Donald Trump tinha dito que o comício em Tulsa (Oklahoma), no sábado, o primeiro na retoma da campanha presidencial, tinha recebido “um milhão de inscrições”. Mas o estádio com capacidade para 19 mil pessoas esteve longe de encher — e segundo o New York Times, pelo menos um terço dos lugares estavam vazios.

A campanha de Trump esperava uma enchente tão grande que no exterior do estádio BOK Center foi colocado um segundo palco – por onde Trump, acompanhado pelo vice-presidente, Mike Pence, passaria após o comício – para discursar perante a multidão esperada. Mas o número de participantes — dentro e fora do estádio — ficou aquém do esperado. E o evento no exterior foi mesmo cancelado.

Tim Murtaugh, porta-voz da campanha de Trump, justificou o cancelamento com os “manifestantes radicais” que se juntaram junto ao estádio, e com os media que “assustaram” os apoiantes. Mas, segundo relata o New York Times, os protestos no exterior contra Trump não só foram poucos, como de pequena dimensão e sem capacidade para bloquear a entrada ao recinto (perante o forte dispositivo policial).

Trump venceu no Oklahoma em 2016, com 65,32% dos votos, mas a fraca adesão coloca em dúvida se o apoio ao atual presidente naquele estado vai manter-se — ou se a falta de apoiantes foi resultado da Covid-19 (por um lado, devido ao facto de as pessoas não quererem expor-se ao vírus ou por discordarem da política do presidente dos EUA).

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O comício em Tulsa aconteceu mesmo apesar das críticas a Donald Trump, por ter ignorado os avisos de saúde pública sobre ajuntamentos (até porque muitas pessoas não usavam máscara) e pelo sítio onde escolheu retomar a campanha — Tulsa, que, em 1921, assistiu a um dos piores massacres de afro-americanos, quando 300 negros foram assassinados por grupos brancos.

Mas, no discurso, Trump não fez qualquer referência nem ao massacre, nem ao homicídio de George Floyd. Nem à data conhecida como “Juneteenth”, comemorada no dia anterior ao do comício, pela abolição da escravatura nos EUA.

Trump optou por apelidar a Covid-19 como “Kung Flu”  (auto-elogiando-se pela forma como está a lidar com a pandemia) e criticar os “radicais da extrema-esquerda”. Por outro lado, elogiou os polícias que “se magoam, não se queixam, são incríveis” enquanto tentam controlar manifestantes.

Fraca adesão? Utilizadores das redes sociais contra Trump dizem que “compraram” bilhetes

Uma teoria para a adesão abaixo do esperado, explicada pelo New York Times, é que algumas pessoas anti-Trump possam ter adquirido bilhetes (aproveitando o facto de serem gratuitos) para defraudar as expetativas da campanha do atual líder dos EUA. Segundo o jornal, vários utilizadores das redes sociais disseram ter registado centenas de milhares de bilhetes com o objetivo de fazerem “uma partida” à campanha de Trump, depois de esta ter pedido aos apoiantes para adquirirem bilhetes gratuitos.

Alguns dos apoiantes de Trump perto do estádio onde se realizou o comício, no sábado

Ainda assim, houve quem tivesse passado a noite à porta do estádio à espera de Donald Trump, com mensagens de apoio. Foram poucos os que usaram máscaras, segundo relata o New York Times.

O comício acabou por ficar marcado por novas frases polémicas do presidente. Trump admitiu ter pedido às autoridades de saúde para diminuírem o ritmo de despistagem da Covid-19 devido ao aumento de casos diagnosticados no país, o mais atingido no mundo pela pandemia.

Sem deixar claro se falava à sério, Donald Trump disse aos seus apoiantes que a despistagem da doença era “uma faca de dois gumes”. “Eis o lado mau: quando se faz este volume de testes, encontramos mais pessoas, mais casos”, explicou.

Trump admite ter pedido menos testes para diminuir número de casos. Casa Branca diz que presidente falou “em tom de brincadeira”

“Então eu disse à minha equipa para diminuir o ritmo da despistagem. Eles fazem testes e testes…”, acrescentou Trump, cuja gestão da crise sanitária nos Estados Unidos é alvo de críticas de todos os quadrantes.

Sem se identificar, um responsável da Casa Branca defendeu Trump e disse que o presidente dos EUA “estava claramente a falar em tom de brincadeira para denunciar a cobertura absurda dos media”. “Estamos a liderar no número de testes e estamos orgulhosos de ter realizado mais de 25 milhões de testes”, acrescentou a mesma fonte.