A Plataforma Arte e Cultura de Odemira propôs que a câmara municipal deste concelho crie um fundo de apoio para os munícipes que vivem “exclusivamente” das artes e que viram a sua atividade afetada pela pandemia. A proposta surge no manifesto enviado à agência Lusa pela Plataforma Arte e Cultura de Odemira (PACO), coletivo que junta artistas profissionais e representantes de associações culturais do concelho de Odemira, no distrito de Beja, num total de 30 elementos, alguns dos quais estrangeiros.
O objetivo é “dar visibilidade às reivindicações que têm vindo a ser feitas por diversas estruturas formais e informais do setor da cultura”, explicou a Plataforma. De acordo com o documento, a atual situação pandémica causou uma “profunda crise” nas estruturas e criadores neste município do litoral alentejano, “agravando em muito a precária situação da sua existência”.
Todos vivemos da arte a tempo inteiro e esta pandemia parou o nosso trabalho radicalmente. Daí que estamos juntos para ver o que podemos fazer e de que forma consegue a câmara ajudar-nos”, justificou o espanhol José Luís Torres, um dos porta-vozes da PACO.
Este artista, que encarna a personagem do Palhaço Enano e leva 23 anos de carreira, reconheceu que no concelho “há pessoas em dificuldades para pagar contas, alugueres ou seguros”. “Há um ano que estamos sem trabalhar e é claro que há pessoas em dificuldades”, acrescentou.
Covid-19. Apoio social extraordinário para Cultura pode ser requerido a partir de 5.ª feira
É esta realidade que levou a PACO a defender a criação, por parte da câmara municipal, de um fundo de apoio social de emergência para trabalhadores residentes no concelho de Odemira que vivem “exclusivamente da atividade artística” e estejam, “por esse motivo, sem rendimentos ou com subsídios de sobrevivência”. Deve ser uma “medida pontual e extraordinária para acudir a uma situação de grande gravidade, como a que é vivida por aqueles que perderam os seus rendimentos”, esclareceu a PACO no manifesto.
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Odemira reagiu a esta proposta revelando que a autarquia deliberou, a 5 de fevereiro, “a criação de um pacote de medidas de apoio extraordinário face ao período de estado de calamidade” que se vive “em consequência da pandemia de Covid-19”. Este pacote inclui “medidas de apoio extraordinário à atividade cultural e a quem dependa exclusivamente dessa atividade, estando em fase de regulamentação”, anunciou José Alberto Guerreiro. No manifesto, a PACO defendeu ainda que seja criada uma “plataforma de discussão e intervenção nas políticas culturais locais que sirva para a dinamização construída do seu tecido cultural”.
A Câmara de Odemira já havia desafiado os agentes locais para a criação desta plataforma e está sempre disponível para a discussão e preparação de ações culturais ou quaisquer outras com os agentes locais”, respondeu o autarca. A par destas propostas, a PACO assumiu a sua disponibilidade para organizar um festival no verão, que cumpra as normas impostas pela Direção Geral da Saúde e seja “financiado e apoiado pelo Município [de Odemira] com contratação de artistas locais”.
Os artistas solicitam também “a renovação” do projeto “Animar o Verão”, “com investimento em todas as freguesias e agentes locais”, e apelou “à contratação preferencial, por parte do município, de profissionais e estruturas do concelho durante o período de um ano”. Perante estas reivindicações, o presidente da Câmara de Odemira lembrou que o orçamento municipal para 2021 “inclui” o “Animar o Verão”, em “moldes idênticos aos desenvolvidos em 2020, tendo sido preferidos as entidades e artistas locais”. Tal opção está igualmente “a acontecer no programa já em curso ‘Cultura com Todos’ e irá acontecer na comemoração do ‘Abril em Odemira 2021′”, acrescentou José Alberto Guerreiro.
Estudo independente averigua quem são e onde estão os profissionais da Cultura
Sobre a realização de um festival de verão, o autarca alentejano disse que tal “depende de múltiplos fatores imprevisíveis neste momento“, garantindo estar “recetivo a propostas concretas e discussão das mesmas com a PACO e as autoridades de saúde e segurança”.
Relembro que, em reunião com os agentes locais realizada no cineteatro, já havia garantido que apoiaria uma iniciativa conjunta dos agentes culturais locais, o que até agora não foi possível concretizar, mas continua viva a garantia de apoio, em data e condições a acordar”, concluiu.
Todas estas propostas irão ser analisadas na reunião que José Alberto Guerreiro irá ter brevemente com representantes da PACO e agentes culturais locais, garantiu o autarca.