Um jogo com cinco meses de atraso entre duas equipas que deixaram os objetivos pela metade. Em março, quando a maioria das partidas dos oitavos de final da Liga Europa ainda se realizaram, o Inter Milão-Getafe e o Sevilha-Roma já não aconteceram. O agravar da pandemia tanto em Itália como em Espanha, onde as cidades de Milão e de Sevilha eram epicentros de contágio relevantes, não permitiram a realização da primeira mão dos oitavos entre italianos e espanhóis. Dias depois, a Europa fechou: e as competições europeias ficaram num prolongado stand by.

Esta quarta-feira, no início de agosto e numa altura em que está já a fazer um ano civil desde o início da atual temporada na maioria dos países, Inter Milão e Getafe decidiam apenas num jogo aquilo que em março iria ficar fechado em dois. Apenas a uma partida e em terreno neutro, italianos e espanhóis disputavam uma vaga na final eight da Liga Europa e ambos procuravam esquecer as desilusões das retas finais das respetivas temporadas.

De um lado, em março, o Inter Milão era ainda a equipa que prometia causar mais dificuldades à Juventus na corrida pelo Scudetto. Depois de uma retoma irregular, a equipa de Antonio Conte facilitou a vida a Cristiano Ronaldo e companhia, acabou por ser suplantada pela Lazio a dada altura, e terminou o ano no segundo lugar, numa espécie de recompensa depois de a primeira volta da Serie A ter sido feita a pensar que era possível chegar ao título. Mais do que isso, a temporada acabou com uma cisão clara entre Conte e a cúpula do Inter, com o treinador a proferir declarações duras e críticas explícitas à forma como o clube é liderado, numa rota de colisão que dificulta a permanência do italiano em Milão.

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Do outro lado, em março, o Getafe era ainda uma das revelações da temporada em Espanha — e uma das equipas que prometia atrapalhar os objetivos europeus de Sevilha, Valencia, Villarreal e companhia. A retoma irregular, como prolongamento de uma quebra de rendimento que já se verificava antes da interrupção provocada pela pandemia, acabou por atirar o Getafe para o oitavo lugar da liga espanhola, atrás do surpreendente Granada, o que ditou a ausência da equipa de José Bordalás das competições europeias da próxima época.

Esta quarta-feira, em Gelsenkirchen, ambas as equipas procuravam essa silver lining de uma temporada que se comprovou curta e magra. Em Espanha, os jornais falavam de um confronto duro entre dois dos treinadores mais intensos do futebol europeu atual. “Ambos os treinadores representam, cada um ao seu nível, as suas ambições e os seus contextos, uma forma de entender o futebol que marca um cânone nas suas ligas”, escrevia esta semana o jornalista Alejandro Díaz-Agero no ABC. Bordalás, aliás, fez questão de assumir esse confronto pessoal com Conte: “Vai ser um jogo sujo”, disse o espanhol na antevisão.

O Getafe entrou melhor, com Maksimovic a obrigar Handanovic a uma defesa apertada logo nos primeiros instantes (2′), depois de um cabeceamento na sequência de um cruzamento a partir da direita. Jaime Mata, o goleador da equipa espanhola, também teve uma boa oportunidade para abrir o marcador mas foi intercetado por Bastoni (18′). A primeira aproximação do Inter à baliza de David Soria apareceu por intermédio de Lautaro Martínez, que rematou na diagonal depois de um lance individual (25′), e o primeiro tempo acabou por mostrar-se intenso e interessante, com um ligeiro ascendente do Getafe sempre presente.

Ainda assim, acabou por ser o Inter Milão a levar a vantagem para o intervalo, graças a um golo à passagem da meia-hora. Num lance de futebol mais direto que os italianos já tinham ensaiado algumas vezes, face à dificuldade em ter bola na zona do meio-campo, Bastoni descobriu Lukaku tombado na esquerda com um passe longo e o belga aguentou a pressão do defesa espanhol para depois rematar na diagonal para abrir o marcador (33′). O avançado chegou aos 30 golos numa temporada pela primeira vez na carreira e tornou-se o primeiro jogador nerazzuri a marcar em cinco jogos europeus seguidos desde Adriano, em 2004. No final da primeira parte, ficava a ideia de que o Getafe jogou mais mas o Inter foi mais eficaz — e numa eliminatória decidida a um jogo, era a lógica italiana que acabava por prevalecer.

Na segunda parte, e sem que nenhum dos treinadores tivesse feito qualquer alteração, Godín esteve muito de aumentar a vantagem para o Inter, ao aparecer junto ao poste depois de um remate acrobático de D’Ambrosio que Soria desviou (49′). Bordalás reagiu à desvantagem com a entrada de Ángel Rodríguez e os italianos foram perdendo progressivamente o ímpeto que apresentaram nos primeiros instantes depois do intervalo, recuando cada vez mais no terreno. O Getafe, assumidamente à procura do empate, colocou a primeira linha de pressão na zona do meio-campo e foi avançando através do setor intermédio de ligação ao ataque, algo que tinha conseguido fazer desde o início, ao contrário do Inter.

Nesta altura, Jaime Mata teve uma enorme oportunidade, ao cabecear em zona frontal para um enorme voo de Handanovic (66′), Bordalás voltou a investir no ataque ao lançar Jason e Molina e Alexis Sánchez — que esta semana soube que vai ficar no Inter a título definitivo, terminando a ligação ao Manchester United — entrou para o lugar de Lautaro. A cerca de 15 minutos do fim, Molina acabou por desperdiçar a melhor oportunidade do Getafe para ainda ter uma chance de chegar à final eight: Godín tocou com a mão na bola e fez penálti mas o experiente avançado, recém-entrado, acabou por atirar ao lado (75′).

Lukaku ainda teve uma enorme oportunidade para bisar mas atirou ao lado (79′), o Getafe insistiu até aos últimos instantes e tentou aproveitar as visíveis dificuldades físicas italianas mas o Inter garantiu a vitória com um golo de Eriksen, na primeira vez em que o médio tocou na bola (83′). Os nerazurri venceram os espanhóis, ultrapassaram a eliminatória a um jogo só e vão estar na final eight da Liga Europa, na Alemanha, onde vão encontrar o vencedor da batalha entre o Bayer Leverkusen e o Glasgow Rangers, sendo que os alemães trazem vantagem da primeira mão.