É um volte-face nos Açores. O Chega está disposto a chumbar uma maioria de direita no Parlamento regional se o PSD não ceder e não satisfazer as exigências do partido. As negociações ainda decorrem e não há decisões fechadas, é certo, mas as posições estão cada vez mais extremadas: ou Rui Rio cede ou o PSD não contará com o voto do partido de André Ventura.

“Nós não somos as meninas do Rui Rio”, diz ao Observador José Pacheco, secretário-geral do Chega/Açores e recém-eleito deputado açoriano, que acusa o líder do PSD de absoluta intransigência. “Não somos reféns do PSD, quando muito somos parceiros de negociações. Mas parece que há uma parede de betão”, lamenta.

O responsável do Chega garante que as negociações com o José Manuel Bolieiro, líder do PSD/Açores, têm decorrido com normalidade, com aproximações e convergências. No entanto, no momento de fechar o acordo, o processo encalha na sede nacional do PSD. “Rui Rio está a empurrar com a barriga, não consigo perceber”, diz.

As quatro condições do Chega para viabilizar a maioria de direita nos Açores — reduzir os beneficiários do Rendimento Social de Inserção, aprovar um plano contra a corrupção, fazer uma auditoria às contas do Governo açoriano e, a nível nacional, ter o apoio de Rui Rio para abrir um processo de revisão constitucional — mantêm-se. Mas esta última, no entanto, já mereceu a rejeição pública da direção nacional do PSD, que disse com todas as letras que jamais apoiará a iniciativa de André Ventura. Sem isso, continuam a jurar a pés juntos os responsáveis do Chega, não há apoio a um eventual governo regional de José Manuel Bolieiro.

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A posição de André Ventura — que José Pacheco diz partilhar — já motivou uma demissão no Chega/Açores e outro momento de evidente tensão no partido. Na noite em que PSD, CDS e PPM anunciaram o acordo para formar governo, Carlos Furtado, líder do Chega/Açores, precipitou-se e anunciou o apoio do partido àquela solução de direita. Acabou publicamente desautorizado por André Ventura e, desde aí, não mais falou. O Observador tentou falar com Furtado, mas não recebeu qualquer resposta até ao momento de publicação deste artigo.

“Sou um homem de fé”

O futuro político dos Açores continua, assim, uma grande incógnita. Na sexta-feira e no sábado, Pedro Catarino, representante da República nos Açores, vai ouvir os partidos e decidir a quem dar a iniciativa de tentar formar governo na região, se ao socialista Vasco Cordeiro se a José Manuel Bolieiro, sendo que, até ao momento, não há garantias de qualquer um dos partidos tenha maioria para governar.

O Chega, com dois deputados, seria sempre decisivo nessa maioria de direita. Ao Observador, José Pacheco não dá por terminadas as negociações e diz-se disposto a continuar a conversar. “Sou um homem de fé”, sugere.

E se não for possível chegar a um consenso com o PSD e o Chega se vir confrontado com a decisão de salvar uma maioria de direita ou contribuir para novas eleições nos Açores? Sem cedências, será a segunda opção, assegura José Pacheco. “Se tivermos de chumbar, chumbamos. O Chega não está à venda.”