Uma sala no Centro Cultural de Belém, decoração já com referências ao site oficial da candidatura, um período no final para recolha de imagens por todos os órgãos de comunicação social que assim desejassem. Sem apoiantes, sem nomes revelados, sem surpresas. Um discurso de apresentação sem atacar de forma direta Luís Filipe Vieira mas a deixar nas entrelinhas várias mensagens para Luís Filipe Vieira e sobre Luís Filipe Vieira. Várias referências a antigos presidentes do clube, os mais emblemáticos da sua história. Três palavras fundamentais a nortear tudo o resto: ambição, credibilidade e transparência. Uma ideia sobre o futuro: dimensão europeia.

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João Noronha Lopes, gestor de 53 anos que passou pelos órgãos sociais do Benfica entre 2000 e 2003 quando Manuel Vilarinho era presidente, fez o anúncio oficial da sua candidatura e posicionou-se como, mais do que um adversário (ou mais um) ao atual líder, “a” alternativa ao atual modelo. E foi assim que se apresentou.

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“Sou benfiquista desde que me conheço, lembro-me de ir ao estádio ver um Benfica-Farense em que marcou o Rei e essa marca ficou comigo para sempre. Cresci com o Benfica, estive na final com o Anderlecht, assisti ao golo de Vata naquele vulcão do Terceiro Anel, festejei no Marquês e em Paris como muitos emigrantes. Ouvi a pergunta várias vezes: ‘Porque te vais meter neste mundo?’, tantas como as vezes em que ouvi ‘Avança, o Benfica precisa de ti’. Mais uma vez, não podia ficar de fora. Aqui estou com uma enorme vontade, com vontade de começar uma nova dinâmica, que ponha o Benfica onde os benfiquistas querem que esteja”, começou por dizer.

“Há 20 anos estive com Vilarinho, fiz parte da transformação que nos devolveu a dignidade e que manteve o Benfica nas mãos dos benfiquistas, nas nossas mãos. Vilarinho foi o homem certo e soube sair no tempo certo. É muito importante mas difícil saber quando sair. Depois o clube modernizou-se, os benfiquistas reconhecem o trabalho de Luís Filipe Vieira e eu próprio já o fiz publicamente. Assistimos no último mandato à desorientação, à incoerência, à incapacidade de aprender com os próprios erros, à contradição entre o que é dito e o que é feito. Acima de tudo, assistimos a um desvio do que é essencial: o sucesso desportivo”, prosseguiu.

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“Chegámos ao fim de um ciclo no Benfica. É altura de decidir o que queremos para o futuro. A resposta é clara: ganhar. Ganhar em todos os campos e pavilhões. Um Benfica que põe a sua alma nos mesmos objetivos de quem o ama. De quem faz quilómetros para ir à Luz ou por essa Europa, de quem se arrepia a ouvir o hino e ver a águia pousar. De quem tem na cabeça uma única causa: ganhar. O negócio do Benfica é vencer jogos e os nossos maiores dividendos têm de ser os títulos. O Benfica não pode ser apenas visto como uma empresa, tem de ser mais do que isso. Temos de aliar a sustentabilidade financeira ao sucesso desportivo. Portugal não nos basta e sublinho a Europa. Precisamos como nunca de ambição, de credibilidade e de transparência. Ambição porque queremos ganhar agora, não podemos adiar a glória que foi nossa, adiar o Benfica europeu. Credibilidade porque precisamos de ter uma estratégia de longo prazo, um projeto que não varia ao sabor das luzes, de um homem só ou do calendário eleitoral. Têm uma garantia: digo o que faço e faço o que digo. Transparência porque queremos propor uma revisão de estatutos, introduzir um Código de Conduta para evitar conflitos membros sociais e da SAD e lutar sem tréguas contra a opacidade do futebol português, dos interesses instalados e dos dirigentes que representam o antigamente”, referiu ainda na apresentação, antes de se focar em lideranças anteriores.

“O grande presidente Joaquim Ferreira Bugalha disse um dia ‘Respeitem sempre o dinheiro do clube, é de gente simples e humilde. Sirvam-no, não se sirvam dele’. Hoje como ontem, devemos guiar-nos por isso. Também ele estava a falar de transparência e de credibilidade”, salientou, antes de fazer outras alusões a outros grandes líderes dos encarnados como Cosme Damião, Félix Bermudes, Maurício Vieira de Brito ou Borges Coutinho.

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Já nas respostas aos jornalistas, Noronha Lopes “fintou” a possibilidade de haver integração de outros nomes que estão a pensar avançar com uma candidatura e preferiu primeiro ver e falar com as pessoas ligadas de forma mais direta ao futebol para depois tomar decisões mas abordou de forma mais extensiva a contratação de Jorge Jesus. “Quando saiu do Benfica teve comportamentos que não gostei, julgo que deve uma explicação e espero que o faça. É um grande treinador, é o meu treinador, não percebo como pode ser o treinador de Vieira: foi empurrado porque não cabia no projeto, foi interposta uma ação de 14 milhões de euros, foi acusado de deslealdade e ainda há bem pouco tempo disse que não voltaria ao Benfica”, frisou o gestor, de 53 anos.

“O que prometo? Ambição, credibilidade e transparência. Prometo que o Benfica jogará sempre para ganhar em Portugal e na Europa porque é aí que se afirma a grandeza e é aí que temos de estar. Os benfiquistas consideram que chegámos ao fim de um ciclo, de um modelo de liderança e os últimos anos revelam isso: perdemos dois em três campeonatos contra um FC Porto intervencionado pela UEFA, tivemos campanhas europeias desastrosas. Perdeu-se o foco nos resultados e nos sucesso desportivos. O Benfica precisa de sustentabilidade financeira mas que sirva para ter resultados desportivos. Os nossos resultados são as vitórias, os nossos dividendos, os nossos maiores dividendos, são os títulos”, concluiu João Noronha Lopes.