O candidato presidencial apoiado pelo PCP, João Ferreira, admitiu esta sexta-feira, em entrevista à Rádio Observador que daria posse como Presidente da República a um Governo apoiado pelo Chega, já que apenas teria em conta “os resultados eleitorais” e a “composição do Parlamento” no momento de dar posse ao primeiro-ministro. Por outro lado, diz que “as funções do Presidente não cessariam” com a nomeação do primeiro-ministro e “se um Governo iniciasse funções afrontando a Constituição, demitiria esse Governo”.

Quando questionado sobre um alto dirigente do PCP ter dito no Congresso do partido que era necessário derrubar o capitalismo à força, João Ferreira disse que na condição de Presidente da República pretende “fazer cumprir” a Constituição. Na insistência, sobre se sentia incomodado com a referência, João Ferreira disse que, em abstrato “houve momentos da história em que foi preciso recorrer à força e que corresponderam a avanços do ponto de vista democrática”, dando o exemplo do 25 de Abril.

Sobre a recusa de pertença à NATO, João Ferreira diz que, ao contrário de outros Presidentes da República, vai cumprir a Constituição, que prevê a “dissolução dos blocos políticos militares”. O candidato presidencial diz que o Presidente “não deve ter preferências” em matéria de relações externas, mas que “não seguiria as opções do Presidente atual” em matéria de convites a chefes de Estado e relações que promoveu com determinados países.

Questionado sobre se Kim-Jong Un é um democrata, João Ferreira diz que o seu conceito de democracia é “muito diferente” do daquele país. Mas, como Presidente, diz que “Portugal deve tendencialmente estabelecer relações com todos os povos do mundo, respeitando a vontade de cada um deles”. Apesar de visões diferentes, isso não impede que se estabeleçam essas relações. João Ferreira não defende o regime político da Coreia do Norte, mas admite estabelecer relações com o país liderado por Kim-Jong Un para “diversificar as relações internacionais.

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Relativamente à Bielorrússia, João Ferreira diz que “não acompanha” o posicionamento da maioria do Parlamento Europeu, que “entende declarar vencedora relativamente àquelas eleições uma determinada candidata”. O candidato presidencial

O candidato presidencial diz — sobre o apoio do PCP ao Governo PS — que “a ação governativa não se esgota na aprovação de orçamentos” e lembra que o PCP “já votou a favor, já se absteve e já votou contra”. E, ignorando que o PCP foi fundamental para viabilizar quatro orçamentos pelo voto a favor e um quinto pela abstenção (tendo só votado a favor no suplementar, com a aprovação já assegurada pelo BE), diz que o próprio PSD “já votou contra e a favor”.

Relativamente ao estado de emergência, João Ferreira diz que “é possível aplicar medidas de proteção da saúde” sem limitar direitos fundamentais com o decretar de emergência. O candidato presidencial diz que há “medidas contraproducentes ou pouco eficazes”, dando o exemplo dos horários limitados nos centros comerciais que levam as pessoas a concentrarem-se em poucas horas nesses espaços.

Sobre a TAP, João Ferreira diz que “atacar a TAP do ponto de vista da operação, da sua dimensão e dos seus trabalhadores pode significar deixar a companhia de uma situação de fragilidade tal, deixando-a à mercê de um gigante europeu”.

João Ferreira diz que a saída de Portugal da União Europeia “não é um assunto que esteja em cima da mesa” e que o PCP não o defendeu.

O candidato presidencial diz ainda que “há muito tempo que deviam ter ocorrido modificações” no SEF que garantissem os direitos de quem chega ao país. João Ferreira “admite a reflexão” sobre qual deve ser o futuro do SEF, sem excluir à partida a extinção deste serviço. Sobre a continuidade de Eduardo Cabrita em funções, João Ferreira diz que “não é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma”. Ou seja: a saída não é a solução. Admite que o diretor da PSP ter ido a Belém causou estranheza, mas diz que foi depois “posto no lugar” pelo ministro da Administração Interna.

Sobre ser candidato a tudo, João Ferreira diz que “a pergunta é muito ingrata” e diz que o trabalho que tem feito nos vários cargos é público e que pode ser “escrutinado”.