A ideia era ligar laboratórios, instituições e empresas numa só plataforma, para que fosse mais fácil adotar estratégias de testagem preventiva em massa à Covid-19 durante a pandemia. E quando Rita Matos viu a ideia da TestConnect sair dos moldes do movimento Tech4Covid e ganhar vida própria foi isso que aconteceu. Mesmo que a formação em Antropologia, em Recursos Humanos e em Projetos Digitais fosse, à partida, a bússola profissional, Rita, como tantas outras figuras que se agruparam no Tech4Covid desde março de 2020, procurava respostas para a nova ameaça que o mundo enfrenta: que vírus é este, qual a taxa de mortalidade associada, que resistência pode ter aos elementos, quais as medidas preventivas ou quais as necessidades hospitalares para adequadamente responder?

Acima de todas estas questões, a de Rita, tal como a de outros voluntários do grupo, gravitava em torno de “de que forma é que os testes podiam ajudar as pessoas na prevenção?”.

Do outro lado deste oceano de informação da Tech4Covid estava Emanuel Marques, engenheiro de Software, atualmente a trabalhar na Farfetch, também ele em busca de respostas e oferecendo os conhecimentos em informática como contrapartida. Foi Rita que o convidou a integrar o projeto.

“A partir de setembro de 2020 o meu objetivo era entrar a sério”, diz ao Observador o maiense de 25 anos. “A 23 de novembro [de 2020] lançámos a primeira versão da plataforma online e aí já começámos a fazer uma divulgação mais alargada, a fazer mais contactos com laboratórios”.

Mas quando chegaram a este ponto já havia, de antemão, um trabalho levado a cabo por Rita Matos e outros voluntários no terreno. “Tentámos falar com profissionais de saúde – porque tínhamos médicos no grupo – e conseguimos o contacto de um laboratório. A partir daí fomos, através desse contacto, fazendo crescer a lista. Foi um contacto direto e esses laboratórios aceitaram tornar-se nossos parceiros mas tínhamos também tentado outras vias como autarquias, autoridades de saúde e locais, sem sucesso”, diz Rita.

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Foram, ao todo, sete meses até que a plataforma ganhasse corpo, site, e acreditação de trabalho, conseguida entre abril e novembro de 2020. As dificuldades do arranque esbateram-se e a equipa de 15 pessoas que constitui a TestConnect está agora em perspetiva de crescimento, mesmo que, até ver, todos os que a integram sejam apenas voluntários.

“A ideia é envolver outras pessoas que podem facilitar ainda mais os contactos”, esclarece Emanuel, com os olhos postos no futuro. Quarenta e cinco laboratórios estão atualmente registados na lista da TestConnect para dar resposta ao serviço que a ONG possibilita – um serviço que procura fazer da testagem preventiva em massa uma arma contra o SARS-CoV-2 e cujo principal foco eram as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS).

“É extraordinário porque [os laboratórios] se colocaram numa posição diferente daquela a que estão habituados; normalmente respondem aos pedidos para teste e, neste caso, são eles que tomam a iniciativa de validar as necessidades das instituições e fazer um planeamento de testes e a dar-lhe seguimento”, diz Rita Matos.

A equipa de voluntários que compõe atualmente a TestConnect

Como funciona a plataforma da TestConnect?

A lógica do funcionamento é simples e ficou bastante simplificada com a criação da plataforma online. Para usar o serviço, basta um registo como usuário no site. No caso de uma IPSS, que pode ter um lar com utentes e uma empresa de apoio domiciliário, pode logo distinguir a empresa da instituição. “E isso facilita bastante quando fazemos o planeamento, para nós e para os laboratórios”, diz Rita Matos. O passo seguinte cabe à TestConnect, que fica responsável por coordenar com os laboratórios os pormenores da deslocação.

Com a expansão da capacidade do serviço, a adição de uma empresa de higiene no trabalho e uma maior cobertura do território nacional (a TestConnect chega a qualquer parte de Portugal Continental), em janeiro deste ano foi iniciada uma nova etapa; além das instituições, também as empresas podem requerer a testagem.

“Ao estarmos a tentar evangelizar a testagem preventiva em empresas estamos não só a salvar vidas como também a ajudar a economia porque assim torna-se mais fácil localizar um ponto de infeção. O nosso objetivo é ambivalente”, reitera Emanuel.

Neste novo leque inclui-se qualquer tipo de empresa, independentemente do tamanho, área de trabalho ou número de funcionários, contando para já com 14, ainda que, preferencialmente, a indústria seja um foco de maior dimensão.

Sobre o investimento de capital, Emanuel esclarece que, até à data, não existe qualquer apoio nesse sentido, à exceção do apoio estrutural que lhes chegou da NT4Solutions, “que é onde trabalha um colega nosso. Fora isso, não há grandes gastos tirando tempo. A nível de investimento externo não há nada a reportar nem é uma prioridade para já”.

Apesar da gestão por voluntários, em números, a TestConnect já ultrapassou os 150 pedidos de testagem, e conta com sete instituições inscritas na plataforma. Rita Matos acredita que os números poderiam ser bastante superiores, mas as questões burocráticas atrasaram o processo.

“A questão prende-se bastante pela resposta que é dada pelo delegado de saúde e pelas autoridades. As instituições esperam muito por estas respostas e estão pouco informadas sobre a testagem preventiva. Isso acresce ao facto de que os testes de Antigénio só desde novembro é que são usados e acreditados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS). Havia muita informação controversa. E agora existe a expetativa da vacina, principalmente nos lares, e nós tentamos sensibilizar para a prevenção continuar, mesmo que venham a ser vacinados”, conclui.