E, de repente, um novo livro de Manuel Vilas. A continuação de Ordesa: Em Tudo Havia Beleza, pujante exercício literário a partir de uma série de graves circunstâncias: a morte dos pais, um divórcio, problemas com o álcool, a laboriosa tentativa de comunicação com filhos em idade adolescente. Esta demanda impossível completa-se numa sentença que perdurou na cabeça dos leitores, pais e não pais: “Deixarmos tudo resolvido aos nossos filhos, morrer tranquilo é isso”.
Em contraposição, viver intranquilo é a vocação primeira de qualquer escritor que entende a escrita como uma forma de se jogar e de se colocar em perigo, de pesquisar, sem cobardia, os temas que interessam. É o que faz Vilas, poeta, ficcionista, ensaísta, colaborador na imprensa (tem coluna semanal no El País).
Numa conversa com o autor, confinado na sua casa em Madrid, diz ao que vem neste volume: “Escrevi, encerrando um ciclo, sobre a alegria conquistada depois da dor”. O sentimento não é oferecido em vales de supermercado. “Exige uma superação. Uma disposição de ânimo e de vontade”. Os próprios pais, sobre os quais se demorou dolorosamente num livro de 400 páginas, mantendo-se fantasmas, ganharam outra coloração. Excerto do livro editado por estes dias de desencarceramento pela Alfaguara:
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