Não será exagero dizer que ao entrar no Six Senses Douro Valley estará no cenário de um filme. Na verdade, a quinta de Vale Abraão, em Lamego, foi eternizada pelo filme homónimo de Manoel de Oliveira, em 1993, baseado no romance escrito por Agustina Bessa Luís. Erguido numa casa senhorial do século XIX, este hotel de cinco estrelas abriu portas em 2007 como Aquapura, uma empresa portuguesa, mas em 2015 ganhou uma nova vida ao ser a primeira unidade de alojamento da cadeia Six Senses na Europa.
Nicholas Yarnell, diretor-geral, vive há seis anos em Portugal e ainda se lembra bem da primeira vez que visitou esta zona do Douro, considerada, desde 2001, Património Mundial da Humanidade pela Unesco. “Foi rápido ver o potencial deste sítio. A sensação que tive quando aqui entrei foi perguntar ‘estamos mesmo na Europa?’. É uma cenário incrível, este vale é surpreendente, tem algumas semelhanças com Bali”, conta em entrevista ao Observador.
O responsável encontrou também oito hectares de mata praticamente abandonada, com caminhos poucos visíveis e árvores a cair, mas nada que o demovesse de “preservar a história do espaço, a cultura da região e as ligações ao passado”. Uma intenção bem refletida na arquitetura, que se assemelha a uma casa de família, na decoração de interiores, repleta de objetos antigos, como livros e malas de viagem, ou até mesmo na cozinha, onde os produtos locais e sazonais são protagonistas.
Em janeiro de 2019, o Six Senses Douro Valley foi distinguido pelo guia britânico Gallivanter’s Guide, que o considerou o “melhor hotel resort da Europa”. Para 2020, o grupo anunciou um investimento de 10 milhões de euros e uma aposta clara no segmento de luxo, “ainda pouco expressivo no norte do país”. Aos 60 quartos já existentes, juntaram-se 10 novas suites com um frigorífico de vinhos, em vez do habitual mini bar, e, em alguns casos, uma área para projeção de filmes. “São quartos com uma qualidade superior que nos permite ter mais pessoas a um preço mais elevado”, sublinha Nicholas Yarnell.
O hotel tem oito pisos, por isso é provável que se perca entre circuitos e corredores, utilize o elevador para se orientar melhor. As áreas dos quartos são amplas, bem iluminadas e com bastante arrumação. A vista da janela é um típico postal duriense, mas ao abrir as portadas sobra pouco espaço para se movimentar no exterior. Da casa de banho à sala de estar, há detalhes surpreendentes, como o tampo da sanita aquecido, os chinelos recicláveis, o tablet para poder escolher o que comer nas refeições ou o tapete de ioga escondido no armário.
O que interessa saber
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Nome: Six Senses Douro Valley
Abriu em: Julho de 2015
Onde fica: Quinta Vale de Abrão, 5100-758 Samodães, Lamego
O que é: A primeira unidade de alojamento da cadeia Six Senses na Europa
Quem manda: Nicholas Yarnell
Quanto custa uma noite: A partir de 450 euros
Qual é a vista: Douro
Contacto: 254 660 600
Reservas:reservations-dourovalley@sixsenses.com
Links importantes: Site, Facebook
Curiosidades: O spa tem um alquimia bar onde pode fazer produtos de beleza com ingredientes naturais
O silêncio reina durante a noite, mas se tem dificuldades em adormecer com luzes de presença, leve um tapa olhos. Entre o ar condicionado, a televisão e os muitos e confusos interruptores da luz são vários os pontos permanentemente iluminados que podem ferir um sono tranquilo e completamente às escuras.
Recém inaugurado foi também um business center, com uma sala de reuniões para 20 pessoas e uma sala de cinema com direito a pipocas. No próximo ano, está prevista a abertura de um pequeno cais flutuante, que permitirá atracar barcos, a instalação de uma green house no jardim da casa — um viveiro com espaço coberto e privados para 20 a 40 pessoas — e a requalificação das vilas.
“Temos um edifício com cinco apartamentos e duas vilas com piscina própria, queremos conversar o edifício grande e transformá-lo em 9 quartos e suites, com diferentes configurações, que poderão ser alugados separadamente”, adianta Nicholas Yarnell, acrescentando que este novo espaços terá uma piscina particular, sauna com infravermelhos, um chef pronto para cozinhar e uma zona para churrasco, onde uma noite poderá custar até 16 mil euros.
