Depois de uma escala no Canadá, antiga morada de Meghan Markle, a Califórnia tornou-se a base dos duques de Sussex quando se despediram da vida no Reino Unido, uma decisão precipitada pela proximidade geográfica de Doria Ragland, a mãe de Meghan. O casal tem ocupado uma mansão com 12 quartos detida pelo magnata do entretenimento Tyler Perry, avaliada em mais de 18 milhões de dólares. Pelo menos até julho, quando se terão mudado por fim para a sua própria residência, trocando o bulício de Los Angeles pela maior privacidade oferecida por Santa Barbara, no mesmo estado mas a relativa distância do assédio de fãs e flashes. Uma decisão que surge depois de moverem uma ação contra agências de paparazzi que chegaram a recorrer a drones para captar imagens da família.
A notícia da mudança foi avançada esta semana por uma colunista da Page Six. Emily Smith revela como o príncipe e a sua mulher terão discretamente trocado de casa há mais de um mês, para se instalar permanentemente na área de Montecito, tendo como vizinhas as apresentadoras Ellen DeGeneres e Oprah Winfrey, que terão convencido a dupla a optar por este refúgio californiano. Àquela publicação, uma fonte garante que “Harry e Meghan têm estado a viver calmamente na sua casa em Santa Barbara desde julho”, adiantando ainda que o casal comprou mesmo a sua própria residência, não estando a viver em casa de Oprah, como se poderia especular, dada a relação próxima. “Eles querem criar raízes nesta casa e nesta comunidade, que oferece considerável privacidade. É aqui que tencionam criar o Archie, e onde esperam poder ter uma vida o mais normal possível”, descrevem.
E se a fonte em questão não revelou desde logo o valor envolvido no negócio, ou detalhes sobre a mansão, não demorou muito até que outros meios escrutinassem o mercado e chegassem por fim à propriedade eleita pelos Sussex. Segundo a Tatler, tratar-se-ão de mais de 14 mil quadrados, que incluem nove quartos e 16 casas de banho, inseridos num terreno com mais de dois hectares, e que terão sido comprados por 14,650,000 dólares. Para além do apetecível cenário envolvente, o casal pode contar com uma biblioteca, ginásio, spa, sala de jogos, sala de cinema, adega e uma garagem para cinco carros. Destaque ainda para a guest house, detalhe que serve na perfeição as esperadas visitas de Doria Ragland.
Mas a maior curiosidade sobre a residência está longe de detalhes técnicos. Segundo o The Telegraph, a zona eleita por Harry e Meghan Markle é a mesma do romance “Riven Rock”. A obra de T. C. Boyle, de 1998, narra a história de um casal cuja atormentada vida amorosa consegue oscilar entre o comovente e o enigmático, e não é difícil ensaiar um paralelo com a própria trajetória dos duques. O livro, baseado na saga de um clã de carne e osso, com personagens bem reais, chegou mesmo a aparecer na série “Os Sopranos” — no sexto episódio da primeira temporada Dr. Melfi, o terapeuta de Tony, é visto a ler o romance, que recua a etapas como a I Guerra Mundial ou a gripe espanhola, para mais uma desconcertante ponte com a atualidade.
Em pano de fundo, temos os primeiros anos do século XX e esse encontro entre a feminista Katharine Dexter e Stanley McCormick, filho de um milionário de origem escocesa, o inventor da ceifeira, cuja introdução revolucionou a agricultura. Os dois acabam por casar-se mas poucos anos depois do enlace, Stanley enfrenta um colapso nervoso e passa os 40 anos seguintes, até ao fim do seus dias, sem sair de Riven Rock, a californiana mansão da família. Apesar da determinação de vários médicos em curarem o paciente da esquizofrenia, a salvação parece residir na cientista e sufragista Katharine. “A intrigante história de uma ativista dos direitos das mulheres e o filho mais novo e herdeiro de uma vasta fortuna familiar parece ter grande interesse para o duque e a duquesa de Sussex”, descreve o Telegraph, depois de uns dias antes ter confirmado a mudança com um porta-voz do casal.
É na soalheira região, entre o azul do mar e as montanhas de Santa Ynez, que Harry e Meghan estarão há pelo menos seis semanas, a léguas de persistentes polémicas com origem no Reino Unido. É que se o casal estará determinado em assentar em Santa Barbara, ainda há contas por acertar na zona de Windsor, onde inicialmente planearam viver. Recorde-se que a remodelação de Frogmore Cottage custou 2, 7 milhões de euros aos britânicos, montante esse que ainda não terá sido devolvido aos contribuintes, como prometido pela dupla no rescaldo do acordo do Megxit. De resto, a Tatler adianta ainda que o príncipe Carlos poderá ter ajudado o casal a comprar esta nova propriedade nos EUA, um passo que até agora não foi confirmado por Clarence House. Certo é que o novíssimo endereço parece ter tanto de atrativo como de tétrico, pelo duro destino que marcou o casal McCormick, entre demência precoce e violência.
Em 2006, o Santa Barbara Independent viajava ao final do século XIX e revisitava a história do clã e da casa principal, que seria arrasada pelo grande terramoto de Santa Barbara em 1925, com a propriedade dos McCormick a ser então subdividida em diferentes edifícios e residências. O clã começara a frequentar a região ainda nos anos 80 do século XIX, tendo comprado a propriedade em 1896. A construção da casa principal arrancaria no ano seguinte e o nome de Riven Rock seria inspirado num carvalho que existia junto do portão principal — e que morreu há largos anos.
Nas décadas seguintes, a extravagância e exotismo tomariam conta daqueles terrenos, com plantas importadas do Japão, enormes limoeiros e produção própria de laticínios. Entre os vários peritos contratados pela família, para tentar curar Stanley, esteve Gilbert Van Tassel Hamilton, que chegou a ter o seu próprio laboratório em Riven Rock, para analisar sintomas de esquizofrenia e demência. Segundo Michael Redmon, diretor de pesquisa do Museu de Santa Barbara, rios de dinheiro tentaram levar, sem grande sucesso, algum conforto ao paciente. Foi construído um campo de golfe, contratado um diretor musical, erguido um teatro para atuações ao vivo e adquiridas várias peças de arte.
Privada do contacto com o marido, pela sua conduta agressiva, Katharine acabaria muitas vezes por conseguir ver Stanley apenas à distância, disfarçada atrás de arbustos e através de binóculos, acabando por dedicar a sua vida ao movimento sufragista e envolvendo-se em causas como a entrada ilegal de diafragmas nos EUA.
Stanley, o filho de Cyrus e Nettie McCormick, que passou à história como “o milionário louco”, morreria de pneumonia em 1947. Tinha 72 anos e estivera confinado desde os seus 34. Katharine viveu até aos 92 anos, morrendo em 1967. Foi a segunda mulher a licenciar-se pelo Massachusetts Institute of Technology, aspirava ser médica, e trocou alianças com Stanley em 1904. Quando o marido morreu, a filha de Wirt Dexter, um proeminente advogado de Chicago, não só herdou uma fortuna avultada como investiu boa parte do dinheiro no desenvolvimento da pílula contracetiva.
A nova morada principal, agora ocupada pelos Sussex, foi erguida em 2003 e vendida em 2009 por 25 milhões de dólares. Depois de seis anos sem que fosse vendida, e tendo chegado ao inflacionado preço de 34.5 milhões, em 2017 via o seu valor reduzido para 23 milhões. Em abril deste ano, voltava ao mercado por 17 milhões, tendo os duques, segundo o Telegraph concluído a compra por pouco mais de 14 milhões de dólares (mais de 12 milhões de euros).