Quando tinha apenas 19 anos, um corpo franzino de quem parece que não faz mal a ninguém (e o sorriso de miúdo também ajuda nessa descrição) e um currículo que poucos conheciam, Gelson Dala era um ponto de interrogação quando chegou a Alcochete. Estávamos no início de 2016, tinha acabado de ser campeão pelo 1.º de Agosto como melhor marcador mas não era propriamente um nome muito falado – e até a vestimenta com que Ary Papel, outro angolano que chegou com ele, se apresentou no aeroporto lhe retirou protagonismo. No entanto, e em 17 jogos na equipa B do Sporting, numa Segunda Liga exigente (ainda mais para quem estava a conhecer a primeira aventura europeia), conseguiu marcar 13 golos. Pelo menos prometia. Quatro anos e meio depois, ainda não confirmou esse registo em Alvalade. Até porque não teve oportunidades para isso. E teria valido a pena.
À exceção dos primeiros seis meses da presente temporada onde o empréstimo aos turcos do Antalyaspor não correu bem, o rendimento que conseguiu no Rio Ave, a quem está cedido pela terceira vez, mostra que é um jogador com características diferentes, um avançado móvel que sai para construir, sabe ligar corredores e tem faro de golo jogando sozinho ou em dupla na frente. Esta noite, num jogo com uma primeira parte de loucos com cinco golos em 20 minutos, voltou a exibir essas mais valias. E formou, a par de Nuno Santos, aquele mesmo Nuno Santos que todos criticaram após a expulsão frente ao Benfica mas que voltou a mostrar que tem demasiado futebol para se ficar por uma noite infeliz, uma parelha fortíssima nos vila-condenses que se juntou ao goleador mais pretendido de Portugal, Taremi. No melhor encontro da retoma, os visitados venceram o Sp. Braga por 4-3, subiram ao quinto lugar e estão apenas a três pontos de um conjunto minhoto que continua a ceder.
RA-SCB, faltam 0’
Único hat-trick nos jogos entre eles nos Arcos
1984????Rui Lopes— Rui Miguel Tovar (@ruimtovar) June 30, 2020
Ficha de jogo
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Rio Ave-Sp. Braga, 4-3
29.ª jornada da Primeira Liga
Estádio do Rio Ave, em Vila do Conde
Árbitro: Nuno Almeida (AF Algarve)
Rio Ave: Kieszek; Nélson Monte, Borevkovic, Aderllan Santos, Matheus Reis; Al Musrati, Tarantini; Nuno Santos (Pedro Amaral, 90+8′), Diego Lopes (Leandro, 88′); Gelson Dala (Carlos Mané, 65′) e Taremi (Bruno Moreira, 90+8′)
Suplentes não utilizados: Paulo Vítor, Nadjack, Messias, Rúben Gonçalves e Vitó
Treinador: Carlos Carvalhal
Sp. Braga: Matheus; Esgaio, Bruno Viana, David Carmo e Pedro Amador (Abel Ruíz, 70′); João Palhinha (João Novais, 78′), Fransérgio; Trincão (Rolando, 88′), Ricardo Horta (Wilson Eduardo, 78′), Galeno e Paulinho (Rui Fonte, 88′)
Suplentes não utilizados: Eduardo, Raul Silva, Diogo Viana e André Horta
Treinador: Custódio
Golos: Paulinho (21′ e 81′), Ricardo Horta (27′), Taremi (34′ e 90+6′, g.p.), Nuno Santos (35′) e Gelson Dala (41′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Aderllan Santos (57′), Ricardo Esgaio (83′), Tarantini (85′) e Fransérgio (89′); cartão vermelho direto a Rolando (90+1′)
Mantendo as mesmas ideias de jogo mas fazendo algumas trocas forçadas ou por opção, o Rio Ave entrou melhor no encontro aproveitando da melhor forma a colocação de Gelson Dala (uma das novidades nos titulares, depois do golo decisivo em Setúbal) e Diego Lopes em posições que permitiam ganhar espaço entre linhas entre Palhinha e a defesa minhota. Depois, e como sempre, a ideia passava por combinar com o iraniano Taremi, fosse em jogadas de envolvimento, fosse em lances de finalização como aquele que aconteceu ainda nos dez minutos iniciais e que só não deu golo porque David Carmo foi para a baliza e não ao homem e conseguiu tirar em cima da linha. Pouco depois, mais uma boa chance iniciada na visão de Al Musrati a mudar o centro de jogo para a direita, Nelson Monte a ver Dala oferecendo de seguida linha de passe e o angolano a rematar de pé esquerdo ao lado.
