Sabe aqueles argumentos que às vezes se usam para levar alguém a desistir da ideia de comprar um carro elétrico? Quase de certeza que já os ouviu: a conversa começa na bateria e termina nos pontos de carregamento existentes. Verdade? Felizmente, tudo isto já faz parte do passado. Hoje, as vantagens dos veículos elétricos sobrepõem-se largamente às desvantagens (já lá vamos) e todos os números, tendências e medidas legislativas apontam para que este seja o caminho do futuro. Ou o caminho do presente, uma vez que a mudança já é real e diária. Segundo uma análise feita pela Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), em novembro de 2020 a venda de veículos elétricos em Portugal aumentou cerca de 80% face a novembro de 2019, enquanto a venda de veículos convencionais (com motor de combustão interna) acusou uma quebra de 41,2% no total do ano passado. O movimento é de tal ordem que Portugal aparece como o quinto país europeu onde se vendem mais elétricos, segundo um estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente. A tendência é global e, de acordo com projeções levadas a cabo pela organização não governamental Transport & Environment, a quota de mercado destes veículos poderá chegar aos 15% em 2021, na Europa.
Para dar resposta a este aumento exponencial de veículos elétricos (VE) em circulação, existem cada vez mais postos de carregamento disponíveis, tendo a Brisa anunciado recentemente o aumento da rede de carregadores existentes nas autoestradas portuguesas, passando a estar presente em 40 áreas de serviço num total de 82 pontos de carregamento rápidos e ultrarrápidos. Segundo o Presidente Executivo da Brisa, António Pires de Lima, a nova rede Via Verde Eletric “é um exemplo do que fazemos como operador de mobilidade sustentável”. “Neste caso, com os nossos parceiros, estamos a derrubar barreiras para o uso de veículos elétricos para as médias e longas distâncias”, explicou o responsável aquando do lançamento da rede, acrescentando que “no próximo verão, será possível viajar num veículo elétrico com total conforto, do Minho ao Algarve, na rede Brisa”.
Mas, afinal, porque é que os VE vieram para ficar? É que os benefícios que trazem consigo são mesmo muitos, senão vejamos:
1. A bem do ambiente
Num mundo cada vez mais preocupado (e bem) com as questões ambientais, é normal que os VE assumam o papel de protagonistas. É que no caso dos veículos 100% elétricos não há qualquer emissão direta de gases poluentes para a atmosfera, enquanto os veículos com motor de combustão interna emitem não só dióxido de carbono (CO2), como também monóxido de carbono, hidrocarbonetos, dióxido de enxofre, aldeídos ou óxidos de nitrogénio, entre outros gases tóxicos com graves implicações na saúde das populações. Para se ter uma ideia do impacto que a redução destes gases pode ter no planeta, basta que se pense nos efeitos sentidos durante o primeiro confinamento, na primavera de 2020, quando por força do isolamento global, a redução da circulação rodoviária teve influência direta na qualidade do ar e até da água. Só em Portugal, as imagens captadas por satélite mostraram uma redução drástica dos níveis de dióxido de azoto em cerca de 80% em Lisboa e 60% no Porto.
Veículos elétricos são 30% mais limpos
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Interessado em perceber exatamente que tipo de implicações podem os veículos elétricos ter no ambiente ao longo de todo o seu ciclo de vida, o International Council on Clean Transportation levou a cabo uma análise exaustiva, tendo chegado à conclusão que aqueles veículos são cerca de 30% mais limpos em comparação com carros equipados com os motores de combustão interna mais eficazes do mercado.
É ainda de realçar que os VE recorrem a energia elétrica, sendo que, em Portugal, quase 62% da energia elétrica produzida provem de fontes renováveis, segundo a Associação de Energias Renováveis. Além disso, se o carregamento do veículo for efetuado durante a noite, altura em que estão a funcionar as centrais eólicas e hídricas, tal vai contribuir para o não desperdício dessa energia. Já o funcionamento dos restantes veículos depende de combustíveis fósseis provenientes do petróleo, o que implica diversos níveis de impacto ambiental, não só na altura da prospeção, mas também aquando do transporte para as refinarias e posteriormente para os postos de abastecimento.
Por outro lado, um dos temas polémicos quando se fala da relação entre carros elétricos e ambiente costuma estar relacionado com as baterias de lítio usadas. Mas também aqui a evidência parece estar do lado da mobilidade elétrica, pois aquelas baterias (que têm vindo a garantir cada vez mais autonomia) podem durar até 30 anos, altura em que são encaminhadas para reciclagem, permitindo a recuperação de até 95% da matéria-prima. Já no que diz respeito aos veículos convencionais, no fim de vida, estes são enviados para abate e a reciclagem dos componentes é residual.
Ao contribuírem grandemente para a sustentabilidade do planeta, não admira, pois, que diversos países estejam a introduzir restrições à comercialização de carros novos movidos a gasolina ou gasóleo. É o caso do Reino Unido, que decidiu banir a sua venda já a partir de 2030, com o objetivo de tornar o país neutro em termos de emissões de CO2 até 2050, sendo o primeiro membro do G7 a traçar essa meta.