Fazer um sabonete, subir às árvores e procurar equilíbrio no rio
A joia da coroa do Six Senses Douro Valley é mesmo o spa. São mais de dois mil metros quadrados, distribuídos por dez salas de tratamento, onde o telemóvel, o stress e a rotina podem e devem ficar à porta. Há uma piscina aquecida interior, quatro saunas diferentes — panorâmica, com infravermelhos, com sal dos himalaias para uma experiência mais energética e uma outra com a temperatura não tão elevada — massagens personalizadas, para todos os gostos e partes do corpo, e ainda uma espécie de farmácia orgânica. No alquimia bar vai poder fazer sabonetes, esfoliantes, máscaras, óleos, ambientadores para a casa e até bálsamos para dores musculares, graças a workshops orientados por profissionais e onde pode levar a receita para replicar os processos em casa.
Como matéria-prima terá apenas ingredientes naturais e regionais. Laranjas e limões plantados na quinta, erva príncipe, eucalipto, lavanda, grainhas de uvas, grãos de café, argila, cristais de menta ou cera de abelha são apenas alguns exemplos que vai poder encontrar em tratamentos revitalizantes, anti-stress ou anti-idade. Após cada experiência, conte com o típico chá relaxante e à saída pode fazer compras numa pequena loja com uma seleção de marcas portuguesas de vestuário, acessórios, decoração e cosméticos.
Seja sozinho ou acompanhado, há muito para fazer a céu aberto na quinta. Passeios pedestres ou de bicicleta orientados, subida às árvores, caças ao tesouro na mata, observação de pássaros, ser agricultor por um dia, participar nas vindimas ou assistir a sessões de cinema ao ar livre são algumas atividades disponíveis, que vão variando periodicamente. Apesar dos mais novos não terem direito a uma oferta própria e personalizada, podem contar com workshops de azulejos, pintura ou reciclagem.
Se o tempo ajudar, aproveite a piscina exterior, com vista privilegiada para o rio, o jardim aromático vizinho e todos os sofás, baloiços e poltronas espalhados pelo espaço para fazer ioga, pôr a conversa em dia ou um simplesmente ler um bom livro. No rio é possível andar de barco, fazer padel ou kayak e em breve haverá workshops sustentáveis que o vão ensinar a fazer iogurtes, pickles de legumes ou fruta desidratada.
Pequeno-almoço de rei, pratos vegetarianos e provas de vinho diárias
Na propriedade que envolve o Six Senses Douro Valley não se produz vinho, apenas azeite, mel e algumas ervas aromáticas para temperos e chás. “Desenvolvemos produtos biológicos em terrenos vizinhos. No ano passado produzimos seis mil quilos de ervas finas, flores comestíveis, frutas e legumes no valor de 50 mil euros. Este ano queremos triplicar esse valor”, assegura o diretor-geral Nicholas Yarnell, acrescentando que “há 20 anos, quando o Six Senses começou, havia pouca gente interessada em saber a origem dos produtos, mas hoje em dia já não é assim”.
Existem quatro locais onde pode fazer refeições no hotel, cada um com uma oferta e um conceito diferentes, capazes de agradar a todos as exigências e paladares. Comecemos pelo restaurante Vale Abraão, também aberto a não hóspedes. Aqui a carta muda de seis em seis meses e o espaço divide-se em duas salas. Uma área com cozinha aberta e esplanada, onde é servido o pequeno-almoço, já famoso pela sua variedade e potencial instagramável, e uma outra com lareira aberta e um pote onde se faz a sopa, azulejos azuis nas paredes e sofás em pele, onde normalmente chega o jantar.
Vieiras salteadas com espuma de batata ratté, salada de cogumelos e espargos, ovos e molho bearnês ou consomê de pato e ravioli são algumas entradas disponíveis que dão as boas vindas a sugestões como o polvo com texturas de legumes e molho de carabineiro ou a bochecha de porco com puré de aipo, shitake e espargos. Alguns pratos são finalizados na mesa e para rematar opte por uma mousse de chocolate com crocante de amêndoa ou um creme de limão e merengue.
Na Wine Library reinam as tapas tipicamente portuguesas para partilhar e várias centenas de referências de vinhos, ideais para as acompanhar. Há provas diárias ao fim da tarde e uma máquina self service, onde pode escolher o tipo de vinho, a marca e o tamanho do copo. Depois é só deslizar o cartão do quarto para que o seu pedido chegue às suas mãos.
Caso queira jogar bilhar, ler uma revista ou apreciar a paisagem na esplanada, opte por uma refeição ligeira no bar, onde o torricado de bacalhau, cebolada de cerveja preta e puré de grão de bico, a salada de pickles caseiros e sementes, o prego em bolo do caco com mostarda inglesa ou o flatbread com cogumelos e mozzarela são algumas opções no menu.
Junto à piscina exterior, a funcionar de maio a setembro, está uma zona de barbecue e um espaço que durante o dia serve bebidas, hambúrgueres e pizzas e à noite apresenta-se numa versão mais saudável, como um restaurante orgânico, com pratos vegetarianos.
O Observador esteve alojado a convite do Six Senses Douro Valley.