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O Rio Ave controlava, estava melhor em termos ofensivos e conseguia criar situações de finalização com facilidade, como se viu num remate de Nelson Monte precipitado e que saiu ao lado após mais uma boa variação de Diego Lopes para o lateral que podia devolver o passe, fazer o cruzamento ou rematar perante o espaço que tinha. No entanto, e contra a corrente do jogo, foi o Sp. Braga que marcou e por duas vezes seguidas: primeiro foi Paulinho, a aproveitar um ressalto na área após uma boa transição que começou em mais uma interceção de João Palhinha, muitas vezes sozinho para dois e três adversários mas sem virar a cara à luta; depois foi Ricardo Horta, num livre direto sem hipóteses para Kieszek apesar de todos os avisos de Carvalhal que estava a “ver” o ângulo.
Chegado a este ponto, qualquer equipa desta Primeira Liga iria quebrar. Era inevitável que quebrasse. Em seis minutos teve três boas oportunidades para marcar que nasceram de lances coletivos bem trabalhados, em seis minutos tinha sofrido dois golos num dos poucos erros do meio-campo e numa bola parada. Mas este Rio Ave, a equipa que melhor joga na Primeira Liga (desde a retoma então poucas dúvidas sobram sobre isso), precisou de pouco mais de seis minutos para conseguir uma reviravolta com três golos que foram um hino ao futebol.
O primeiro mostra o que é uma equipa que sabe explorar os espaços: a bola foi saltando linhas pelo corredor central depois de uma primeira variação de Aderllan Santos para Nuno Santos, Gelson Dala recebeu no meio e abriu na esquerda, Nuno Santos cruzou rasteiro para a área onde Taremi só teve de encostar para o golo (34′); o segundo mostra como a inspiração individual e a confiança nas capacidades podem fazer toda a diferença, com Nuno Santos a arriscar aquilo que lhe estava a sair bem no aquecimento e a rematar de meia distância para um golo de bandeira que entrou no ângulo da baliza de Matheus (35′); o terceiro mostra como é importante arriscar outras soluções ao longo do encontro, com Borevkovic a lançar Taremi na profundidade, o iraniano a combinar com Dala, o cruzamento a ir da direita para esquerda e Nuno Santos a assistir o angolano na área (41′).
Custódio estava no banco, de máscara, sem saber ao certo o que fazer ou pensar perante mais uma reviravolta consentida depois do que se tinha passado no dérbi do Minho mas em tons mais pesados com um 2-0 a passar para 2-3. Ainda assim, acreditou que era possível com os mesmos jogadores corrigir posicionamentos e entrar de novo na partida. O que, na teoria, até faria sentido, tendo em conta o espaço que ficava para as transições e que não era aproveitado sobretudo por Fransérgio, que estava muitas vezes mais à frente de Palhinha numa opção que trazia problemas mas também poderia potenciar soluções. No entanto, já em vantagem, os vila-condenses tiveram uma entrada com outra capacidade de gerir momentos e, mesmo sem oportunidades, controlava o jogo.
???????? Rio Ave ???? Braga
Nuno Santos ???????? já tinha respondido fora do campo a alguns idiotas, e hoje fê-lo lá dentro ⭐️#LigaNOS #RAFCSCB #RatersGonnaRate pic.twitter.com/weFpVL4ij4
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As alterações na segunda metade acabaram por mexer o que faltava para inverter essa tendência: com João Novais no meio a ter outra capacidade de construção superior a Palhinha (que fez o jogo 100 no Campeonato) e Abel Ruíz a acrescentar mobilidade na frente, os bracarenses conseguiram chegar ao empate mais uma vez por Paulinho, num lance onde Trincão lançou Galeno na esquerda após uma grande pormenor individual e o cruzamento foi desviado ao segundo poste pelo avançado (81′). Depois, e a dois minutos do final, tendo por objetivo equilibrar a equipa, Custódio apostou em Rolando no lugar de Trincão. Quatro minutos depois, o ex-defesa internacional fez um penálti duvidoso onde a bola parece ter batido no ombro (após uma defesa enorme de Matheus), foi expulso e Taremi selou o 4-3 aos 90+5′ num jogo que terminou ao décimo minuto de descontos. O iraniano bisou, Nuno Santos fez um golo e duas assistências mas o melhor Rio Ave é mesmo aquele que tenha Gelson Dala.
???????? FINAL | Rio Ave ???? Braga
Jogo louco em Vila do Conde, com 7 golos, o último bem dentro dos descontos a dar o triunfo aos da casa, que sobem ao 5º lugar ????
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