Há uma “pandemia para combater” e Duarte Cordeiro, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, ouvido esta quarta-feira no Parlamento, enquanto coordenador da estratégia localizada para região de Lisboa e Vale do Tejo, foi direito ao assunto: o país, antes da Covid-19, já tinha “fragilidades” e “problemas estruturais”, tanto na área dos transportes públicos como na habitação, aos quais não vai ser possível dar uma resposta no imediato.

Esses “desafios tremendos”, como admitiu, não se resolvem com medidas “pontuais”. São projetos a “longo prazo”, para os quais, agora, faltam recursos humanos e financeiros, porque é para as questões concretas, como “estabilizar” o número de novas infeções na região de Lisboa, “onde a situação está longe de estar resolvida” — com avultados “custos económicos” para o país, como frisou o CDS-PP, autor do requerimento — que o foco tem de estar apontado.

“É preciso ver quais os problemas que temos, e como os conseguimos resolver”, reconhece, à medida que vai concordando com algumas das críticas que os deputados apontam — as mesmas com as quais já tinham confrontado o autarca e presidente da Área Metropolitana de Lisboa (AML), Fernando Medina, na terça-feira, como a sobrelotação dos transportes públicos ou a falta de condições de habitabilidade de alguns grupos de risco, e que os impede de cumprir o isolamento.

Mas essas são as “debilidades” que a pandemia pôs a nu. O trabalho de Duarte Cordeiro, designado pelo Executivo, a 6 de abril, para perceber as “especificidades” da região de Lisboa (quando se multiplicavam os surtos ativos no contexto laboral e em coabitação) passa por tomar conhecimento às 7h, por exemplo, que as carruagens do metro ultrapassam os 2/3 de lotação — e informar, de imediato, o secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, assim como a PSP, e agir com “urgência”. As tais respostas “rápidas” que Fernando Medina exigiu quando criticou as “estruturas regionais”.

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E que Duarte Cordeiro encara com “naturalidade”: “Temos consciência que este desafio colocou a saúde pública na linha frente, e que quase não tinha expressão no Serviço Nacional de Saúde. Por isso, nesta área, tivemos de encontrar outro tipo de respostas porque as soluções existentes, e que tinham sido aplicadas no resto do país, aqui não eram suficientes“.

Atualmente, informa, as reuniões que tem tido com os autarcas dos cinco concelhos em situação de calamidade apontam para o facto das medidas tomadas, como a proibição de ajuntamentos ou do consumo de álcool na via pública, “irem no sentido certo”.

“Tivemos sempre a consciência que podíamos ter de reforçar medidas, que elas podiam não ser suficientes, e que poderíamos, se necessário, voltar atrás relativamente a algumas das decisões”.

Parece “simples”, como o próprio assume, mas foi esta esta nova metodologia de trabalho — com partilha de informação entre os autarcas da AML, equipas multidisciplinares no terreno, constituídas por profissionais de saúde, da Segurança Social, da Proteção Civil Municipal, entre outros fatores — que lhe permitiu, esta quarta-feira, estar no Parlamento e informar os deputados, com todas as cautelas, que “os inquéritos epidemiológicos têm resposta em 24 horas. E uma percentagem razoável já é respondida em 12 horas”.

Ainda a 2 de julho, Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, referia que era preciso “fazer mais e mais rápido”, no que toca a “testar, isolar, rastrear as pessoas que estiveram em contacto com infetados, de forma a se assegurar que, na vigilância, todas as pessoas estão a cumprir e têm condições de cumprir o isolamento”.

No entanto, o deputado Carlos Silva, do PSD, salienta que os serviços de saúde começaram a dar “gritos de alerta” logo após o desconfinamento, mas a resposta mais “musculada” só chegou em junho. E ainda não está afinada, como revelam os dados dos rastreios. “As autoridades de saúde falam em 1 técnico de rastreamento para cada 4 mil habitantes. Na amadora, já foi 1 para cada 36 mil habitantes. Agora, é 1 para cada 18 mil”.

Apesar da “humildade” perante uma pandemia que não conhece, Duarte Cordeiro confirma que este método de trabalho veio para ficar e “vai melhorar a resposta”. A resposta a uma segunda vaga, tendo a deputada Paula Santos, do PCP, pedido-lhe, várias vezes, para concretizar o que está em cima da mesa para os meses de inverno e para a hipótese de uma segunda onda de Covid-19. De forma esquiva, Duarte Cordeiro limitou-se a salientar o reforço da “saúde publica e dos cuidados intensivos”, previsto no Programa de Estabilização Económica e Social. “Se acontecer uma segunda onda com impacto superior à primeira, temos de ter uma capacidade superior do SNS” e homogénea no país.

Olhando para os dados de Lisboa, Duarte Cordeiro revelou que, apesar de ter a consciência que é preciso continuar, porque “isto está longe de estar resolvido”, a verdade é que há “critérios que estão sob controlo”. Como sejam as taxas de crescimento exponencial, a resposta do SNS e uma cultura de prevenção entre os mais frágeis. E até dá como exemplo o facto da taxa de letalidade em Lisboa e Vale do Tejo ser mais baixa do que noutras regiões do país, apesar de ter um número de casos superior.
“Quando desconfinámos, nunca deixámos de monitorizar cada um destes critérios”.