Em 1977, Frank Williams fundou a Williams Grand Prix Engineering. Depois de ter sido piloto e mecânico durante os anos 60, numa outra equipa que também tinha criado de raiz, decidiu voltar a arriscar e agarrou num amigo engenheiro para adquirir uma velha garagem em Oxfordshire. Dois anos depois, a Williams já estava a ganhar corridas na Fórmula 1. Esta quinta-feira, 43 anos depois de o agora Sir Frank Williams se ter tornado um dos nomes mais importantes do automobilismo internacional, a família britânica anunciou que vai sair definitivamente da estrutura da equipa depois do Grande Prémio do próximo fim de semana, em Itália.

A decisão foi comunicada por Claire Williams, a única filha de Frank, que nos últimos anos substituiu o pai tanto no Conselho de Administração da empresa como no cargo de diretora da equipa de Fórmula 1. Através de um vídeo partilhado nas redes sociais, a inglesa de 44 anos explicou que a família decidiu afastar-se “agora que o futuro da equipa está assegurado”. “Como família, sempre demos prioridade à Williams. Demonstrámos isso pelas nossas ações recentes e acreditamos que é a altura certa para passar as rédeas para outras mãos e dar aos novos donos a oportunidade de levar a equipa até ao futuro. Estivemos neste desporto durante mais de quatro décadas. Estamos incrivelmente orgulhosos do nosso percurso e do legado que deixamos. Sempre aqui estivemos pelo amor que temos por tudo isto, pelo puro prazer de ir correr. Esta não foi uma decisão tomada de ânimo leve mas sim depois de muita reflexão e como família”, indicou Claire.

A Williams Racing, o nome atual da equipa, foi então vendida ao Dorilton Capital, um grupo de investimento norte-americano, depois de vários anos de dificuldades financeiras e fracassos desportivos: os britânicos ficaram no último lugar do Mundial de Fórmula 1 nas duas últimas temporadas e as fragilidades relativamente ao capital e ao investimento levaram a família Williams a procurar soluções. “Apreciamos muito o apoio da Dorilton para que continuássemos, mas sabemos que a equipa fica em boas mãos e que o nome Williams vai perdurar. Este pode ser o fim de uma era para a Williams enquanto uma equipa gerida por uma família mas é o início de uma nova era para a Williams Racing e desejamos muito sucesso para o futuro”, completou a filha do antigo piloto, que começou a assumir as posições que tinham sido do pai no início de 2012.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em comunicado, a Dorilton Capital deixou a ideia de que o nome da equipa — o da família — se vai manter. “O sucesso da Claire em manter a herança, a relevância e o compromisso da Williams Racing num ambiente difícil tem sido monumental (…) Estamos orgulhosos em carregar o nome Williams nesta próxima fase entusiasmante para o desporto”, afirmou a empresa, que terá então convidado Claire e outros elementos da família para que se mantivessem na estrutura da equipa, algo que estes recusaram.

No Twitter, também George Russell, um dos pilotos da Williams Racing em conjunto com Nicholas Latifi, comentou a venda da equipa e deixou a certeza de que o nome se vai manter. “Não estaria onde estou hoje sem o Frank e a Claire. Foram eles que me deram a minha oportunidade na Fórmula 1, como fizeram com tantos pilotos, engenheiros, mecânicos e tantos outros ao longo dos anos. Obrigado por tudo. Vamos continuar a correr como nunca para honrar o nome Williams”, escreveu o piloto britânico de 22 anos.

A família Williams despede-se da Fórmula 1 depois de ter conquistado sete vezes o Mundial de pilotos e outras nove a classificação de construtores. A equipa britânica dominou a modalidade durante grande parte dos anos 80 e 90 — graças a pilotos como Nelson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost e Damon Hill — mas foi também nessa altura que acabou por viver uma das páginas mais negras da própria história. Em 1994, Ayrton Senna morreu em pleno circuito de Imola ao volante do Williams FW16 (tinha chegado à equipa precisamente nesse ano, depois de seis épocas na McLaren) e Frank Williams, hoje com 78 anos, chegou a ser judicialmente acusado, em Itália, de homicídio por negligência, ainda que o caso tenha sido arquivado anos depois. Desde aí, todos os carros da Williams incluem um pequeno tributo a Senna, normalmente na asa dianteira do monolugar.