Depois do mau tempo que na manhã desta sexta-feira provocou chuvas intensas em todo o país e dois tornados em Beja e Palmela, provocados por supercélulas associadas a depressões atmosféricas, este sábado Portugal vai ser atingido por uma tempestade subtropical. Chama-se Alpha, de acordo com o Centro Nacional de Furacões dos EUA (Hurricane Center), que está a seguir o fenómeno, entrou em terra na zona de Leiria e deverá seguir para norte ao longo da manhã de sábado, atingindo a região de Trás-os Montes a meio da manhã, rumo ao Golfo da Biscaia.

As previsões são de ventos acima dos 60 km/h e chuva forte, bem como trovoada nestas regiões, para as quais foram emitidos avisos amarelos. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera colocou os distritos de Leiria e Coimbra sob aviso laranja até às 23h59 desta sexta-feira.

O Alpha e a sua evolução

E a força dos ventos

IPMA eleva distritos de Leiria e Coimbra para aviso laranja

Os distritos de Leiria e de Coimbra estão esta sexta-feira sob aviso laranja devido ao vento, precipitação e trovoada originados pelo ciclone subtropical Alfa, anunciou o IPMA.

O IPMA refere em comunicado que decidiu elevar o nível de aviso amarelo para laranja nos distritos de Leiria e de Coimbra, até às 23h59, tendo em conta o agravar da situação meteorológica.

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A depressão centrada junto à costa do distrito de Leiria, ganhou características subtropicais durante a tarde, revelando uma estrutura organizada nas imagens de satélite”, lê-se.

A fonte refere que, com a aproximação da depressão à costa, “foi possível monitorizar o ciclone com o auxílio do sistema de radar, sendo possível identificar ventos de intensidade muito elevada em altitude, mas relativamente próximo da superfície”.

Segundo a fonte, estão previstas condições favoráveis à ocorrência de trovoada, aguaceiros, por vezes fortes e acompanhados de trovoada, e vento, também por vezes forte, com rajadas até 100 km/h.

Na sua página de Twitter, a Associação de Voluntários Digitais em Situações de Emergências (VOST Portugal), alerta para os cuidados a ter nestes distritos.

O Met Office, sistema nacional de meteorologia do Reino Unido, deu conta o landfall do ciclone Alpha iria ocorrer perto da Figueira da Foz, que há dois anos foi afetada pela tempestade Leslie. No entanto, deu-se na zona da Vieira de Leiria, entre as 19h15 e as 19h20 de Portugal Continental.

Como se formam os tornados de Beja e Palmela

Quantos aos fenómenos desta manhã, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) explicou que os fenómenos meteorológicos ocorridos em Beja e Palmela aconteceram devido a “células convectivas desorganizadas”, supercélulas, que podem originar a formação de tornados.

Em declarações à agência Lusa, o meteorologista Nuno Moreira explicou que as células convectivas se encontram associadas a uma depressão no oceano Atlântico, em deslocamento para nordeste e a entrar, durante a tarde desta sexta, em Portugal continental. “O que aconteceu em Beja e em Palmela foi a ocorrência de células convectivas desorganizadas, que designámos de supercélulas e que contêm no seu interior mesociclones, estrutura que pode dar origem a tornados, por exemplo”, salientou.

Os estragos e o mau tempo

https://www.facebook.com/joseccsilva/videos/10217500868064815

Tratou-se de “um fenómeno rápido de vento forte e chuva intensa, talvez um minitornado”, que começou por volta das 10h50 e passou “por cerca de 20 artérias da zona sul/sudeste da cidade”, provocando sobretudo quedas de árvores, algumas em cima de veículos, explicou o comandante dos Bombeiros Voluntários de Beja, Pedro Barahona.

Segundo o comandante, não há registo de vítimas, mas de queda de “mais de 100 árvores” e de danos em “cerca de 30 a 40 viaturas” e em infraestruturas, como telhados e antenas.

O fenómeno começou na entrada da cidade de Beja junto ao Regimento de Infantaria n.º 3 e passou por várias zonas, como o estacionamento do Parque de Feiras e Exposições e os bairros de Mira Serra, do Pelame e das Saibreiras, disse o comandante.

https://www.facebook.com/antonio.franco.718689/videos/3855127181182250

Pedro Barahona contou que o fenómeno também provocou danos na Escola dos 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico de Mário Beirão, situada junto ao parque de feiras e exposições, sobretudo no telhado e em janelas, o que levou à suspensão das aulas “por precaução” durante o dia de hoje.

Segundo fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Beja, a resposta às várias ocorrências registadas envolvem operacionais e meios de várias corporações de bombeiros, como as de Beja, Cuba, Ferreira do Alentejo e Serpa, da PSP e da GNR.

Nas redes sociais multiplicam-se os vídeos e fotografias que mostram os destroços.

https://www.facebook.com/joseccsilva/posts/10217501001748157

O Paulette e os Açores

Questionado sobre se os fenómenos estavam relacionados com a depressão Paulette, que deverá provocar um agravamento gradual do tempo nas ilhas das Flores e Corvo, nos Açores, Nuno Moreira referiu que esta não afeta o continente, estando a noroeste do grupo Ocidental açoriano.

“A depressão que está ao largo da costa portuguesa é uma depressão que foi acompanhada durante toda esta semana, quer pelo IPMA, como também do National Hurricane Centre [NHC, centro que monitoriza os furacões no Atlântico]”, sublinhou, adiantando que não foi classificada como sendo tempestade tropical, por não terem sido identificadas características trópicas suficientes.

Na terça-feira, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera informou que o furacão Paulette deveria afetar o grupo Ocidental dos Açores este fim de semana já como tempestade pós-tropical, depois de ter atingido na segunda-feira a costa das Bermudas.

Segundo informação disponibilizada na quinta-feira na página do IPMA, às 14h00 nos Açores a depressão “encontrava-se a aproximadamente 870 quilómetros a nor-noroeste da ilha das Flores, com uma pressão mínima no seu centro de aproximadamente 980 milibares”, prevendo-se uma deslocação para sul.

Nuno Moreira afirmou ainda que a tempestade que assola hoje Portugal continental não foi nomeada como tropical: “Além de o NHC não ter nomeado esta depressão como ciclone subtropical, também o IPMA, em articulação com os seus congéneres de Espanha, França e Bélgica, não nomeou esta depressão como tropical”.

De acordo com o meteorologista, era necessário verificar-se ventos com rajadas superiores a 110 quilómetros por hora (km/h) nas terras altas e superiores a 90 Km/h no resto do território nacional e ser emitido aviso laranja de vento para ser considerada tempestade tropical.

Em comunicado, o IPMA lembrou que vento vai continuar moderado a forte com rajadas até 75 km/h, podendo chegar a 90 km/h nas terras altas. Prevê-se a diminuição gradual das condições de instabilidade ao longo da tarde e a diminuição significativa da intensidade do vento no início da noite.

Segundo o IPMA, podem continuar a ocorrer fenómenos extremos de vento nas regiões Centro e Sul durante a tarde.

Notícia atualizada às 20h53 com a informação de que os distritos de Coimbra e Leiria estão sob aviso laranja.