John Mortimore chegou ao Benfica em 1976, num contexto onde tinha mais contras do que prós: os encarnados tinham sido campeões com Mário Wilson, não apresentava propriamente um daqueles currículos com grandes clubes ou conquistas, nunca tinha passado antes por Portugal. No entanto, Borges Coutinho, um dos treinadores mais relevantes do clube da Luz, não teve dúvidas em apostar naquele antigo central que fez quase toda a carreira de jogador pelo Chelsea. Na primeira época, foi campeão. E após sair, em 1979, ainda mereceu uma nova aposta na década de 80, que lhe permitiu ganhar novo Campeonato. O inglês morreu esta quarta-feira, aos 86 anos.

Nascido em Hampshire, John Mortimore jogou nos modestos Aldershot e no Woking (tendo sido chamado à seleção nas camadas jovens) antes de chegar ao Chelsea, que anunciou em comunicado o desaparecimento do central que fez quase 300 jogos pelo clube entre 1956 e 1965 antes de terminar a carreira ao serviço do QPR. “Após duas aparições na época de 1956/57, Mortimore abdicou do seu estatuto de amador e assinou contrato profissional com o Chelsea em agosto de 1957, embora o treinador Ted Drake tenha permitido que continuasse a estudar para tirar o curso de professor, uma profissão que procurava”, recordam os blues num longo texto no seu site oficial onde recordam a passagem do jogador pelo clube e a vitória na Taça da Liga de 1964/65.

Nos encarnados, onde chegou como aquilo que os jornais da época descreveram como “um técnico baratinho” após passagens pelos gregos do Ethnikos e dos ingleses do Portsmouth, conseguiu o tricampeonato com nove pontos de avanço em relação ao Sporting em 1977, Campeonato que teve um duelo aceso na luta pelo melhor marcador entre Fernando Gomes (26 golos), Nené (22) e Manuel Fernandes (21). No ano seguinte, não conseguiu chegar ao tão desejado (e adiado) tetra, com o FC Porto a quebrar o longo jejum de 19 anos sem ganhar o Campeonato com a dupla Pinto da Costa-José Maria Pedroto, que iria revalidar o título em 1979 com mais um ponto do que os encarnados, depois de acabarem com os mesmos 51 pontos na temporada anterior de 1977/78.

Regressou à Luz para uma segunda passagem de duas épocas no verão de 1985, na sequência de um terceiro lugar do Benfica a 12 pontos do campeão FC Porto (primeiro título de Pinto da Costa como presidente), terminou em segundo em 1985/86 a dois pontos dos dragões de Artur Jorge, num Campeonato marcado pela derrota em casa no final do Campeonato contra o rival Sporting que já tinha hipóteses de lutar pelo título, mas sagrou-se campeão e ganhou a Taça de Portugal em 1986/87 com apenas duas derrotas (uma delas ainda hoje recordada pelos leões, o 7-1 em Alvalade). De forma surpreendente, saiu no final da época, tendo depois passado pelos espanhóis do Betis, pelo Belenenses e pelo Southampton, onde desempenhou vários cargos incluindo o de presidente.

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Os métodos de trabalho não tinham fama de ser propriamente muito modernos ou variados mas funcionavam e ficaram como uma das imagens de marca de John Mortimore, que já nos anos 50 mostrara um especial interesse pelo estudo da parte física que foi depois aprimorando com o passar do tempo. Morreu aos 86 anos, em Inglaterra, numa notícia revelada pelo Chelsea e pelo Southampton e que não demorou a chegar a Portugal e também a Espanha, por ter orientado o Betis também na década de 80, após a segunda passagem pela Luz.