O Banco Montepio vai fechar não 31 sucursais (como já revelou publicamente), mas, sim, até 80 balcões em todo o país – cerca de 25% dos balcões que tem atualmente. A garantia foi deixada numa apresentação da comissão executiva à agência de rating DBRS, que alguns dias depois decidiu baixar a notação do Banco Montepio mas de uma forma menos agressiva do que tinha feito, por exemplo, a Fitch, no final de junho. Segundo apurou o Observador, foi transmitido à agência DBRS um plano ambicioso de corte de custos, que implicará rescisões por mútuo acordo e reformas antecipadas, com o objetivo de fazer baixar os custos com pessoal em mais de 20% – num banco que tinha no final de 2019 quase 4.000 pessoas nos quadros.

Numa carta enviada aos trabalhadores na manhã de segunda-feira, o banco garantiu que tinha sido contactado por meios de comunicação social com “informações erradas” sobre as intenções futuras da gestão. “A informação válida e verdadeira é a que foi partilhada pela Comissão Executiva com todos os colaboradores e respetivas estruturas”, garantia o banco. Vários dias antes, o Observador tinha questionado o banco sobre as informações partilhadas com a agência DBRS – além do Observador, também o jornal Eco viria a escrever numa newsletter por subscrição que o Banco Montepio iria fechar 90 balcões, uma informação que não foi, depois, vertida em notícia no jornal.

Segundo o Observador apurou, porém, não se trata de 90 balcões mas, sim, de até 80. Isto porque, num slide da apresentação feita à agência de rating, um dos que foram vistos pelo Observador, lê-se claramente que “o Banco Montepio vai iniciar um processo de ajustamento fundado em quatro ações específicas”. Uma dessas quatro “ações específicas” é um “ajuste operacional” que assenta em cinco pontos essenciais:

  • Acelerar a transição digital“. Não é novidade: o Banco Montepio tem eleito esta modernização como uma das prioridades e o presidente da comissão executiva, Pedro Leitão, foi escolhido exatamente por ter experiência nesse tipo de transformações.
  • Não-reabertura de 31 balcões redundantes“. O banco Montepio indicou a 23 de junho que vai encerrar 31 balcões “redundantes” geograficamente. O banco está a ajustar-se a um “novo ciclo”, indicou a instituição.
  • Início do processo de reformas antecipadas“. No tempo de José Félix Morgado houve um programa deste género mas nos últimos anos não tem havido rescisões por mútuo acordo nem reformas antecipadas de forma generalizada.
  • Início do processo de rescisões por mútuo acordo“. idem
  • Ajustamento da rede de balcões. (Em foco: 49 sucursais não-rentáveis)”. Esta é a informação que mais contrasta com aquilo que foi indicado pelo banco nas últimas semanas. Significa que a gestão já identificou 49 sucursais, além das 31 “geograficamente redundantes”, que têm vindo a ter uma contribuição negativa para o negócio e que, a julgar pelo que foi dito à DBRS, estarão na mira da gestão do banco neste esforço de redução de custos. Na soma, 80 balcões potencialmente para fechar.

O Observador apurou que houve na noite de quinta-feira uma reunião entre a comissão executiva e a comissão de trabalhadores em que foi reafirmado que não existem quaisquer planos de redução de custos além do fecho de 31 balcões já anunciado (onde não se disse que iria haver qualquer dispensa de pessoal associada).

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Os números vistos pelo Observador indicam que, em comparação com os 157,6 milhões em staff costs (em 2019), o banco prevê, segundo o que foi dito à DBRS, que esses custos caiam para 127,8 milhões em 2022 e 124,4 milhões em 2023. Apesar destas garantias de corte de custos, a agência DBRS acabou por cortar o rating para B mas não foi tão agressiva quanto a Fitch, que deixou o Montepio em B-, à beira de cair para o patamar das notações C, de investimento “altamente especulativo”.

“No momento certo serão tomadas as decisões pertinentes”, diz o banco

O Observador confrontou fonte oficial do Banco Montepio com as informações apuradas. Na resposta, o banco indicou que “todas as reuniões entre instituições bancárias e agências de rating são de foro confidencial, consequentemente também o são os documentos/exercícios técnicos e conversas partilhadas”.

“É procedimento de qualquer instituição bancária, a Comissão Executiva, no âmbito das suas funções executivas, ser o órgão que assegura o normal relacionamento com as agências de rating, não tendo o respetivo conteúdo de ser ‘sufragado’ pelo Conselho de Administração, pelo acionista ou pelo regulador/supervisor, pelo que o modus operandi interno não é uma exceção”, diz o Montepio.

“Não obstante, foi-nos assegurado que o conteúdo da informação transmitida foi objeto de apresentação e debate em reuniões anteriores no Conselho de Administração”, garante fonte oficial do Banco Montepio. “Acresce que os exercícios técnicos podem apresentar diferentes cenários – favorável, neutro, pessimista -, e no limite podem nem se efetivar”, diz o banco, acrescentando que “no momento certo serão tomadas as decisões pertinentes pelos órgãos próprios“.

Os temas discutidos pelo CA de qualquer empresa/instituição bancária são do seu foro privado. O Banco Montepio (BM) não é exceção e tratando-se de um banco, natural será que essa privacidade seja um valor essencial a preservar e a respeitar”.

O Banco termina dizendo que “é do conhecimento interno e externo que o BM está a ajustar processos e a estudar a dimensão da rede comercial, tal como foi partilhado com os colaboradores e as respetivas estruturas e com a opinião pública”. “Esta é uma prática que o BM quer manter, partilhando sempre a informação de relevo da instituição com todos os  que dela fazem parte”.

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