O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) considerou que a greve desta sexta-feira teve o êxito “desejado” de colocar no topo da agenda o bloqueio ao diálogo e à negociação imposto pelo ministro da Educação.
Numa declaração a partir de Coimbra, Mário Nogueira disse que era importante “colocar na agenda política o bloqueio completo, a desvalorização absoluta da negociação, o desrespeito tremendo e a desconsideração pelos professores”. “As coisas como estão, desde o envelhecimento da classe, o ministério estar a cortar o salário a professores doentes oncológicos, os problemas com os níveis de precariedade, que voltaram a aumentar, com o desgaste, as condições e os horários de trabalho está tudo aí por resolver“, frisou o dirigente sindical.
Segundo o secretário-geral da Fenprof, existe uma falta de professores “que é uma incompetência completa do ministério, que está a levar que alunos não tivessem uma aula em algumas disciplinas desde o início do ano letivo, só por incapacidade e incompetência” para resolver a situação.
Mário Nogueira salientou ainda os problemas relacionados com a pandemia da Covid-19, em que as “escolas são tratadas como espaços de segunda categoria, pois o distanciamento físico não existe nas salas, a limpeza e desinfeção permanente e contínua não existe por falta de pessoal auxiliar e os rastreios, tão necessários, não são feitos“. “Os professores estão perfeitamente conscientes de que aquilo que está a ser feito por Tiago Brandão Rodrigues é zero em relação à resolução dos problemas e, portanto, não podia haver uma manifestação, também não era tempo de um abaixo-assinado, e optou-se por uma greve”, explicou.
Greve “com números, nalguns casos, acima do habitual”
Salientando algumas contingências letivas, que impediram durante a tarde o apuramento da adesão à greve, o dirigente sindical considerou que a greve teve o “êxito desejado e foi muito importante”, com mais de 200 escolas encerradas ao nível do jardim de infância e do 1.º ciclo do ensino básico, “com números, nalguns casos, acima do habitual”.
“Tivemos um momento importante de reclamação que é também de chamada de atenção e que, principalmente, é ponto de partida para outras ações”, referiu Mário Nogueira, adiantando que a Fenprof se vai reunir a 16 e 17 de dezembro para propor novas iniciativas, caso se mantenha o “bloqueio em curso”.
O objetivo da greve era colocar “na agenda política, social e mediática um problema gravíssimo que está a acontecer na educação e que tem a haver com o bloqueio ao dialogo, negociação e arrastamento dos problemas”.
“Milhares de alunos não têm aulas desde o início do ano letivo”, diz Mário Nogueira
Mário Nogueira acusou o Governo de não querer dialogar e garante que há milhares de alunos sem aulas em todo o país. Em declarações à SIC, o secretário-geral da Fenprof), que esteve a acompanhar a greve nacional desta sexta-feira a partir de Coimbra, descreveu uma “situação de completo embargo no Ministério da Educação” no que à resolução dos problemas diz respeito.
Desde a tomada de posse do ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues, no final de outubro de 2019, “não houve qualquer processo negocial”, acusa Mário Nogueira, reiterando a existência de problemas antigos no sector, como o envelhecimento dos professores, e garantindo que “milhares de alunos não têm aulas desde o início do ano letivo devido à falta de professores.”
Mário Nogueira acusou ainda o ministro da Educação de não ser um democrata, considerando-o incapaz de dialogar ou de resolver problemas. “Num Governo de uma sociedade que se rege pelas regras da democracia era natural haver um democrata à frente de um ministério como o Ministério da Educação, mas, pelos vistos, não é o que acontece”, afirmou aos jornalistas à frente da Escola Secundária Avelar Brotero, em Coimbra.
“Mais de mil escolas já têm situações de contágio, mas como não há um rastreio acaba por se encobrir e diz-se que não são espaços privilegiados de contágio”, notou, defendendo que os professores com mais de 50 anos sejam incluídos na segunda fase da campanha nacional de vacinação contra a Covid-19.
Convocados quase 150 mil professores e educadores para greve nacional desta sexta-feira
Sindicato de Professores da Grande Lisboa acusa Governo de impor bloqueio negocial “inédito em democracia”
O Sindicato de Professores da Grande Lisboa (SPGL) acusou o Ministério da Educação de impor um bloqueio negocial “inédito em democracia”, justificando assim a greve de docentes que está hoje a decorrer a nível nacional. “Acho que isto é inédito em democracia, um ministro que se recusa a falar com as organizações mais representativas dos professores no sentido de resolver os seus problemas mais prementes”, afirmou o presidente do SPGL, José Costa, que falava aos jornalistas à porta da Escola Básica Marquesa de Alorna, em Lisboa.
Para o presidente do SPGL, esta greve é particularmente importante para expor a indisponibilidade do Governo para ouvir os sindicatos, por um lado, a persistência dos professores. “Pelo menos, tem este lado positivo de conseguir pôr na agenda e mostrar à opinião pública que mesmo num momento destes, tão complexo, os professores estão disponíveis para lutar pelos seus direitos”, disse José Costa.
Também a secretária-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), Isabel Camarinha, que se juntou aos representantes dos professores de Lisboa, criticou a posição do executivo, classificando-a como incompreensível e inaceitável. “Estar a ser vedado o diálogo é completamente inadmissível num Estado democrático. O Governo tem a obrigação de reunir com os sindicatos, de dialogar e de identificar soluções para os problemas que estão identificados e que exigem mesmo soluções urgentes”, afirmou a líder da CGTP.
