“Este ano, apesar do descalabro no futebol, Jorge Mendes parece estar a ter mais sucesso do que nunca”. É assim, com uma frase bastante simples, que o The New York Times começa por explicar a proeminência — e o lucro — que o agente português teve no mercado de transferências que encerrou esta segunda-feira em quase toda a Europa e que encerra esta terça-feira em Portugal e França.

Num longo artigo exclusivamente sobre Jorge Mendes, o jornal norte-americano lembra que o futebol enfrenta perdas milionárias, principalmente relacionadas com a ausência de adeptos nas bancadas e os direitos das transmissões televisivas. Só o Barcelona, perdeu 115 milhões; em toda a Europa, as quebras ascendem aos 4,5 mil milhões. Por outro lado, o empresário português acabou por ter uma das janelas de mercado mais lucrativas da carreira — não necessariamente por grandes transferências mas pela forma como substituiu jogadores que são seus clientes por outros jogadores que são também seus clientes.

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Uma explicação rápida: Rúben Dias, cliente de Jorge Mendes, saiu do Benfica para o Manchester City por 68 milhões de euros e foi substituído na Luz por Otamendi, outro cliente de Jorge Mendes, que custou 15 milhões aos encarnados. Já o Wolverhampton vendeu Matt Doherty, cliente de Jorge Mendes, ao Tottenham, e substituiu o lateral direito com Nélson Semedo, outro cliente de Jorge Mendes. Além disso, a equipa de Nuno Espírito Santo — também ele parte da carteira do empresário — viu Diogo Jota, cliente de Jorge Mendes, partir para o Liverpool por cerca de 50 milhões de euros. E o que é que o clube inglês fez com parte desse encaixe? Contratou Vitinha e Fábio Silva, duas perólas da formação do FC Porto e ambos clientes de Jorge Mendes. No meio de tudo isto, Mendes ainda colocou James Rodríguez no Everton, onde o colombiano parece estar a começar uma nova vida depois de anos de algum marasmo no Real Madrid.

“Parece que a crise não lhe toca. Podemos dizer que a rede de poder económico de Jorge Mendes resistiu ao coronavírus. É como se ele tivesse a vacina”, explica Pippo Russo, autor de um livro sobre o empresário de 54 anos, ao NY Times. O artigo recorda ainda as comissões chorudas que o agente consegue retirar dos negócios: as mais recentes dizem respeito à ida de Fábio Silva para o Wolves, onde Mendes ficou com um quarto dos 40 milhões que os ingleses pagaram, e os quase 40 milhões que retirou da contratação de João Félix por parte do Atl. Madrid no verão passado. Com Trincão, que foi para o Barcelona, lucrou sete milhões — sendo que foi contratado externamente para agilizar as conversações e que os verdadeiros empresários do jovem jogador nem sequer foram incluídos no negócio.

Jorge Mendes pode ganhar comissão de sete milhões com transferência de Trincão para o Barça

O jornal norte-americano recorda ainda que Jorge Mendes esteve envolvido na ida de Carlos Vinícius do Benfica para o Tottenham e que a esfera de influência do empresário é feita também a partir dos treinadores, já que Nuno Espírito Santo, José Mourinho, Paulo Fonseca e Aitor Karanka, entre outros, são todos agenciados pela Gestifute — o que acaba por fazer a diferença na hora de colocar jogadores. No Wolverhampton, a importância do agente é ainda maior e mais larga: a Fosun International, o conglomerado chinês que é dono do clube, tem uma participação minoritária precisamente na Gestifute.