A administração do Novo Banco escolheu para ajudar a vender 645 milhões em imóveis a sociedade espanhola Alantra, representada em Portugal por uma ex-assessora de Ricardo Salgado no BES. Essa foi uma escolha chumbada pela direção de compliance do banco, por duas vezes, mas o Novo Banco manteve a opção e não informou o Fundo de Resolução sobre essas “negas”, noticia esta terça-feira o Público. Como já aconteceu várias vezes nas últimas semanas, esta é uma notícia que o Novo Banco “desmente categoricamente”.

Esta é uma operação que está descrita na auditoria especial da Deloitte, concluída nos últimos dias. Só por ocasião da realização dessa auditoria é que o caso viria a ser reportado ao Fundo de Resolução, em Junho de 2020, quase dois anos depois. “O Banco sempre reportou os seus assessores [sic] ao Fundo de Resolução”, diz a administração liderada por António Ramalho ao Público.

“No caso da existência de pareceres internos contraditórios entre si, e face ao tema colocado exclusivamente do ponto de vista de potencial risco reputacional, que foi mitigado pela contratação exclusivamente da equipa da Alantra Espanha, o Banco não considerou necessário o reporte desse parecer.”

O parecer colocava em causa a contratação da Alantra, representada em Portugal por Rita Barosa, ex-assessora de Ricardo Salgado e ligada ao núcleo duro do ex-diretor financeiro do BES Amílcar Morais Pires. O Público indica que este é considerado um tema “muito sensível” dentro do Fundo de Resolução, organismo que, na própria auditoria, escreve que “não deixará de integrar os resultados [desta auditoria] na sua reflexão permanente sobre a execução do Acordo [de venda à Lone Star], tendo em vista extrair as conclusões que se mostrem pertinentes”.

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Banco “desmente categoricamente” (mais uma) notícia

Como tem sido recorrente nas últimas semanas, o Novo Banco lança um desmentido às primeiras horas da manhã. “O Público volta a fazer um título falso sobre o Novo Banco que importa desmentir”, diz a administração liderada por António Ramalho, acrescentando que “o conteúdo do artigo enferma igualmente de várias mentiras”.

“Ao contrário do que o Público sustenta, a operação teve a aprovação por todos os órgãos do Banco e pelo Fundo de Resolução, não tendo havido qualquer chumbo da operação. O departamento de compliance não chumbou a operação, muito menos duas vezes”, diz a instituição, argumentando que “o Novo Banco escolheu para seu assessor a Alantra, empresa com reconhecida experiência no mercado internacional e na península ibérica num total de 117 assessoradas. Em 2017 fechou 29 operações de venda, 4 das quais em Portugal e, em 2018, só em Portugal acompanhou 7 operações de vendas de portfólios”.

“O Conselho de Administração Executivo do Novo Banco ponderou o parecer do compliance, sobre matéria em que o parecer não é vinculativo, visando exclusivamente potencial risco reputacional [por a CEO da empresa portuguesa ser ex quadro do BES], que o próprio departamento de compliance referiu como tema de decisão “estratégica e de gestão”, sublinha António Ramalho, notando que “o Conselho de Administração Executivo decidiu contratar a Alantra Espanha com expressa proibição de ser envolvida a equipa portuguesa“.

É essa divergência na escolha do assessor que o Novo Banco não referiu ao Fundo de Resolução por considerar um detalhe sem especial relevância e que é reportada na Auditoria Especial”, resume.

O banco acrescenta que “entre os diversos clientes da Alantra se encontra a Oitante sociedade sobre a tutela do Fundo de Resolução e a Parvalorem sociedade sob a tutela do Estado Português”. “Não existe, por isso, qualquer crítica a qualquer operação não reportada ao Fundo de Resolução como falsamente o Público refere a sua primeira página”, defende.