecida quando o questionaram sobre a decisão da TAP de retomar (algumas) ligações, na sua maioria a partir do aeroporto de Lisboa: “Uma empresa que não responde ao aeroporto de Ponta Delgada, de Faro, do Porto ou do Funchal é uma empresa regional e não pode ter os apoios de uma empresa estratégica para o país como um todo. Isto para mim é claro”, disse.
O plano de voo da TAP para os próximos dois meses está a deixar o mundo político em alvoroço, com reações negativas de vários partidos e responsáveis públicos do Norte a atacar os voos programados para o regresso da operação comercial pós Covid.
TAP avança com plano de voo que prevê 247 ligações semanais em julho
Estes ataques, aos quais se juntou o PS nacional, surgem num momento particularmente sensível para a empresa que está a negociar um pacote de ajudas com o Governo que se tem revelado difícil e que já vem tarde face aos planos anunciados pelas suas concorrentes europeias.
O Presidente da República afirmou, em resposta à Lusa, que “acompanha a preocupação manifestada por vários partidos políticos e autarcas relativamente ao plano de retoma de rotas da TAP, em particular no que respeita ao Porto”.
O ministro da tutela, Pedro Nuno Santos, já afirmou que em troca de apoios do Estado, o Governo vai exigir maior intervenção na gestão da TAP, nomeadamente para defender o “interesse nacional”. E uma das matérias em que reconheceu divergência com a gestão privada foi sobre a pouca utilização do aeroporto do Porto.
No meio das reações políticas acesas, os 11 sindicatos do setor da aviação pediram reuniões com o ministro das Infraestruturas e a comissão executiva da TAP, “face à ausência de informação” e por considerarem que é “urgente uma solução que permita a retoma da atividade, a proteção dos postos de trabalho, a manutenção dos salários e o fim do regime de layoff, neste importante setor da economia nacional”.
Rui Moreira acusa TAP de impor “confinamento ao Porto e Norte” e “abandonar país”
Depois de Rui Moreira, presidente da câmara do Porto, ter acusado a TAP de “impor confinamento ao Porto e ao Norte” e de estar a “abandonar o país”, também o PS veio a público fazer pressão para o Conselho de Administração e a Comissão executiva da TAP corrigirem o erro estratégico que estão a cometer e, nesse sentido, reverem o plano das rotas. Pela parte da distrital do PS no Porto, as palavras são duras, com Manuel Pizarro a pedir ao Governo que não ignore a “marginalização do Norte” que está a ser “arquitetada pela gestão privada da TAP”.
PS quer chamar Frasquilho
O PS vai pedir urgência a presença do presidente não executivo da TAP, Miguel Frasquilho, “para explicar as decisões da comissão executiva da TAP que dão conta da retoma de algumas rotas mas, ao mesmo tempo, de uma desproporção grande entre os voos com origem e Lisboa em relação aos que saem do aeroporto do Porto”. Isto quando se discute a forma e a dimensão da intervenção do Estado, sendo “relevante que as decisões possam assegurar princípios básicos como, por exemplo, contribuir para a coesão do país”.
Falando aos jornalistas praticamente à mesma hora em que Rui Rio saia de São Bento com palavras duras para a TAP, José Luís Carneiro pediu, a partir do Largo do Rato, à companhia aérea que “corrija o plano de rotas” de forma a “corresponder aos interesses regionais e nacionais”.
“A 7 de maio interpelamos a TAP sobre a redução do número de voos e destinos, e garantiram-nos que não se previam alteração significativas. Hoje, comunicaram-nos a redução de voos e de destinos, o que significa que colocaram em causa os valores estratégicos nacionais. Por isso, o PS interpela a TAP a corrigir o plano de rotas aéreas tornado público para corresponder aos interesses regionais e nacionais”, disse o secretário-geral adjunto em declarações aos jornalistas na sede do PS.
Para José Luís Carneiro, o plano anunciado desvirtua a função da companhia aérea de bandeira, que tem o dever de defender o interesse estratégico nacional. “A TAP serve a economia nacional, a unidade do país, o desenvolvimento regional e a coesão, serve a diáspora portuguesa em todos os continentes, e serve a inserção de Portugal nas rotas aéreas globais e é um fator relevante da soberania nacional”, disse José Luís Carneiro, sublinhando que reduzir os destinos de voo é colocar em causa esses objetivos nacionais. “Vamos aguardar pela forma como o conselho de administração e a comissão executiva reagem a esta interpelação”, disse ainda, afirmando que “o que está em causa não é apenas a região norte, mas também o Algarve, a Madeira e os Açores”.
Também a distrital do Porto do PS defendeu esta terça-feira que o Governo não pode ignorar a marginalização do Norte “arquitetada pela gestão privada da TAP”, considerando um “insulto” a estratégia da companhia para a retoma da operação para a região.
“A estratégia da TAP para a retoma da atividade, quase deixando de fora o Aeroporto do Porto, é um insulto ao Norte de Portugal. O desrespeito da companhia aérea estende-se a todo o País, na medida em que esta atitude centralista prejudica a coesão e o desenvolvimento nacionais”, afirma o presidente da Federação Distrital do Porto do PS, Manuel Pizarro, numa declaração enviada à Lusa.
O plano de retoma das operações da transportadora aérea foi conhecido na segunda-feira e prevê 27 voos semanais até ao final de junho e 247 no mês seguinte, sendo a maioria de Lisboa. O socialista considera que “a TAP, como companhia aérea de bandeira, não pode abandonar o Norte e reclamar em simultâneo uma contribuição financeira do Estado que lhe garanta a sobrevivência, já que o investimento público não é aceitável se a TAP não servir todos os portugueses”.
O Governo não pode ignorar, por isso, “a marginalização do Porto e do Norte, arquitetada pela gestão privada da TAP”, defende Pizarro, sublinhando que “não é para isto que serve uma empresa pública estratégica”.
Na nota enviada à Lusa, o presidente da Federação Distrital do PS do Porto salienta ainda que o Aeroporto do Porto distingue-se como uma infraestrutura indispensável para o desenvolvimento económico e para o sucesso do turismo na região, “sendo ainda fundamental como plataforma de ligação a várias cidades europeias, beneficiando o tráfego aéreo de e para todo o Norte da Península Ibérica”.
Atualizado às 20.20