No final de janeiro, o Telegraph revelou que Cristiano Ronaldo tinha recusado uma proposta de seis milhões de euros para ser a cara de uma campanha de promoção do turismo da Arábia Saudita. Ora, embora a notícia tenha tido eco em Portugal principalmente porque o capitão da Seleção Nacional estava envolvido, a verdade é que o texto também explicava que Lionel Messi tinha recebido a mesma proposta e que, também ele, tinha decidido não aceitar fazer parte do projeto. Cerca de um mês depois, outro jornal inglês apresentou outra teoria.

Esta semana, o Independent acabou por dar a entender que Messi, ao contrário do que foi inicialmente conhecido, ainda não recusou a proposta da Arábia Saudita. O jornal inglês divulgou uma carta enviada por familiares de presos do regime saudita que, com o apoio da Grant Liberty, uma organização pelos direitos humanos, pediram ao jogador argentino que não se associe ao país. “És uma inspiração para milhões e o que dizes e fazes tem mesmo importância. De forma direta — tens um enorme poder mas com esse poder vem uma grande responsabilidade. O regime saudita quer usar-te para lavar a sua reputação. Os prisioneiros de consciência na Arábia Saudita têm sido torturados, abusados sexualmente e mantidos em confinamento solitário prolongado — durante meses, frequentemente — numa escala industrial. Lionel Messi, és um herói para milhões — por favor, usa esse estatuto para o bem. Luta pelos direitos humanos e diz não aos assassinos de Jamal Khashoggi e aos que brutalizam ativistas pacíficos”, podia ler-se na carta, que terminava com a ideia que uma recusa clara do capitão do Barcelona enviaria uma mensagem importante.

Ronaldo recusa contrato de patrocínio de seis milhões de euros por ano oferecido pela Arábia Saudita

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“Se disseres que sim ao convite, estás na verdade a dizer sim a todos as violações dos direitos humanos que acontecem atualmente na Arábia Saudita moderna. Mas se disseres não, vais enviar uma mensagem igualmente poderosa — a mensagem de que os direitos humanos importam, a decência importa, de que aqueles que torturam e matam não o fazem com impunidade”, acrescentava o pedido a Messi. Ora, convites da Arábia Saudita à parte, a verdade é que Messi continua a ser o tema do dia na Catalunha: entre a possibilidade de sair no final da temporada, entre a possibilidade de ficar independentemente do que acontecer nas eleições do Barcelona no início do março e ainda entre a possibilidade de decidir ficar depois de convencido pelo projeto do candidato que acabar por ser eleito presidente. No meio de tudo isto, a eventualidade de o argentino acabar por abdicar de alguns dos milhões previstos no mediático milionário contrato, em cenário de permanência, torna-se cada vez mais provável, face à preocupante situação financeira do clube.

Este sábado, o Barcelona acabava por enfrentar um dos adversários mais complexos a nível interno, o Sevilha de Julen Lopetegui — no primeiro de dois jogos entre os dois conjuntos esta semana, já que voltam a encontrar-se na quarta-feira nas meias-finais da Taça do Rei. Depois de uma vitória convincente contra o Elche, a equipa de Ronald Koeman deslocava-se ao Sánchez Pizjuán com a possibilidade de ultrapassar o Real Madrid, ainda que à condição porque os merengues só jogam na segunda-feira, e encurtar para dois pontos a desvantagem para o líder Atl. Madrid, apesar de os colchoneros terem duas partidas em atraso. Em cenário contrário, o Sevilha também sabia que uma vitória contra o Barcelona significava subir ao terceiro lugar da liga espanhola, deixando os catalães para trás.

