Esta quarta-feira, o Governo enviou um conjunto de recomendações às escolas para o novo ano letivo de maneira a que estas recuperem o tempo perdido. De acordo com a TSF e o Público, as escolas terão de implementar um plano de recuperação e consolidação das aprendizagens que terão ficado pelo caminho devido à pandemia, que forçou o ensino à distância.

O processo de recuperação terá uma incidência maior nas primeiras cinco semanas do novo ano letivo, ainda que a sua consolidação se prolongue ao longo de 2020/2021. Para o Ministério da Educação, saber escrever é uma das aprendizagens tidas como prioridade neste processo, sobretudo no que se refere ao 2.º e ao 6.º ano de escolaridade.

Às escolas é dada a possibilidade de gerirem o currículo de forma “mais flexível”. As medidas constam do documento de 51 páginas — “Orientações para a Recuperação e Consolidação das Aprendizagens ao Longo do Ano Letivo de 2020/2021” — enviado pelo Ministério da Educação às escolas.

No documento destaca-se ainda o “desenvolvimento do trabalho autónomo por parte dos alunos” e a aposta em ações de “cidadania ativa”, sendo que os exames nacionais do secundário deverão repetir em 2021 a estrutura deste ano.

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As escolas terão também de estar preparadas para transitarem entre o regime presencial e o ensino à distância “de forma não disruptiva”, o que exige fazer um diagnóstico das competências digitais dos alunos. No documento, o Governo esclarece que “houve aprendizagens que não se desenvolveram e alunos que tiveram menos capacidade de acompanhar os colegas”.

“Estamos a apostar fortemente no ensino presencial”

Para Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, as orientações propostas pelo Governo são “aplicáveis”, sobretudo tendo em conta o “agravamento das desigualdades sociais resultantes do constrangimento que vivemos” e ainda as “aprendizagens que não se realizaram.” Em declarações à Rádio Observador explicou que “é importante que cada escola elabore um plano de atuação para a recuperação e para a consolidação das aprendizagens.” Não descartando um “ensino mais individualizado”, assegura que “cada escola irá escolher o seu regime”.

“Estamos a apostar fortemente no ensino presencial, é isso que o Ministério da Educação quer e é isso que todos queremos a partir de meados de setembro. Mas não podemos pôr de fora a hipótese de termos um regime misto e, no limite, um regime muito semelhante ou igual ao do terceiro período do ano letivo que passou”, disse ainda.

“Quem gere o dinheiro do povo, muitas vezes não dá valor à sua educação” afirma Filinto Lima

Assegurando que as escolas estão a preparar-se para estes cenários, e que os primeiros 15 dias de setembro vão ser de “imenso trabalho” para os professores, Filinto Lima afirmou que a chegada de mais professores já no começo do ano letivo deveria ser acompanhada “da chegada de mais funcionários”. “No próximo ano letivo vamos ter escolas com um horário de funcionamento mais alargado”, constatou, acrescentando que os funcionários vão passar também a higienizar as salas de aula e a desempenhar outras tarefas que, não fosse pandemia, não existiriam.

“É necessário haver mais um reforço ao nível dos assistentes operacionais nas nossas escolas”, assegurou, lembrando que num primeiro reforço vão chegar às escolas mais 600 funcionários. “É necessário engrossar este número em algumas centenas em virtude dos horários mais alargados.” Lima assegurou ainda que o Ministério da Educação tem-se “mostrado sensível” a esta situação, embora não seja “na maior parte das vezes acompanhado pelo Ministério das Finanças”. “Quem gere o dinheiro do povo muitas vezes não dá valor à sua educação”, conclui.