A realizadora Marta Sousa Ribeiro fez um filme sobre a adolescência, enquanto momento de frustração emocional, e irá estreá-lo, com o título “Simon chama”, no domingo, no festival de San Sebastian, em Espanha.
“Simon chama” é um filme bastante autobiográfico, admitiu a realizadora e produtora à agência Lusa, projetando a adolescência dela na personagem Simon, um rapaz que procura um escape à família, que se está a separar.
O filme foi rodado entre 2015 e 2019, e é protagonizado pelo jovem ator Simon Langlois, ele próprio filmado na transição entre a infância e adolescência, entre os onze e os quinze anos. Na ficção entram ainda Rita Martins, Mariana Achega, Bernardo Chatillon e Miguel Orrico.
“Acompanhar o crescimento do Simon não foi intencional. Subjetivamente estava implícito, porque o projeto sempre foi sobre o crescimento de alguém. Mas nunca na vida teria pensado [na] hipótese de fazer um projeto ambicioso assim. Assumimos as circunstâncias”, explicou Marta Sousa Ribeiro.
A realizadora explica que Simon é a sua versão masculina enquanto era adolescente, que a narrativa é autobiográfica e há planos e espaços que fazem parte daquele período da vida dela.
“Dada a minha experiência e a minha idade na altura, as minhas referências eram todas pessoais, não tinha referências de vida para ir buscar coisas a outros momentos. Eu acho que para fazer um filme, tens que estar à vontade sobre aquilo que queres dizer, e eu ainda me lembrava muito bem das sensações e do espírito da adolescência, a insegurança com a vida, estar numa bolha, não saber gerir emoções”, recordou.
“Simon chama” foi produzido pela Videolotion, o projeto coletivo de produção que Marta Sousa Ribeiro cofundou juntamente com outros produtores e realizadores, e a demora no projeto deveu-se a dificuldades de produção, que foram sendo incorporadas na feitura do filme.
Uma das figuras essenciais para a existência deste filme — e que aparece na ficha técnica como produtor executivo — foi António da Cunha Telles, nome histórico do novo cinema português, a quem Marta Sousa Ribeiro foi bater à porta.
“O António da Cunha Telles foi o nosso parceiro em termos de material de som e imagem. Se não fosse ele, o filme não existia. E fez sem pedir nada em troca. Confiou no nosso trabalho. Eu não tinha currículo nenhum para lhe mostrar. Estou-lhe eternamente grata. É tipo o meu avô cineasta”, afirmou.
“Simon chama” fará estreia mundial na secção competitiva Zabaltegi-Tabakalera do festival de San Sebastian, e Marta Sousa Ribeiro, 28 anos, apresenta-se como “potencial realizadora”.
“Um filme não faz uma carreira. O difícil é chegar lá e manter. Agora é que começa tudo”, disse.
Em San Sebastian, naquela secção estão também os filmes “Noite perpétua”, de Pedro Peralta, e “A metamorfose dos pássaros”, de Catarina Vasconcelos.