Cerca de uma dezena de seguranças privados entraram às 5h desta segunda-feira num centro de apoio a pessoas carenciadas, em Arroios, Lisboa, para tentar despejar as pessoas que ali se encontravam, disse à Lusa um dos voluntários.

O Seara — Centro de Apoio Mútuo de Santa Bárbara, em Arroios, foi criado por um grupo de pessoas que ocupou um antigo infantário abandonado e o transformou num centro de apoio de ajuda a pessoas carenciadas, incluindo sem-abrigo. Quando ocuparam o espaço, os voluntários não sabiam quem eram os proprietários do imóvel, mas mais tarde descobriram que foi vendido a uma empresa de imobiliário e depois em parcelas a três pessoas que vivem no estrangeiro.

Os voluntários enviaram email a várias entidades, entre as quais a Câmara Municipal de Lisboa e a PSP, a informar de que iriam ocupar o espaço e os motivos.

Em declarações esta segunda-feira à agência Lusa, Bernardo Alvarez, um dos voluntários, contou que cerca das 5h um grupo de 10 seguranças privados entrou no espaço “de forma algo agressiva” e tentou expulsar as sete pessoas que se encontravam no interior.

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Foram algo agressivos e começaram a retirar os bens que estão no interior do espaço. Nós, entretanto, chamámos a PSP, que já está no local com um forte dispositivo”, disse.

De acordo com o voluntário, no local, cerca das 9h estava também uma advogada com uma procuração em nome de alguns dos proprietários do espaço.

Contactada pela agência Lusa, fonte do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP confirmou que a PSP foi chamado ao local pelos voluntários na sequência da entrada de seguranças no espaço. “Houve alguns momentos tensos, mas não agressões. Cerca das 9h20 estavam no local alguns voluntários acompanhados de advogado e uma advogada dos proprietários do espaço”, disse a fonte.

Em declarações à agência Lusa na semana passada, Inês Silva, uma das voluntárias do centro, contou que cerca de meia centena de “vizinhas e vizinhos” do bairro de Arroios que já se dedicavam a ajudar, na sequência dos efeitos da pandemia por Covid-19, juntaram-se e ocuparam um antigo infantário.

Este grupo de pessoas que já participava em iniciativas solidárias percebeu que era preciso estender o apoio e então surgiu a ideia de criar um centro de dia que pudesse apoiar as necessidades das pessoas, que se agravaram com a quarentena”, disse.

Inês Silva contou que o grupo ocupou o espaço, limpou-o e aproveitou mesas e cadeiras que estavam no interior. “O edifício do antigo Centro Escolar Dr. Salgueiro de Almeida, no Largo de Santa Bárbara, em Arroios, estava abandonado desde 2018. Como estava abandonado há pouco tempo, o espaço, que é muito grande, estava em muito bom estado. Tem salas amplas, ginásio e balneários”, explicou.

O centro abriu portas a 9 de maio. Está aberto todos os dias das 13h às 16h para que as pessoas em situação de sem-abrigo, pobreza ou precariedade possam ter acesso a vários serviços como fazer refeições, descansar ou lavar roupa.

A voluntária salientou que no espaço são cumpridas todas as regras de segurança e higiene impostas pela Direção-Geral da Saúde. São distribuídas luvas, álcool-gel e máscaras e é cumprido o distanciamento social.