Cerca de mil trabalhadores da Administração Pública manifestaram-se esta sexta-feira em frente à Assembleia da República (AR) pelo aumento salarial de 90 euros, pela valorização da carreira e outras reivindicações que querem ver respondidas no Orçamento do Estado.
A manifestação convocada pela Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública reuniu participantes de todo o país, que se juntaram pelas 14h30 na Rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa, partindo em direção à AR, com uma paragem junto ao Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública, gritando, entre outras palavras de ordem, “ministra, escuta, os trabalhadores estão em luta” e “as carreiras profissionais são fundamentais”.
Já na AR, os manifestantes aprovaram, com aclamação, uma moção intitulada “Frente Comum em Luta”, para ser distribuída pelos vários grupos parlamentares, com as suas reivindicações, entre as quais o aumento de 90 euros para todos os trabalhadores, a partir de 1 de janeiro, o aumento do salário mínimo nacional para 850 euros e 35 horas semanais de trabalho.
O coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana, afirmou, em declarações aos jornalistas, que a manifestação tinha como objetivo “exigir que, neste momento, a Assembleia da República, estando a discutir o Orçamento do Estado para 2021 na especialidade, o faça tendo em conta a necessidade de valorização dos salários, dos direitos e dos serviços públicos, entre outros, o urgentíssimo reforço do Serviço Nacional de Saúde”.
O dirigente sindical não descartou outras formas de luta, caso o Governo se recuse a negociar com a Frente Comum.
“Em cima da mesa estarão todas as formas de luta. A frente comum, como é conhecido, tem sido bastante responsável nas formas de luta que convoca, não está nada fora da mesa, seguramente”, garantiu.
Por sua vez, a secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha, defendeu que “só com o aumento dos salários generalizado”, o “aumento do salário mínimo em valor significativo”, o “fim da precariedade e o investimento público e nos serviços públicos” é que se poderá garantir o futuro do país.
Garantir a resposta para o presente e garantir o futuro do nosso país, o desenvolvimento do nosso país, com o aumento do consumo, com o incremento do mercado interno, o aumento da produção nacional com a recuperação de setores estratégicos para a recuperação da nossa economia, sublinhou a dirigente da central sindical.
Também presente na manifestação esteve o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa, em solidariedade com aqueles trabalhadores, “que há cerca de 10 anos que não conhecem qualquer aumento salarial”.
Jerónimo de Sousa sublinhou que os “direitos defendem-se exercendo-se” e que esta foi a forma encontrada por aqueles trabalhadores, “e bem”, para pedir que o Governo se disponha a negociar com eles.
A manifestação desta sexta-feira não foi acompanhada por um pré-aviso de greve e, por isso, contou, maioritariamente, com a presença de sindicalistas vindos de vários pontos do país e de vários setores da função pública, como a saúde, educação, ou segurança social.
Em representação do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas, Ana Amaral lamentou à Lusa a inexistência de aumentos salariais na função pública e destacou o papel dos trabalhadores do setor da saúde, “que têm estado na linha da frente do combate à pandemia e têm desenvolvido o seu trabalho de forma consciente, embora com muitas dificuldades”.
O líder da Federação Nacional dos Professores (FENPROF), Mário Nogueira, que já tinha estado esta manhã no Ministério da Educação para exigir uma reunião negocial, também marcou presença na ação de luta da Frente Comum.
“Na educação estamos a atravessar uma fase muito complicada, quer por falta de diálogo por parte do ministério, que quase há 10 meses não reúne, não negoceia para resolver problemas e estamos num momento em que, como sabemos, quer ao nível das questões orçamentais, agora o Orçamento do Estado, questões de carreiras, de precariedade, de aposentação, tudo isso está por resolver e não há soluções a vista”, disse à Lusa o dirigente sindical.