2. Incentivos fiscais (e não só)
Quem opta pela mobilidade elétrica tem a possibilidade de aceder a diversos benefícios — fiscais e não só — criados com vista a apoiar a mudança. Destaca-se a atribuição de incentivos de aquisição de VE, através do Fundo Ambiental, em vigor desde 2015. Embora não se saiba ainda com exatidão como se irá processar em 2021, é expectável que os critérios não se afastem muito dos que estiveram em vigor em 2020, ou seja, na compra de um veículo 100% elétrico (primeira matrícula e até um valor máximo de 62 500 euros) foi atribuído um apoio de 3 mil euros a quem o solicitou, havendo também vouchers para ciclomotores, motociclos e bicicletas elétricas.
Mas os apoios não se ficam por aqui, e os automóveis totalmente elétricos beneficiam ainda de isenção do Imposto Sobre Veículos (ISV) e Imposto Único de Circulação (IUC). Já os veículos plug-in têm direito a uma redução de 75% do valor do ISV e os híbridos normais, de 40%. Por seu turno, as empresas também obtêm vantagens, já que os VE estão isentos de tributação autónoma em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) e o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) é dedutível.
Outra grande benesse para quem possui um carro elétrico está relacionada com as condições vantajosas para estacionar oferecidas por diversas autarquias, onde o estacionamento é totalmente gratuito ou beneficia de descontos.
3. Baixo custo de manutenção
Este não é um fator de pouca relevância, e todos os que têm um veículo movido a gasolina ou gasóleo sabem bem como a conta da oficina pode trazer (e quase sempre traz) surpresas desagradáveis de cada vez que se faz uma simples revisão. Suspiremos, pois, de alívio, pois os baixos custos de manutenção dos carros elétricos são uma das suas características principais, resultando do facto de terem menos peças e não possuírem um motor de combustão interna, logo, toda a mecânica é diferente, bem como os cuidados associados. Segundo estimativas da Consumer Reports, organização não governamental norte-americana de proteção dos consumidores, os custos de manutenção cifram-se em cerca de metade daquilo que custa manter um carro normal com motor de combustão interna.
Assim, e embora as marcas aconselhem uma ida anual à oficina, a verdade é que as revisões são apenas necessárias a cada 50 mil quilómetros e não a cada 15 mil, como nos veículos convencionais (em que é preciso substituir o óleo do motor, filtros e correias). Também os travões sofrem menos desgaste, porque a maioria dos VE recorre ao motor para travar, o que é uma forma de recarregar a bateria em funcionamento. Da mesma maneira, os pneus registam um desgaste reduzido, já que, na maior parte dos casos, os carros elétricos constituem opções de mobilidade urbana, logo, destinados sobretudo a percorrer curtas distâncias e a baixas velocidades.
4. Rede de carregamento em expansão
De que serve um carro elétrico se não tivermos onde carregá-lo a meio de uma viagem, certo? Esta pergunta, que muitos faziam até há pouco tempo, está hoje completamente ultrapassada e em breve será possível percorrer o país de Norte a Sul, contando com a ampla cobertura da nova rede Via Verde Eletric, lançada recentemente pela Brisa, em parceria com a BP, Cepsa, EDP Comercial, Galp Electric, Ionity e Repsol. A ser implementada ao longo de 2021, esta será a maior rede privada de pontos de carregamentos elétricos — 82 no total — com soluções de carregamento rápido (50kW) e ultrarrápido (de 150 a 350 kW) em todas as áreas de serviço da Brisa Concessão Rodoviária. Em termos médios, os postos de carregamento rápido permitem atingir mais de 80% de carga da bateria em apenas 20 a 30 minutos, que é o tempo ideal para tomar um café e esticar as pernas a meio de uma viagem de longa distância.
Desta forma, a possibilidade de ir do Porto a Faro ao volante de um carro elétrico, com comodidade e conveniência, será viável muito em breve na rede Brisa, a qual disporá neste trajeto de 12 pontos de carregamento e 24 carregadores. A Via Verde Eletric passa a integrar a MOBI.E, a rede de abastecimento de mobilidade elétrica nacional, que está atualmente presente em mais de 50 municípios do país, contando com com mais de 1250 pontos de carregamento.
5. Uma nova experiência de condução
Quem nunca conduziu um carro elétrico dificilmente perceberá o que vamos escrever a seguir, mas a verdade é que esta é uma experiência que não tem paralelo com a condução de qualquer outro veículo. A ausência de motor contribui para a criação de um ambiente único de silêncio, fluidez e concentração no interior do veículo, que não só contribui para a redução drástica da poluição sonora nas cidades, como também para uma nova forma de viver a condução. Mais consciente, calma e sem a agressividade típica dos motores a gasóleo ou gasolina, esta é a filosofia automóvel que mais se adapta aos consumidores do futuro — e do presente —, preocupados não apenas com a sua pegada ambiental, mas igualmente em desfrutar de experiências mais ricas, humanas e benéficas para todos.