A capa foi revelada no passado domingo. A pouco mais de uma semana de tomar posse como primeira mulher vice-presidente (além de primeira negra, filha de emigrantes) dos Estados Unidos da América, Kamala Harris protagoniza a edição de fevereiro da Vogue norte-americana. “Fazer história foi apenas o primeiro passo. Agora, Kamala Harris tem uma tarefa ainda mais grandiosa pela frente: ajudar a sarar uma América fraturada e tirá-la da crise”, escreveu a publicação na sua conta de Instagram ao partilhar o primeiro vislumbre da capa.
Na imagem, uma Kamala de 56 anos surge sorridente, de calças justas, blazer desportivo e com uns ténis Converse a coroar o registo informal. As peças e o styling ficaram a cargo da própria. “A capa não dá a Kamala D. Harris o devido respeito. É demasiado familiar”, escreveu Robin Givhan, crítica do The Washington Post, na sequência da capa. No interior, o perfil é assinado pela jornalista afro-americana Alexis Okeowo. A produção chega pela lente de Tyler Mitchell, o jovem fotógrafo escolhido para retratar Beyoncé em 2018, tornando-se à data o primeiro negro a fotografar uma capa da Vogue.
O ponto de Givhan é partilhado por outras vozes. “A fotografia usada é definitivamente desfavorável. É meio confusa”, afirmou o The New York Times. “A iluminação não é adequada”, adiciona ainda a crítica Vanessa Friedman, mesmo reconhecendo que os tons garridos das cortinas ao fundo são uma alusão aos tons da irmandade a que Harris pertencia na sua passagem pela Universidade de Howard.
Segundo a publicação, foi a informalidade da imagem que motivou a decisão, indício da autenticidade e da acessibilidade que a Vogue diz reconhecer à administração Biden/Harris. “A Sra. Harris pode ser autêntica e acessível, mas também está prestes a tornar-se a segunda pessoa mais poderosa do país. Neste momento, o país está no meio de uma crise e precisa de autoridade e segurança”, escreve ainda o The New York Times.
Por comprovar, uma vez que a equipa da vice-presidente eleita não fez qualquer declaração sobre o tema, está o rumor de que haveria um acordo para ver na capa da Vogue a imagem que acabou por ser escolhida para ser a capa digital da edição. Da roupa à posição dos braços, tudo nesta segunda opção soa mais formal, embora a figura de Kamala se mantenha próxima e calorosa. A equipa de Anna Wintour terá achado que esta não era a melhor forma de chegar às bancas.
Voltando a essa mesma imagem, a iluminação é outra das questões no centro do debate. Friedman evoca ainda um historial da revista na dificuldade em providenciar iluminação correta na hora de fotografar mulheres negras. Em julho do ano passado, a produção com a ginasta olímpica Simone Biles é um exemplo de como o concerto de luzes (ou a falta dele) pode alterar a tonalidade da pele. Neste caso, a de Kamala Harris terá saído aclarada pela luz branca que claramente lhe incidiu sobre o rosto na hora do disparo.
Nas redes sociais, as reações dividem-se. “Um Nokia sem câmara teria tirado uma foto melhor do que esta”, lê-se no Twitter. Muitos outros acusam a Vogue de ter escolhido outra fotografia que não a que havia sido acordada com a equipa da vice-presidente eleita. Há mesmo quem peça a demissão de Anna Wintour, evocando um longo historial de falta de diversidade dentro da Vogue.
Contudo, o balanço é igualmente feito de notas positivas. A atriz indiana Priyanka Chopra usou o seu Instagram para felicitar Harris e a Vogue pelo feito (embora tenha partilhado a capa digital e não a física). Kamala Harris não fez, até ao momento, qualquer partilha sobre a edição de fevereiro da Vogue nas suas redes sociais.