Mais de 60% das áreas industriais portuguesas apresentam elevado risco de incêndio por estarem localizadas junto à floresta, de acordo com um estudo do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC) divulgado este sábado.

Em declarações à agência Lusa, o presidente daquele estabelecimento de ensino, Mário Velindro, adiantou que foram estudados mais de 200 polígonos industriais em todo o país, através de uma equipa multidisciplinar, no âmbito da licenciatura em engenharia civil.

As conclusões e a lista das áreas em risco foram enviadas na semana passada à Associação Nacional dos Municípios Portugueses, Confederação Empresarial de Portugal, secretaria de Estado da Descentralização e Administração Local e Ministério da Administração Interna, que tutela os bombeiros e a Proteção Civil.

Ao todo, segundo Mário Velindro, 63% dos polígonos industriais estudados têm elevado risco de incêndio por estarem localizados junto à floresta.

“O ISEC está disponível para, nos próximos meses, ir às áreas industriais fazer a identificação dos riscos e prescrever as medidas de emergência para os diminuir e, assim, proteger pessoas e bens em perigo”, afirma o presidente da instituição.

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Para proteger as unidades mais vulneráveis, aquele estabelecimento de ensino superior desenvolveu um sistema de simulação de incêndios que permite identificar os principais fatores de risco dos edifícios fabris, que são a “proximidade das árvores e matos, estruturas em metal, revestimentos inflamáveis, ausência de sistemas de pressurização para combate a incêndios e de sistemas de deteção e alarme com comunicação remota”.

Segundo Mário Velindro, “são intervenções que têm custos, mas que são simples”.

O investigador e docente António Correia salienta que o ISEC consegue “prever com rigor a evolução dos incêndios florestais nas zonas industriais e perceber a propagação do incêndio no interior dos polígonos, quantificando as ações térmicas em cada uma das construções”.

“Como podemos determinar exatamente quais vão ser as reações e o comportamento do fogo nos diversos materiais que integram os edifícios, estamos em condições de propor a empresas, a associações empresariais ou a municípios intervenções concretas nas suas áreas industriais em maior risco para minimizarem os danos caso um fogo lhes entre pelas fábricas este verão”, disse o académico, lamentando que as zoas industriais tenham sido completamente esquecidas.

As intervenções estudadas passam, de acordo com o estudo, pela substituição de elementos metálicos ou o seu revestimento por materiais como o betão leve, que possui uma elevada inércia térmica, ou o gesso, que tem caraterísticas físico-químicas que conseguem retardar o aumento de temperatura, permitindo a absorção do calor do incêndio.

A utilização de painéis de fibra cerâmica, de lã de rocha ou tintas intumescentes – que, quando submetidas a temperaturas elevadas, originam uma espuma carbonizada com alto desempenho isolante – são outras das opções recomendadas.

Em comunicado, o ISEC salienta que “os empresários, as câmaras e o Governo deviam estar conscientes de que, sempre que um incêndio entra numa zona industrial, estas áreas ficam completamente devastadas e levam consigo dezenas de empresas, destroem centenas de postos de trabalho e queimam milhões de euros do Produto Interno Bruto, com todos os problemas sociais associados”.

Para António Correia, “continua a faltar planeamento organizado das ações conjuntas entre as várias entidades envolvidas, designadamente a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, autarquias locais e GNR”.

“Tem de ser feita uma compartimentação mais adequada das florestas e uma ocupação mais correta do solo na interface florestal”, defendeu o investigador.