O resultado final não foi além do nulo mas, no passado domingo, Kylian Mbappé cumpriu o sonho de defrontar pela primeira vez o seu ídolo de infância, Cristiano Ronaldo. Mais do que isso, teve pelo menos dois momentos de confraternização com o português, sendo que um deles abriu uma espécie de debate sobre se estaria ali em causa uma passagem de testemunho entre quem dominou a última década e meia de futebol mundial e quem se prepara para dominar a próxima década e meia. Hipótese 1, improvável: a conversa versou sobre uma possível ida de Ronaldo para Paris. Hipótese 2, altamente improvável: o francês poderá ter sabido mais pormenores sobre a formação de Turim. Hipótese 3, muito possível: Mbappé recebeu conselhos do capitão da Seleção.

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Camavinga, a nova coqueluche do futebol gaulês, ficou com a camisola número 7 e prometeu não lavar aquela peça de equipamento desejada por tantos outros. No entanto, foi em Mbappé que se concentraram as atenções, até por ser a grande esperança do conjunto de Didier Deschamps para fazer algo que ninguém conseguiu contra Portugal: desequilibrar. Esse era o grande desafio do avançado frente à Croácia, depois de algumas exibições pelos bleus aquém das expetativas. Daí advém também um dos problemas que são apontados ao campeão mundial, ao invés do que acontece a nível de meio-campo, que teria uma importância mais relevante no jogo em Zagreb.

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“Modric é um jogador muito importante. Com ele em campo a Croácia é muito forte pois ele controla bem todos os momentos do jogo. Dá incentivo a toda a equipa e a Croácia chegou à final do Mundial muito graças a Modric”, destacou o campeão mundial como jogador e selecionador, a propósito do reencontro com o adversário na final de Moscovo em 2018. O ponto mais forte dos balcânicos, o meio-campo com o jogador do Real Madrid, iria chocar com um dos pontos mais fortes dos franceses, o meio-campo ocupado por Kanté numa posição mais recuada tendo em zona de construção Paul Pogba e Rabiot, como aconteceu com Portugal. Mas a par disso teria de aparecer o melhor das unidades ofensivas num encontro determinante para o futuro croata na Liga das Nações. De forma inevitável, apareceram. E foi assim que a França apagou 20 minutos falhados para ganhar em Zagreb.

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Com um meio-campo renovado onde entraram N’Zonzi e Tolisso (a qualidade de opções para o setor permitem esta gestão a Deschamps), foram os avançados que começaram por dar nas vistas pelas melhores e piores razões: numa bola perdida na área após cruzamento de Mendy cortado para a frente, Griezmann fez uma receção orientada para preparar o pé esquerdo e fuzilar Livakovic (8′); numa grande jogada coletiva iniciada e concluída por Mbappé após assistência de Martial, o avançado do PSG fez o mais complicado e atirou ao lado com a baliza à mercê (15′). Numa toada de maior expetativa e a jogar no erro adversário para explorar a velocidade nas transições, a França entrou melhor mas deixou que a Croácia se começasse a acercar com perigo da baliza de Lloris, com uma intervenção por instinto que evitou o empate de Pasalic num remate à queima roupa (30′). E seria preciso esperar pelos descontos antes do intervalo para Lenglet, de cabeça após livre lateral, voltar a criar perigo.

No segundo tempo, a história do encontro mudou, muito por culpa da entrada em campo de Kovacic que deu uma outra liberdade para Modric pensar o jogo e ganhar metros no seu raio de ação. E mudou de forma vincada, não sendo exagero dizer que nos 25 minutos iniciais do segundo tempo a França chegou uma vez com relativo perigo ao último terço dos balcânicos. O acerco à baliza de Lloris não teve muitas oportunidades mas foi constante e acabou por conhecer resultados práticos por Vlasic, que recebeu sem oposição na área e rematou com a parte externa do pé para um golo que deixou o guarda-redes gaulês pregado ao relvado (64′). Problema? Não teve continuidade. E a França, já com Pogba em campo (que obrigou Livakovic a uma grande defesa com os pés), conseguiu ainda voltar para a frente do marcador, com Mbappé a desviar de primeira um cruzamento da esquerda de Digne para o 2-1 (79′). Tal como Ronaldo, quando a equipa precisou, ele apareceu. E aí têm um ponto em comum.