Quase 150 mil professores e educadores de infância foram convocados pela Fenprof para a greve nacional desta sexta-feira. Entre as reivindicações da greve às aulas presenciais e ao ensino à distância estão medidas como a alteração dos atuais requisitos da aposentação, a aprovação de um regime de pré-reforma e a recuperação dos anos de serviço congelado.
A julgar pelos resultados do inquérito divulgado esta semana pela Fenprof, que revelou que 88,3% dos inquiridos consideram que é preciso continuar a lutar, a adesão à greve deverá ser elevada. Não existem, no entanto, números oficiais. Mário Nogueira afirmou esta sexta-feira não espera que esta seja “a mãe de todas as greves”.
Sem conseguir ainda fazer um balanço da greve, José Costa antecipou que a adesão seja menor que habitualmente, mas adiantou que algumas escolas, sobretudo do 1.º ciclo e pré-escolar, encerraram.
Na Escola Secundária 2º 3º Ciclo do Ensino Básico Clara De Resende, no Porto, alguns professores não deram aula, ainda que os alunos continuem a entrar normalmente na escola, tal como constatou a Rádio Observador. Alguns alunos foram avisados da greve pelos próprios professores, outros continuam com o horário escolar inalterado. À porta desta escola estão professores e dirigentes da Fenprof que garantiram aos jornalistas que é esperada uma “boa adesão” à greve apesar de os números variarem de escola para escola. Ainda assim, alguns pais admitiram à Rádio Observador que criaram grupos no Whatspp e nas redes sociais para se irem informando mutuamente. Estes pais dizem compreender os motivos da greve, mas ressalvam alguns constrangimentos.
Já na escola Escola Básica Eugénio dos Santos, em Lisboa, não se registam até ao momento grandes perturbações. Situação idêntica acontece na Escola Secundária Rainha Dona Leonor, também na capital, onde as aulas parecem estar a decorrer com alguma normalidade, o que sugere pouca adesão à greve por parte desses professores.
A Escola Marquesa de Alorna também esteve aberta durante a manhã, mas José Costa explicou que à tarde o cenário pode mudar devido à atual divisão dos docentes na maioria das escolas entre os dois períodos. “Por exemplo, o número de professores que está presente nesta escola de manhã não é o que estará logo à tarde e portanto o balanço não pode ser feito só com esses números”, justificou.
Alentejo. Greve dos professores com escolas a “meio gás” e algumas sem aulas
Escolas a funcionar a “meio gás” e algumas sem aulas são consequências no Alentejo da greve, revelou o presidente do Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS). “Devido ao desfasamento de horários nas escolas”, no âmbito das medidas contra a pandemia de Covid-19, “ainda nos falta receber muitos dados do Alentejo, mas temos professores em greve em muitas delas” e “algumas sem aulas”, disse à agência Lusa o presidente do SPZS, Manuel Nobre.
O mesmo responsável indicou as escolas básicas Manuel Ferreira Patrício, em Évora, e a de Cortiçadas de Lavre, no concelho de Montemor-o-Novo, no mesmo distrito, assim como o jardim-de-infância local, como exemplos de estabelecimentos de ensino “sem aulas”, porque “100% dos docentes” fez greve. “Temos também o Jardim-de-Infância de Santo António, em Évora, com 100% dos colegas a fazer greve”, acrescentou, aludindo ainda a outras escolas pela região onde professores paralisaram, mas sem interromper as atividades letivas nos estabelecimentos.
O Centro Escolar de Montemor-o-Novo, com “60% de adesão”, as escolas básicas de 1.º ciclo (EB1) da Cruz da Picada e Bairro de Almeirim, em Évora, que registam “44%” e “33%”, respetivamente, são alguns exemplos. “A EB1 de Castelo de Vide (Portalegre) tem dois dos oito professores estão em greve, ou seja, 25%, a da Mina de São Domingos, em Mértola (Beja), regista 33%, tal como a Escola Básica de 2.º e 3º ciclos de Alvito (Beja)”, indicou.
Para o presidente do SPZS, o facto de haver docentes a aderir hoje à paralisação “é um sinal” de que “o Governo não pode continuar a ignorar por mais tempo os pedidos de reunião e de negociação coletiva”. “Já fizemos muitos pedidos de reunião e a última vez que reunimos com o ministro da Educação [Tiago Brandão Rodrigues] foi em janeiro, há quase um ano”, criticou, acusando o ministro da tutela de “falta de cultura democrática”.
Manuel Nobre argumentou que “os problemas estão a avolumar-se nas escolas”, nomeadamente os subjacentes ao protesto de hoje, como “questões ligadas a esta situação de pandemia” da Covid-19. “Temos relatos de escolas na região onde não há higienização como deveria haver. Em algumas, os auxiliares só fazem uma higienização ao fim do dia, porque não conseguem fazer mais, e outras em que são alunos e professores a fazerem essa limpeza”, pois, “não há auxiliares”, notou o presidente do SPZS, sem especificar quais os estabelecimentos de ensino.
Turmas com demasiados alunos, o que leva a que não seja cumprido o distanciamento físico exigido nas salas de aulas, devido à Covid-19, assim como a falta de 235 professores na região, foram outras das críticas deixadas pelo SPZS.