Os primeiros minutos apontavam para tudo menos isso, com o River Plate, um dos principais dominadores do futebol sul-americano dos últimos anos sobretudo desde que Marcelo Gallardo assumiu o comando técnico, a ter boas aproximações, oportunidades e Wéverton a brilhar entre os postes. No entanto, foi apenas uma entrada em falso do Palmeiras. Que, pouco depois, provocaria várias entradas em falso aos argentinos. E, no final, o triunfo por 3-0 conseguido pelo conjunto Abel Ferreira até poderia ter outra expressão, sobretudo por ter jogado meia hora com mais unidade. Contas feitas, há mais um português com pé e meio na final da Taça dos Libertadores.

A partir de agora, estamos no ano de dois mil e Jesus (a crónica da final da Libertadores)

Rony, pouco antes da primeira meia hora, inaugurou o marcador em Avellaneda aproveitando uma saída com os pés de Armani em descoordenação com o setor ofensivo para rematar e ver a bola sofrer ainda um desvio antes de trair o guarda-redes argentino (27′). O avançado ainda teve mais um tiro com muito perigo antes do intervalo mas o segundo golo não iria demorar muito: mais uma boa saída em transição, condução de Danilo, grande jogada de Luiz Adriano a rodar sobre Pilona e a encaminhar-se para marcar isolado na área (47′), desta vez a contar após ter visto um golo anulado antes por posição irregular mas que tinha mostrado as fragilidades defensivas contrárias.

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Se o River Plate já estava a perder-se em campo, pior ficou em dois minutos que sentenciaram em definitivo o jogo e muito provavelmente a meia-final: Jorge Carrascal teve uma entrada despropositada (e até falhou o último pontapé…) em Gabriel Menino – um dos melhores do conjunto de São Paulo –, viu vermelho direto e, após o livre lateral, Matías Viña marcou o 3-0 num lance de estratégia bem definido com uma primeira simulação da marcação da falta que desposicionou a defesa argentina e estendeu a passadeira ao jogador uruguaio (62′). E ainda houve algumas entradas que poderiam valido outras sanções, num descontrolo emocional completo por parte dos visitados que foi aproveitado da melhor forma pelo Palmeiras para gerir a vantagem para a segunda mão.

Com este triunfo na primeira “cimeira” entre brasileiros e argentinos nas meias da Taça dos Libertadores (esta madrugada o Boca Juniors recebe o Santos), Abel Ferreira está muito perto de repetir o feito de Jorge Jesus no ano passado no Flamengo e chegar à final da competição mais importante da América do Sul. O Palmeiras ganhou apenas por uma vez a competição – outro ponto em comum com a formação do Rio de Janeiro então orientada pelo atual treinador do Benfica – em 1999, com o ex-selecionador nacional Luiz Felipe Scolari no comando, tendo ainda mais três decisões perdidas em 1961 (Peñarol), 1968 (Estudiantes) e 2000 (Boca Juniors).

“Em primeiro lugar, quero dar os parabéns aos meus jogadores porque usaram a parte mental a nosso favor. Seguimos o plano e a estratégia. Enfrentamos uma das melhores equipas sul-americanas, com o melhor treinador do continente e que já está há cinco anos na equipa com uma forma de jogar muito atrativa e difícil de marcar, mas vamos agora para o jogo na nossa casa em vantagem. São 90 minutos feitos. Como fizemos três golos aqui, é possível que eles façam três golos na nossa casa. Agora é descansar os jogadores. Não gosto de falar do lado individual. Sempre disse que contávamos com todos e não olhamos a idade. A nossa estrela é a equipa, não jogamos em função de um jogador. Treino todos os nossos jogadores da mesma forma, não há qualquer diferença nisso, e todos precisam estar preparados para quando forem chamados”, comentou no final do encontro o treinador português, que definiu a vitória em casa do vice-campeão sul-americano numa só palavra: “Mentalidade”.

Este foi o primeiro jogo de 2021 do Palmeiras e o 18.º desde que Abel Ferreira assumiu o comando da equipa, entre Campeonato, Taça do Brasil e Taça dos Libertadores, com 12 vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas. E se as coisas no Campeonato já são complicadas pelos maus resultados que a equipa somou antes da chegada do português (que antes passou por juniores e equipa B do Sporting, equipa B e A do Sp. Braga e PAOK, da Grécia), embora esteja num sexto lugar que garante apuramento para a Libertadores do próximo ano, Abel Ferreira tem não só pé e meio na final da Taça dos Libertadores mas também presença assegurada na final da Taça do Brasil, que irá discutir com o Grémio a duas mãos no mês de fevereiro (dias 3 e 10).

Pelo meio, o treinador português esteve duas semanas fora, em dezembro, após ter contraído Covid-19. “Vou dizer-vos exatamente o que senti. Na primeira noite tive medo. As pessoas acham que os líderes não têm medo, mas tive medo na primeira noite. O vírus tem formas diferentes de reagir nos corpos. Eu nem queria dormir. Felizmente, a partir da segunda noite, deixei de ter febre, comecei a ficar normal. Foram dez dias muito tranquilos. Todas as pessoas do clube me ligavam a perguntar se precisava de algo, estive sempre acompanhado. As pessoas do hotel foram super simpáticas. Tenho de dizer que tenho um grupo altamente competente que trabalha comigo. Tenho uma equipa de treinadores, não são adjuntos. Estive presente através dos meios que temos, o clube deu tudo o que precisava para ficar perto dos jogadores e eles sabiam o que era preciso fazer, há momentos no jogo que não precisam de um treinador para jogar”, comentou Abel Ferreira após o regresso aos trabalhos.