Durante muito tempo, a interpretação de Bach em instrumentos de época foi dominada pela Europa setentrional, através de nomes como o austríaco Nikolaus Harnoncourt, os holandeses Gustav Leonhardt e Ton Koopman, o britânico John Eliot Gardiner e o belga Philippe Herreweghe. Até que, em meados da década de 1990, o maestro, cravista e organista japonês Masaaki Suzuki (n.1954, Kobe), que estudou na Holanda e foi discípulo de Koopman, começou a gravar Bach para a editora sueca BIS com o Bach Collegium Japan, por si fundado em 1990. As suas gravações (sempre para a BIS) cobrem hoje boa parte da obra de Bach (sendo de destacar a integral das cantatas, em 55 discos) e levaram a que Suzuki fosse reconhecido como um dos grandes intérpretes de Bach.

Embora tenha apenas 66 anos e mantenha um ritmo invejável – só nos últimos meses surgiram, pela sua mão, uma gravação da Sinfonia n.º 9 de Beethoven, uma 2.ª versão da Paixão segundo S. Mateus e o volume 3 da obra para órgão de Bach – Masaaki Suzuki já tem digno sucessor no seu filho Masato (n.1981, Haia), que ganhou “tarimba” sob a batuta do pai como cravista e organista nas fileiras do Bach Collegium Japan e que agora assume o primeiro plano, como solista e maestro no volume 1 de uma série dedicada aos concertos para cravo de Bach.

Os sete concertos para cravo de Johann Sebastian Bach (BWV 1052 a 1058) resultam da adaptação, realizada no final da década de 1730, em Leipzig, de material pré-existente (sobretudo concertos para violino e para oboé, todos eles perdidos), mas Bach nunca se limitava a “reaquecer sobras”: cada obra realizada a partir de peças anteriores é profundamente revista e criteriosamente adequada às particularidades da nova instrumentação e, sendo ele superlativo cravista, não podia deixar de o fazer também nestes concertos.

Bach: Concertos para cravo vol. 1: n.º 1, 2, 5 e 8; Masato Suzuki, Bach Collegium Japan (BIS/Distrijazz)

O repertório não abunda em concertos para cravo, talvez por não ser fácil fazer deste instrumento de volume sonoro modesto um parceiro equilibrado da orquestra, mas Masato Suzuki resolve o problema reduzindo esta aos efectivos mínimos: dois violinos, uma viola, um violoncelo e um contrabaixo. Esta opção permite maior clareza de articulação e adequa-se na perfeição à abordagem viva, incisiva e enérgica adoptada por Suzuki Jr. Por outro lado, não há que recear que uma “orquestra” reduzida a cinco cordas soe raquítica, pois a exemplar engenharia de som da BIS confere-lhe uma sonoridade calorosa e substancial. Resulta daqui que raramente as linhas do III andamento do Concerto n.º 1 se ouviram tão claramente recortadas e poucas vezes o III andamento do Concerto n.º 2 soou tão garboso; mas também não falta lirismo e delicadeza ao II andamento do Concerto n.º 5, porventura o trecho mais conhecido dos concertos para cravo.

Além dos sete “canónicos”, sobreviveu também um breve fragmento de um outro concerto para cravo de Bach que tem a particularidade de incluir um oboé na orquestra e que terá resultado da adaptação de três andamentos da Cantata BWV 35. Masato Suzuki usou o material da BWV 35 para “cozinhar “ um Concerto n.º 8 (BWV 1059R) que soa muito credível e que enriquece o repertório bachiano (existem outras reconstruções, mas raramente são gravadas ou tocadas). O volume 1 sugere que esta série irá rivalizar com versões consagradas destas obras, por Trevor Pinnock & The English Concert e Andreas Staier & Freiburger Barockorchester ou Ottavio Dantone & Accademia Bizantina.

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