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Título: “Almeida, um rosa com estilo”. Lead: “Vitória de Ulissi por meia roda frente ao português, que decide celebrar o décimo dia na liderança tentando ganhar ao sprint“. A imprensa portuguesa tem dado especial destaque à prestação de João Almeida no Giro, da história contada por amigos e familiares (que se encontram em Itália, onde na primeira etapa que viram em Cesenatico só lamentaram não poderem abraçar o filho no final) à projeção do que poderá ser a médio prazo no ciclismo. No entanto, os meios internacionais estão também cada vez mais rendidos à prestação do português, desta feita com o El País a fazer rasgados elogios ao jovem corredor, o inesperado herói “que não se sabe se está empenhado em ganhar ou deixar marca com a sua personalidade”.

O sonho é cada vez mais real: João Almeida acaba em segundo, faz quarto pódio em etapas e reforça liderança do Giro antes do contrarrelógio

“João Almeida não pensa no dia seguinte, no qual pode aumentar ainda mais a liderança. Pensa no agora. Segue a sua inspiração e não afoga o seu desejo no medo, como os mestres do velho ciclismo aconselham. Em vez de respirar devagar e seguir na roda, prefere ser protagonista. Tenta ganhar a etapa e colorir ainda mais a corrida com a sua energia. A sua equipa puxa com força e os sprinters não chegam. Não ganha mas termina em segundo. Seis segundos de bonificação e um nome, o seu, que dia após dia os adeptos pronunciam com mais respeito”, destacou a publicação espanhola depois do quarto pódio em 2020 do corredor da Deceuninck Quick-Step.

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Essa é de facto a grande marca de João Almeida, um líder fora do comum no Giro. Essa foi também uma frase que ficou entre os comentários sempre entusiastas do Eurosport, que na chegada a Monselice desta sexta-feira foram ao rubro com a possibilidade de ser o português a ganhar a etapa: quantas vezes se vê um camisola rosa, quase no final da segunda semana da Volta a Itália, a tentar ir buscar uma vitória numa etapa onde deveria estar a defender-se dos ataques nas pequenas subidas dos últimos quilómetros? Poucas ou nenhumas. Também por aqui, o corredor de A-dos-Francos faz a diferença. E aquilo que parecia (e ainda hoje parece) um sonho, a hipótese de chegar à terceira semana a lutar pela vitória final, começa devagarinho a tornar-se um pouco mais real.

Mantenho a camisola rosa a cada dia e talvez comecem a pensar que a posso manter até final. Talvez não… Amanhã será o 11.º dia com esta camisola, será muito especial começar com a rosa. Mal posso esperar para começar, ainda para mais na última posição, por isso será interessante e estou entusiasmado. A última semana será muito complicada”, referiu após a etapa de sexta-feira.

Seguia-se o contrarrelógio este sábado que juntava Conegliano a Valdobbiadene na distância de 34 quilómetros, algo que João Almeida também nunca tinha experimentado nesta época de estreia no World Tour e em grandes Voltas de três semanas. “Nunca fiz um contrarrelógio tão longo, por isso será novo para mim. Se estiver num dia bom, talvez fique e até aumente. Se tiver um dia mau certamente que vou perder tempo para os outros candidatos. Vamos ver como as pernas estão mas vamos dar tudo o que temos”, admitiu. Entre esta 14.ª etapa e a subida a Piancavallo no domingo muito se iria decidir neste Giro e com atenções centradas no português.

E o início não podia ser melhor, com apenas mais sete segundos no primeiro ponto intermédio depois da subida em relação a Filippo Ganna onde passou em quarto e a ganhar tempo a todos os principais adversários na geral, entre Kelderman, Pello Bilbao, Fuglsan, Nibali ou Pozzovivo. Houve até um episódio curioso, com um espetador a tentar tirar uma fotografia numa curva na subida e o português a cortar a eito, concentrado no caminho e com olhos focados na fase final dessa parte do percurso sendo muito aplaudido pelos muitos espetadores e vendo logo no início uma bandeira portuguesa na estrada (e que entretanto se tornou uma regra). Poucas dúvidas já existiam de que a rosa continuaria com o português e assim foi: João Almeida teve mais uma demonstração de classe em nova vitória de Filippo Ganna, a terceira neste Giro e a segunda noutros tantos contrarrelógios.

João Almeida terminou na sexta posição (44.41), ficando agora com 56 segundos de avanço sobre Wilco Kelderman, o segundo classificado. Mas o 12.º dia com a camisola roda teve outro ponto muito importante para a etapa de montanha deste domingo: à exceção do holandês, todos os perseguidores têm agora uma desvantagem superior a dois minutos, o que permite outro tipo de gestão para o português na subida a Piancavallo. Ganna ganhou com o tempo de 42.40 (e a Ineos mesmo sem Geraint Thomas lá vai fazendo o seu caminho de redenção), seguido do companheiro Rohan Dennis (43.06) e de Brandon McNulty (UAE Team Emirates, 43.49). Na geral, Kelderman manteve o segundo lugar agora a 56 segundos, Pello Bilbao também continua em terceiro mas a 2.11 e McNulty subiu para o quarto posto a 2.23. Nibali está em quinto a 2.30, Pozzovivo desceu para sétimo a 2.33 e Jakob Fugslang passa a ocupar o 12.º posto a mais de quatro minutos da liderança.