É mais um caso de um treinador que tem de falar através de terceiros nas competições europeias. Mário Silva, técnico do Rio Ave, não tem o nível exigido pela UEFA para dar a cara pela equipa na Liga Europa e, por isso mesmo, foi o adjunto Augusto Gama a realizar a antevisão da visita ao Besiktas. Uma antevisão que teve pouco de complexo de inferioridade em relação aos turcos e muito de vontade de seguir em frente na competição europeia.
“Este jogo é como uma final e aí não há favoritos. Sendo uma partida disputada a uma só mão, antecipo que será equilibrada (…) É um desafio grande para o Rio Ave mas gostamos de estar nestes palcos e já não somos inexperientes nestas andanças. Queremos seguir em frente nesta eliminatória e, mesmo sabendo que vamos defrontar um adversário valoroso, iremos entrar no jogo com ambição”, explicou o adjunto vilacondense, recordando que a equipa esteve nas competições europeias quatro vezes nos últimos seis anos. Uma visão que era acompanhada por Carlos Mané, um dos nomes mais influentes do ataque do Rio Ave.
A sentir o palco onde os sonhos se realizam! ????
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— Rio Ave FC (@RioAve_FC) September 23, 2020
“Qualquer jogador sonha em chegar à fase de grupos da Liga Europa. Não há que esconder que esse é um objetivo. Vamos com tudo e vamos jogar para ganhar este jogo, queremos entrar fortes para o conseguir (…) [O Besiktas] é uma equipa que ofensivamente gosta de construir e fá-lo bem mas também defende bem. Pelo que vimos nas análises, vai ser um jogo equilibrado”, disse o avançado ex-Sporting.
Certo é que o Rio Ave não podia desde logo contar com Gelson Dala, avançado que entrou bem na eliminatória anterior e acabou por ser decisivo na eliminação do Borac, devido a uma lesão no ombro. Contra o Besiktas, os vilacondenses discutiam a terceira pré-eliminatória de acesso à Liga Europa e a passagem ao playoff — onde o adversário, já conhecido, seria desde logo o vencedor da eliminatória entre o AC Milan e o Bodø/Glimt da Noruega. Depois da vitória perante o Borac na Bósnia, com golos de Tarantini e Jambor já nos instantes finais, o Rio Ave ainda entrou em falso no Campeonato, com um empate fora frente ao Tondela.
Esta quinta-feira, Mário Silva lançava Mané, Francisco Geraldes e Lucas Piazon no onze inicial, enquanto que o ex-V. Guimarães Tyler Boyd era titular no Besiktas. Em Istambul, depressa se percebeu que seriam os turcos a tomar a dianteira da partida: o Rio Ave tinha dificuldades em aplicar uma pressão elevada e restringir a saída de bola da equipa adversária e o Besiktas tinha tempo e espaço para avançar de forma ponderada e apoiada.
Sem grande surpresa, foi o Besiktas a adiantar-se no marcador à passagem do quarto de hora inicial. Numa jogada desbloqueada a partir de uma transição da esquerda para a direita, o capitão Uysal cruzou para o segundo poste e Yalcin, praticamente sozinho, cabeceou para inaugurar o marcador (15′). Mesmo depois de marcar, a equipa turca manteve-se muito subida no terreno e podia ter aumentado a vantagem em duas ocasiões antes do intervalo, ambas evitadas pelo guarda-redes Kieszek: primeiro desviou um remate para o poste (34′), na sequência de uma perda de bola de Tarantini em zona proibida, e depois com uma boa defesa por instinto a um pontapé de Yalcin (42′). Pelo meio, o Rio Ave mal conseguia chegar ao último terço adversário e Piazon, principalmente, continuava demasiado pressionado e marcado para conseguir desequilibrar. Ao intervalo, a passagem ao playoff da Liga Europa estava muito dificultada para a equipa portuguesa.
Na segunda parte, o Rio Ave deu a ideia de querer assumir as despesas do jogo e ainda ir atrás da eliminatória. A equipa de Mário Silva pegou na bola e colocou a primeira linha de construção na zona do meio-campo, beneficiando também da postura do Besiktas, que desceu no relvado e apresentou um modo de gestão declarado logo depois do intervalo. Bruno Moreira teve uma boa oportunidade para empatar, com um cabeceamento à trave (57′) na sequência de um cruzamento de Mané vindo da esquerda — e parecia que todos os lances de ataque da equipa portuguesa apareciam dos pés do avançado ex-Sporting e daquele corredor. Mané era o mais inconformado dos jogadores vilacondenses e o único que conseguia quebrar as linhas turcas para chegar a terrenos mais avançados e desequilibrar.
Mário Silva mexeu pela primeira vez na equipa quando faltavam 20 minutos para o apito final, trocando Piazon por Diego Lopes, e tanto Geraldes como Mané estiveram perto do empate (78′ e 82′). O Rio Ave passou a procurar mais os corredores e o jogo exterior, algo que não tinha feito durante toda a primeira parte e que se revelou um dos grandes problemas dos portugueses, já que o Besiktas ocupava sempre a faixa central e não permitia espaços ao adversário. Os vilacondenses estavam melhor no jogo e aproximavam-se cada vez mais da baliza turca, no culminar de um domínio que foi visível durante o segundo tempo, acabando por empatar a partida já nos instantes finais. Mané cruzou a partir da direita, num exemplo da grande mobilidade do ataque montado por Mário Silva, e Bruno Moreira atirou para dentro da baliza (85′). O Besiktas ainda acertou no poste (90+1′) mas a decisão da eliminatória foi mesmo para prolongamento.
Depois de mais meia-hora sem golos, Rio Ave e Besiktas resolveram o jogo nas grandes penalidades: Welinton e Larin falharam para os turcos, Bruno Moreira, Aderllan, Jambor e Matheus Reis marcaram para os portugueses (2-4). O Rio Ave superou as expectativas, ultrapassou uma primeira parte pouco conseguida com um segundo tempo acima da média e assentou na fortuna dos penáltis para garantir o passaporte para a próxima fase. O sonho europeu da equipa de Mário Silva continua e encontra o vencedor da eliminatória entre o AC Milan e o Bodø/Glimt em Vila do Conde.