Na antecâmara do jogo, e quando foram conhecidos os onzes iniciais, percebeu-se desde logo que Koeman tinha reservado duas surpresas para a visita ao Sevilha: Griezmann começava no banco, com Dembélé a ser titular perto de Messi, e o sistema tático era alterado e passava a ter três centrais. Mingueza, Piqué e Lenglet eram os donos do setor mais recuado do Barcelona, com Jordi Alba a abrir no corredor esquerdo e Sergiño Dest a ficar responsável pela ala contrária. Naquela que poderá ter sido a melhor primeira parte dos catalães esta temporada, o Barcelona não deu qualquer hipótese ao Sevilha, não permitiu um único remate ao conjunto de Lopetegui e manteve uma pressão muito alta apesar de o ritmo do jogo nunca ter sido propriamente elevado.

Dembélé causou o primeiro susto ao adversário, com um remate que Bounou encaixou (22′), e Messi quase surpreendeu o guarda-redes logo depois, ao atirar à baliza um livre de muito longe quando todos esperavam um cruzamento (24′). O golo, orquestrado pelos mesmos dois protagonistas, apareceu ainda antes da meia-hora. Messi recebeu no meio-campo, temporizou durante milésimos de segundo e rasgou a defesa do Sevilha com um passe vertical; Dembélé, em aceleração, foi mais rápido do que os adversários, ganhou as costas do central e atirou cruzado para abrir o marcador (29′). Até ao intervalo, Dest ainda ficou muito perto de aumentar a vantagem, com um remate por cima depois de fletir para dentro a partir da direita (40′), mas o Barcelona terminou mesmo a primeira parte a ganhar pela margem mínima.

No início da segunda parte, Lopetegui percebeu obviamente que algo não estava bem e mudou três peças de uma vez: saíram Diego Carlos, Papu Gómez e El Haddadi, entraram Rekik, Suso e En-Nesyri. As mexidas tiveram algum impacto e o Sevilha conseguiu fazer o primeiro remate aos 50 minutos, por intermédio de Jesús Navas. A segunda parte parecia estar lançada para um destino diferente, pelo menos por aquilo que os instantes iniciais trouxeram, mas depressa o Barcelona voltou a encostar o adversário ao próprio meio-campo.

O Sevilha era assustadoramente passivo na transição defensiva, não pressionava alto e errava na definição e no critério nas escassas vezes em que conseguia chegar perto da grande área de Ter Stegen. Os catalães aproveitaram tudo isto para criar situações de perigo, com Dest a rematar ao poste (59′) e Messi a atirar por cima depois de uma grande arrancada de Dembélé (60′), e Lopetegui reagiu com outras duas substituições — enquanto pedia atitude à equipa. Entraram Óscar e Óliver, saíram De Jong e Rakitic e os andaluzes aceleraram ligeiramente. As acelerações, porém, duravam apenas escassos instantes, já que o Sevilha acabava por desligar da partida depois de desenhar duas ou três jogadas de maior perigo.

Ronald Koeman mexeu pela primeira vez para trocar Piqué por Araújo, provavelmente para proteger a capacidade física do experiente central, e depois foi forçado a mexer novamente por lesão, já que Pedri pediu a substituição depois de um lance dividido e saiu para deixar entrar Moriba. Até ao fim, o Sevilha ainda marcou mas o golo foi anulado por mão na bola de En-Nesyri, Ronald Araújo ressentiu-se da lesão que o deixou fora dos relvados nas últimas semanas e foi substituído por Umtiti e Dembélé saiu para dar o lugar a Braithwaite. Já perto do apito final, Messi sentenciou a vitória blaugrana, ao finalizar da melhor forma um lance individual em que deixou vários adversários para trás (85′), e chegou ao 19.º golo da época na liga espanhola.

O Barcelona venceu o Sevilha depois de um dos jogos mais competentes que realizou esta temporada, ultrapassou provisoriamente o Real Madrid, aproximou-se do Atl. Madrid e ainda se afastou da equipa de Julen Lopetegui. Para isso, muito pode agradecer a Dembélé, que foi sempre o jogador mais conectado com a partida, que abriu a vitória e que foi tudo aquilo que o clube catalão sempre quis que ele fosse. Desde 2017, quando contratou o francês ao Borussia Dortmund.