A CBRE antecipa um volume de investimento de três mil milhões de euros no setor imobiliário português em 2021, alavancado pelo pipeline robusto do lado da oferta, pela evolução positiva na capacidade de investimento dos players nacionais e pela concretização de operações de Fusão & Aquisição previstas para este ano.

Esta é uma das principais tendências do setor imobiliário apresentadas na passada quinta-feira, pela CBRE, durante o evento digital The Next Normal: Reset to Change. Pela primeira vez o evento assumiu um formato 100% digital e revelou-se um enorme sucesso com cerca de 1100 visualizações. Os convidados puderam assistir a duas horas de conteúdo vídeo exclusivo e à participação de mais de 15 guest speakers dos players mais relevantes em cada uma das várias áreas abordadas: Investimento, Residencial, Hotéis, Escritórios, Logística e Comércio.

Francisco Horta e Costa, diretor-geral da consultora em Portugal indica que: “Apesar do impacto da pandemia, o interesse pelo mercado imobiliário permanece elevado, em função de um contexto de taxas de juro baixas e de elevada liquidez financeira a nível global. Portugal continua a evidenciar fortes fundamentos imobiliários, nomeadamente um mercado ocupacional interessante e uma ainda reduzida disponibilidade de produto, estando bem posicionado para uma rápida retoma assim que os países começarem a sair desta crise sanitária”.

Entre as diversas tendências apresentadas, a CBRE Portugal acredita que na economia, o impacto da pandemia levará a uma queda abrupta e deverá limitar ritmo de crescimento, no entanto, as projeções apontam para que, no final de 2022, o PIB atinja novamente o nível verificado em 2019.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A consultora antecipa também que o volume de investimento em imobiliário será novamente significativo em 2021. Por um lado, existe um pipeline em oferta robusto: no início do ano, contabilizavam-se dois mil milhões de euros de imóveis em comercialização. Por outro, Portugal está perfeitamente dentro do radar da comunidade internacional de investimento e, a nível nacional, prevêem-se evoluções muito positivas na capacidade de investimento dos players locais. O volume de investimento poderá ainda ser alavancado com a concretização de operações de Fusões & Aquisições envolvendo sociedades de investimento imobiliário.

Após registar o terceiro maior valor de investimento de sempre em 2020, há expectativas de que o mercado alcance novamente o patamar dos três mil milhões de euros de volume de investimento imobiliário já em 2021.

O setor dos escritórios continuará a mostrar-se resiliente e a procura deverá manter-se dinâmica. Contudo, a nova realidade empresarial obrigará a redesenhar os espaços de trabalho.

A pandemia levou à adoção do teletrabalho por parte das empresas, mas ainda assim não se antecipa uma redução na área de escritório. A nova realidade empresarial pós-Covid deverá compreender um ambiente de trabalho híbrido, prevendo-se que as empresas convertam parte da área afeta aos postos de trabalho convencionais em espaços de estímulo à criatividade, integrem serviços e atividades destinadas aos colaboradores.

Já no retalho, a consultora prevê que os diferentes formatos demonstrarão diferentes tipos de recuperação e o comércio online manterá uma rota de crescimento.

Muito dependentes do turismo, o centro histórico de Lisboa só deverá verificar uma recuperação mais significativa em 2022.

O impacto da pandemia e o ritmo de recuperação será distinto entre os diversos formatos de retalho. Os centros comerciais veem os resultados do primeiro trimestre de 2021 serem gravemente prejudicados face a um novo confinamento, mas poderão contar com uma recuperação gradual da procura a partir da Primavera. Já os retail parks estão sujeitos a um menor decréscimo na procura, sendo que algumas das atividades que integram até têm registado resultados superiores a 2019, como são o caso dos supermercados, lojas de artigos para o lar, bricolage e eletrónica de consumo.

O comércio de rua nas zonas prime irá continuar a ser fortemente impactado, enquanto não se observar o retorno dos turistas estrangeiros, o que só se deverá acontecer, ainda que com uma expressão muito reduzida, no próximo verão. Nos casos do centro histórico de Lisboa e do Porto, muito dependentes do turismo, só se deverá verificar uma recuperação mais significativa em 2022, altura em que se prevê alguma retoma relevante no número de viagens.

À semelhança de Lisboa, também o centro histórico do Porto, muito dependente do turismo, só deverá verificar uma recuperação mais significativa em 2022, altura em que se prevê alguma retoma relevante no número de viagens.

Na área de logística crescem os projetos especulativos e a ocupação própria, mas as rendas aumentam junto aos centros urbanos.

A disponibilidade de espaços de logística vai continuar reduzida ao longo de 2021. No entanto, a procura atual é bastante elevada, pelo que se prevê que o nível de absorção possa atingir níveis recorde, em resultado do desenvolvimento de estruturas à medida do ocupante e de contratos de pré-arrendamento nos projetos de construção especulativa que finalmente começam a surgir.

O crescimento do comércio online está a estimular a procura por parte de operadores logísticos de last mile e deverá levar a um aumento do valor das rendas na ordem dos 10%, para aproximadamente 5€/m2 por mês, junto aos grandes centros urbanos.

No setor do turismo a CBRE afirma que os planos de expansão de cadeias hoteleiras e de investidores mantêm-se em destinos de cidade e de lazer, contudo, os diferentes segmentos registarão diferentes recuperações.

O desempenho hoteleiro vai continuar a ser melhor em zonas com menor densidade populacional fruto do contexto pandémico, com as regiões Centro e do Alentejo a serem novamente as grandes beneficiadas, tal como sucedeu em 2020.

É também expectável que as mudanças de hábitos e os requisitos de segurança impulsionem a diversificação de produtos. O turismo de natureza e o de bem-estar, os serviced apartments e boutique hotéis, e as second home em resorts turísticos afirmam-se como soluções com perspetivas de crescimento.

Finalmente, no evento foi abordado o setor residencial que se deverá mostrar resiliente e com projetos de habitação para arrendamento a arrancar já em 2021.

A escassa oferta de produto novo deverá assegurar uma certa estabilidade no mercado residencial ao longo de 2021, embora se possa assistir a uma ligeira queda nos preços, a qual deverá ser mais acentuada no produto de segunda mão.

A manutenção das moratórias bancárias, enquanto não se iniciar uma recuperação consistente da atividade económica, é também da maior relevância para a estabilidade do setor.

Os segmentos residenciais mais dependentes do mercado estrangeiro deverão continuar a ser penalizados, não apenas pelas restrições de viagens, como também pela incerteza relativamente ao fim do programa de vistos gold na região litoral.

A CBRE aponta ainda a morosidade dos processos de licenciamento, as alterações legislativas e fiscais, e a digitalização como os principais desafios do mercado residencial em 2021.

Este conteúdo é da autoria da CBRE