A direção do Desportivo das Aves, último classificado da I Liga de futebol, deu entrada na terça-feira com uma ação judicial no Tribunal da Comarca de Santo Tirso a pedir a destituição dos órgãos sociais da SAD.
O processo pode ser consultado no portal Citius, aplicação que concentra informação sobre o sistema judicial português, e foi distribuído na quarta-feira, no qual o clube liderado por António Freitas solicita a destituição de Wei Zhao, presidente da SAD, e de Estrela Costa, acionista da “Galaxy Believers”, empresa que gere a administração.
Constituída em julho de 2015, a sociedade anónima avense controla 90% das ações e detém um poder de decisão maioritário sobre o futebol profissional do emblema da Vila das Aves enquanto o clube encarou um processo eleitoral a 27 de junho, culminado no triunfo do líder honorário sobre o antigo futebolista e dirigente Joaquim Neves.
Este é o último episódio do diferendo entre as duas partes, na sequência da incerteza gerada em torno da realização da receção ao Benfica, na terça-feira, no encerramento da 33.ª jornada, que as ‘águias venceram por 4-0, à qual a SAD informou no domingo que não iria comparecer, devido à anulação da apólice de seguro de acidentes de trabalho.
A situação foi resolvida pelo clube no dia seguinte, quando venceu o terceiro mês de salários em atraso, que resultou nas rescisões dos guarda-redes Quentin Beunardeau e Raphael Aflalo, do defesa Jonathan Buatu, dos médios Aaron Tshibola, Estrela e Pedro Delgado e dos avançados Kevin Yamga, Rúben Macedo e Welinton Júnior.
A formação de Nuno Manta Santos foi impedida de treinar dois dias antes do encontro, no qual os titulares se recusaram a jogar o primeiro minuto e os suplentes abraçaram-se à equipa técnica, enquanto os “encarnados” recriavam-se com o esférico e aplaudiam o gesto de protesto do emblema do concelho de Santo Tirso.
Os futebolistas, treinadores e outros funcionários deslocaram-se em viaturas pessoais até ao estádio no dia do desafio, colmatando o desconhecimento do clube sobre o paradeiro das chaves do autocarro, a cargo da administração de Wei Zhao, que estava estacionado ao lado do veículo que transportou o vice-campeão nacional.
Os jogadores subiram ao relvado pouco depois de a SAD do Aves ter sido absolvida de um processo disciplinar associado ao incumprimento salarial de março a abril, numa decisão do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) idêntica ao desfecho sobre o atraso de vencimentos entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020.
A 6 de maio, fonte dos nortenhos adiantou à agência Lusa que os salários de março seriam liquidados na totalidade, enquanto 35% das verbas de abril e maio estariam cativadas devido à paragem provocada pelo novo coronavírus, sendo repostas com o regresso da competição, mas a promessa ainda não foi cumprida por Wei Zhao.
A decisão do Conselho de Disciplina da FPF impede uma penalização de dois a cinco pontos, face aos 17 somados em 33 jornadas pelo Desportivo das Aves, que confirmou a despromoção à II Liga em 29 de junho e despede-se com a visita ao Portimonense, num encontro da 34.ª jornada, que será arbitrado por Hugo Miguel, da associação de Lisboa.
A SAD ameaçou na sexta-feira faltar à partida marcada para domingo, às 19h30, no Portimão Estádio, de forma a “salvaguardar a transparência na luta pela permanência”, receando “não reunir jogadores suficientes e que garantam uma equipa competitiva”.
Cinco dias depois, a administração recuou na intenção e frisou “estar a desenvolver todos os esforços” para assegurar a visita do Desportivo das Aves ao Algarve e “terminar a temporada com a dignidade e respeito que a instituição merece”, após a direção de António Freitas referir que já estava a tratar da preparação logística do encontro.
Os nortenhos começam a preparar hoje o embate com o Portimonense, 17.º e penúltimo colocado e primeiro clube abaixo da zona de salvação, com 30 pontos, que luta com Vitória de Setúbal (16.º, com 31 pontos) e Tondela (15.º, com 33) pela permanência.