O Planetário de Espinho promove na quinta-feira uma sessão online que, 75 minutos antes de a NASA transmitir em direto a chegada do seu novo robô motorizado a Marte, analisará desafios da prospeção por água e oxigénio nesse planeta.

Três missões espaciais terrestres chegam a Marte nos próximos dias

O astrónomo António Maia vai conduzir a sessão gratuita das 18:00 a partir da página oficial do Planetário de Espinho na rede social Facebook para esclarecer o público online sobre a chegada do “rover” Perseverança a Marte, com vista à recolha de amostras de solo e outros elementos nesse planeta, acontecimento que a agência espacial norte-americana transmitirá em direto, no seu site, a partir das 19:15 de Portugal continental.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

António Maia explicou à Lusa que começará por abordar os chamados “sete minutos de terror” que podem decidir o sucesso ou fracasso da iniciativa da NASA: “É a fase mais crítica da entrada, descida e pouso da cápsula, que transporta um explorador robótico sobre rodas, na superfície marciana”. É essa operação que a agência norte-americana vai partilhar em vídeo com seguidores de todo o mundo.

A cápsula da NASA não orbitará Marte e seguirá diretamente para a superfície, para pousar um aparelho massivo, o ‘rover’ Perseverança – num local bastante específico, que é a cratera de Jezero”, diz o cientista português.

António Maia realça que, nesse processo, os norte-americanos contam “com algumas inovações que irão aumentar a precisão com que toda a manobra é executada”. Refere-se, por exemplo, ao avançado “sentido de visão do Perseverança”, à sua capacidade para “ouvir e registar os sons de Marte” e à sua aptidão para transportar “toda uma outra série de instrumentos que contribuirão para incrementar o conhecimento científico sobre a atmosfera, o clima, a química e a geologia desse planeta“.

O Perseverança transporta ainda protótipos e demonstrações tecnológicas que poderão ser úteis em futuras missões tripuladas, como melhores pilotos automáticos e recursos de Inteligência Artificial, o que permitirá ao equipamento pousar com maior precisão geográfica e navegar mais celeremente pela superfície do planeta”, descreve o cientista.

As inovações incluem ainda o “pequeno helicóptero Ingenuity [/Engenho]”, que a NASA descreve como a primeira aeronave a testar voo controlado noutro planeta, e a “mini-fábrica MOXIE”, que criará oxigénio a partir do dióxido de carbono presente na atmosfera de Marte, com vista a que esse seja depois usado em aparelhos futuros mais capazes, não só para respiração humana, mas também para produção de propelentes para foguetões e naves espaciais.

António Maia garante que todos esses aspetos técnicos com vista a precisão máxima são determinantes “porque um dos objetivos principais da missão é recolher amostras do solo marciano numa zona onde, numa era distante, terá existido água corrente durante tempo suficiente para, em conjunto com outras condições propícias, favorecer o aparecimento e desenvolvimento de vida microbiana”.

O cientista do Planetário de Espinho salienta que a recolha e análise ‘in loco’ das amostras pode agora permitir a identificação de “assinaturas biológicas”, o que constituirá “um primeiro passo para as transportar até à Terra e submeter a análises laboratoriais, mediante missões posteriores, a realizar em colaboração com a Agência Espacial Europeia”.