O líder do PSD, Rui Rio, voltou esta quarta-feira a acusar o ministro da Educação de não resolver o problema da falta de professores nas escolas, defendendo que a situação “é dramática” e “insustentável” a curto prazo.
“Chegamos ao Natal, terminou o primeiro período, e há alunos que não tiveram uma única aula de determinada disciplina”, lamentou, acrescentando que tal põe em causa o futuro desses jovens e do país.
“O ministro ora nega, ora diz que a culpa é da pandemia, mas a culpa não é da pandemia, ela pode ter um nível de responsabilidade qualquer, mas a verdade é que isto, já se arrasta para trás. E arrasta-se em larga medida pela falta de professores que já se faz notar”, rematou, acrescentando que “é gravíssimo em termos do desenvolvimento do país”.
No final de um encontro com a Federação Nacional de Educação (FNE), Rio deixou claro que a culpa não é da pandemia de Covid-19, salientando que a falta de atratividade da profissão e o envelhecimento do corpo docente são problemas que afetam o ensino há vários anos.
Para o social-democrata, esta situação “dramática” carece de uma resposta urgente, sob pena de se tornar insustentável a curto prazo.
Há perante nós um problema que já devia estar resolvido e que tem de ser resolvido porque a breve prazo ele é insustentável”.
Lamentando a postura adotada pelo ministro no debate parlamentar de urgência pedido pelo PSD sobre educação, o líder do maior partido da oposição assinalou a precariedade como uma das causas para a falta de atratividade da profissão de docente que enfrenta ainda um problema de envelhecimento. De acordo com o social-democrata até 2030, 80% dos docentes vão reformar-se.
“Se se oferece a alguém um horário relativamente reduzido para ele se deslocar a não sei quantos quilómetros de sua casa, não vou dizer que paga para trabalhar, mas anda lá perto disso”, acrescentou, salientando que assim é difícil atrair pessoas para a carreira de docente que é “absolutamente estratégica” para o país.
Assinalando a distorção entre classes profissionais no país, Rio recordou que o Governo decidiu aumentar juízes e procuradores da República, quando “um professor no topo da carreira, e são muito poucos que lá chegam, ganha praticamente o mesmo, senão menos “do que um juiz que inicia a carreira”.
Para o presidente do PSD, as declarações do ministro na terça-feira, acusando o partido de fazer “chicana política” e não dar contributos, são “uma prova de fraqueza”, idêntica à demonstrada pelo novo ministro das Finanças.
O que o ministro [da Educação] diz é uma prova de fraqueza. Se reparar bem o ministro das Finanças faz a mesma coisa, qualquer problema que existe ataca o PSD (?) quando não sabem responder atiram responsabilidades para os outros, há coisas ainda que atiram responsabilidade para o governo PSD de alguns anos, sendo certo é que esta segunda legislatura do PS”.
“Nós não fazemos demagogia. Resolver o problema demora muitos anos. Um problema que se acumula durante anos e anos, não fica resolvido num espaço de doze meses nem em 24 meses, mas quanto mais depressa melhor e tudo começa, na minha opinião, pela dignificação da função de professor, seja em que nível for mais, particularmente, no ensino básico e secundário”, rematou.
Rui Rio reuniu esta quarta-feira, no Porto, com o secretário-geral da FNE, José Dias da Silva, que alertou para a necessidade de valorização da carreira docente.
Sem essa valorização, a FNE considera que não haverá jovens a prosseguir a carreira de docente, pelo que tudo deve ser feito no sentido de garantir a atratividade da profissão
É preciso tomar medidas, não podemos ficar à espera de 2030 para ficar sem professores”.
Estas reuniões inserem-se num conjunto de iniciativas que a FNE tem vindo a levar a cabo com os Partidos representados na Assembleia da República, de forma a manifestar preocupações com vários temas ligados às políticas de Educação que o Governo tem levado a cabo e demonstrar a sua disponibilidade para um diálogo regular que permita partilhar as perspetivas, atividades e objetivos para o setor.