A região de Lisboa e Vale do Tejo continua a ser a que mais preocupações inspira nas autoridades de saúde devido à pandemia da Covid-19 — tendo registado 81% dos novos casos desta sexta-feira. Mas a ministra da Saúde, Marta Temido, sublinhado que a incidência da doença na Área Metropolitana de Lisboa segue uma “tendência decrescente”, apesar do caminho “lento, moroso e difícil”. A nível nacional, a ministra não tem dúvidas de que Portugal está a seguir um padrão “confortável” na evolução do número de novos casos.

Portugal registou nesta sexta-feira mais sete mortes (todos com mais de 70 anos) e 313 casos de Covid-19, dos quais seis mortes e 253 novos casos ocorreram na região de Lisboa e Vale do Tejo. O país tem agora um total de 49.692 casos diagnosticados de Covid-19 desde o início da pandemia (dos quais 13.305 estão ativos), tendo a doença levado à morte de 1.712 pessoas. A um ritmo maior do que o número de novos casos vai crescendo o número de recuperados: esta sexta-feira, registaram-se mais 318 casos de recuperação, tendo já 34.687 pessoas sido curadas da doença.

Em rota descendente está também o número de doentes internados. De acordo com o boletim divulgado esta sexta-feira pela Direção-Geral da Saúde, há agora 420 pessoas internadas, das quais 52 se encontram em Unidades de Cuidados Intensivos. No que toca aos internados UCIs (unidades de cuidados intensivos) é o número mais baixo desde o dia 24 de março — altura em que os números estavam a subir em flecha.

Segundo detalhou depois a ministra da Saúde em conferência de imprensa, a grande maioria dos doentes internados estão na região de Lisboa e Vale do Tejo — dos 420 internados, 353 estão na região. E uma fatia muito significativa (271 doentes) vêm de apenas cinco concelhos: Sintra, Amadora, Odivelas, Loures e Lisboa, os cinco com freguesias em situação de calamidade. No que toca aos casos ativos, 68% estão na região de Lisboa e Vale do Tejo.

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Também de acordo com a ministra da Saúde, existem atualmente 198 surtos de Covid-19 ativos no território português, com a grande maioria (127) a estarem na região de Lisboa e Vale do Tejo. Há, depois, 40 surtos ativos no Norte, 13 no Centro, 5 no Alentejo e 13 no Algarve.

“R” está nos 0,92

Marta Temido revelou mais informações sobre o estado da pandemia em Portugal, incluindo o valor do famoso “R” — o número de reprodução do vírus, que diz quantas pessoas em média são infetadas por cada doente. Para os dias 16 a 20 de julho (último cálculo disponível), o “R” encontrava-se nos 0,92, assegurou Marta Temido.

“O país teve uma taxa de incidência nos últimos sete dias de 15,7 novos casos por 100 mil habitantes e uma taxa de incidência nos últimos 14 dias de 37,1 novos casos por 100 mil habitantes, o que situa o país naquilo que, quanto a este indicador, num padrão bastante confortável — embora haja ainda muito trabalho para fazer”, acrescentou a ministra da Saúde.

A região de Lisboa é aquela que mais preocupa as autoridades, embora haja um caminho positivo a ser feito, destacou a ministra.

“A incidência da doença nos últimos 14 dias mantém a tendência decrescente em todos os concelhos na AML, registando valores entre 90 e 120 novos casos por 100 mil habitantes. Estamos perante um caminho que tem sido lento, moroso e difícil, mas com prudência podemos dizer que começa a sugerir bons resultados”, disse Marta Temido.

É “precoce” falar da vacina

A ministra da Saúde destacou  que Portugal vai acompanhando a evolução do desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, estando o país a ser representado nestes contactos pelo Infarmed.

O instituto “tem participado em reuniões, que estão a ter uma periodicidade semanal, com os 27 Estados-membros e com a coordenação da Comissão Europeia, de coordenação das interações com a indústria farmacêutica, no sentido de garantir que todas as linhas em que há investigação e desenvolvimento de vacinas têm um acompanhamento da nossa parte, de forma a que consigamos garantir que temos acesso àquelas que venham a ser as primeiras vacinas, em condições de segurança e qualidade”.

“Há neste momento oito consórcios da indústria farmacêutica que estão num processo mais avançado e mais promissor de investigação. Algumas dessas vacinas estão já na fase 3 de investigação. De qualquer forma, é ainda precoce estar a avançar com números. É evidente que a DGS tem uma estimativa, mas é precoce estar a avançar com a informação do número de doses, eventuais preços ou datas efetivas para a sua disponibilização”, acrescentou Marta Temido.

Portugal está a pensar no inverno

A conferência de imprensa serviu ainda a ministra da Saúde e o subdiretor-geral da Saúde, Diogo Cruz, falarem dos planos do país para o inverno.

Por um lado, a DGS está a preparar novas regras para a testagem da população portuguesa para a Covid-19 (incluindo os profissionais de saúde), que se espera que sirva para todo o período do inverno — “a menos que apareçam novas evidências científicas. E, como nós sabemos, com a Covid é bem provável que elas venham a aparecer”, salientou Diogo Cruz.

Estas novas regras vão fazer parte da estratégia de Portugal para enfrentar o inverno e já estão “numa fase adiantada do seu desenvolvimento“.

Por outro lado, de acordo com a ministra da Saúde, é necessário que haja também uma estratégia de combate à gripe sazonal reforçada durante o inverno, paralelamente ao combate à Covid-19.

“Como hoje tivemos oportunidade de detalhar na Assembleia da República, as nossas preocupações centrais prendem-se com a necessidade de garantir que temos vacinas para a gripe sazonal e temos a estratégia de vacinação definida a tempo de começar a aplicar a vacina da gripe, mais cedo do que é habitual”, disse a ministra.

“Por outro lado, garantimos a rapidez de resposta para um eventual recrudescimento da Covid-19, ou pelo menos para aquilo que sabemos que é a situação que vamos manter, de ter de viver com a doença enquanto não tivermos uma vacina ou um tratamento eficaz para ela”, acrescentou, sublinhando que o Governo está a investir na “duplicação” da capacidade do SNS para realizar testes e detetar atempadamente todos os casos.

Se mantivermos as medidas para a prevenção do Covid, estas medidas também são importantes para a prevenção de outros vírus respiratórios”, acrescentou o subdiretor-geral da Saúde.

Resultados do inquérito serológico só para a semana

A ministra foi também confrontada com a notícia, avançada pelo Expresso na quinta-feira, de que 300 mil portugueses já tinham sido expostos ao vírus, o que significa que o número de infetados poderá ser seis vezes superior ao divulgado pelo Governo, de acordo com os resultados preliminares do inquérito serológico nacional desenvolvido pelo Instituto Ricardo Jorge.

Porém, Marta Temido disse que esses resultados serão conhecidos na próxima semana e recusou comentá-los.

“O que posso dizer é que este primeiro estudo transversal teve como objetivo principal estimar a extensão da infeção na população portuguesa. O trabalho de campo decorreu entre 21 de maio e 8 de julho, como estava previsto. Foram recrutados cerca de 2.300 participantes, com idades entre os 12 meses e os 93 anos, distribuídos por todas as regiões de saúde, continente e regiões autónomas, e os testes foram feitos em 96 laboratórios e 18 hospitais do SNS”, detalhou Marta Temido.