As autoridades dos Estados Unidos detiveram esta quinta-feira um manifestante que foi fotografado com a bandeira da Confederação durante a invasão do Capitólio na semana passada, de acordo com a imprensa norte-americana.

O homem, Kevin Seefried, foi detido no estado do Delaware depois de o FBI ter emitido um alerta pedindo informações sobre o manifestante, que foi visto com a bandeira que é considerada um símbolo de ódio, racismo e supremacia branca nos Estados Unidos.

Segundo o The New York Times, o FBI já recebeu mais de 126 mil fotografias e vídeos em resposta aos pedidos de ajuda para identificar os manifestantes que invadiram o Capitólio no dia 6 de janeiro, durante o processo de certificação dos votos da eleição presidencial de novembro.

Já foram feitas múltiplas detenções em vários estados na sequência da invasão (que deixou pelo menos cinco vítimas mortais), estando as autoridades a monitorizar voos de e para Washington D.C., redes sociais e outras vias para identificar os manifestantes.

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Contudo, a detenção de Kevin Seefried é uma das mais significativas até ao momento. O homem chamou a atenção por levar consigo uma bandeira da Confederação, um dos mais célebres símbolos de racismo no país.

A história daquela bandeira remonta ao final do século XIX e à Guerra Civil norte-americana. Em 1860, um conjunto de estados do sul dos EUA romperam com a união e formaram os Estados Confederados da América. No centro da divisão estava a escravatura dos negros — enquanto os estados do norte eram abolicionistas, os estados do sul que romperam com os EUA desejavam manter a escravatura.

A guerra prolongou-se por mais de quatro anos e, durante as batalhas, os militares da Confederação usaram com frequência a bandeira em questão: fundo vermelho, uma cruz azul e 13 estrelas brancas simbolizando os 13 estados esclavagistas. Embora aquela nunca tenha sido a bandeira oficial da Confederação, foi a bandeira usada pelos militares nos atos de guerra e perdurou até hoje como símbolo de grupos supremacistas brancos.

A bandeira tem sido comum em protestos organizados por grupos de extrema-direita e supremacistas brancos nos EUA — e surgiu frequentemente em grupos de apoio a Trump. Nos últimos anos, a exibição da bandeira tem sido gradualmente proibida por organismos militares, instituições privadas e organismos estaduais — e até retirada das principais lojas norte-americanas.

O surgimento de uma bandeira da Confederação durante a invasão do Capitólio originou grande polémica nos EUA, com vários responsáveis políticos e académicos a lamentar a entrada daquela bandeira na casa da democracia norte-americana — quando nem na Guerra Civil a bandeira entrou no edifício.

No dia 6 de janeiro, quando o Congresso se preparava para cumprir o formalismo de certificar os resultados eleitorais e formalizar a vitória de Joe Biden, milhares de apoiantes de Donald Trump invadiram o Capitólio de forma violenta, procurando ocupar as câmaras onde os procedimentos decorriam e obrigando à retirada de emergência do vice-presidente e de todos os membros do Congresso.

A ocupação já foi classificada por vários políticos americanos, republicanos e democratas, como um ato de terrorismo doméstico e de traição. A invasão, que deixou cinco vítimas mortais, ocorreu uma hora depois de Donald Trump ter discursado perante centenas de apoiantes em Washington D.C., incitando-os a lutar contra o resultado eleitoral.

Na sequência da invasão, o Partido Democrata avançou para uma acusação de impeachment contra Trump, por “incitamento à insurreição“, que foi aprovada na quarta-feira. Trump é o primeiro Presidente dos EUA a sofrer um impeachment duas vezes.