Lou Ottens, o principal responsável pela invenção das cassetes, morreu esta terça-feira aos 94 anos em Duizel, nos Países Baixos, avança a BBC. O engenheiro holandês, que revolucionou a maneira como se ouve música, também participou no desenvolvimento do CD.

O seu interesse pela engenharia e pela música começou cedo. Na altura da Segunda Guerra Mundial, Ottens conseguiu criar um sistema (a que deu o nome de “filtro de alemães”) que permitia que os pais escutassem o programa de rádio da BBC “Radio Oranje”, cuja transmissão estava proibida na altura da ocupação alemã dos Países Baixos.

Quando a guerra terminou, Ottens tirou o curso de engenharia e começou a trabalhar na Philips na fábrica de Hasselt, na Bélgica, em 1952, relata o The Guardian. Oito anos mais tarde é promovido e assume o cargo de coordenador do departamento do desenvolvimento de produtos inovadores, tendo-se tornado o principal responsável pela invenção da cassete. 

Ottens descreve que a fita cassete de áudio surgiu por “irritação” devido à falta de praticidade dos sistemas de gravação de bonina a bonina. E outro objetivo que a Philips queria almejar com esta invenção consistia em fazer com que a cassete coubesse “no bolso do casaco”.

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A cassete foi um êxito. Desde 1963 foram vendidas mais de 100 mil milhões de cassetes, informa a BBC. A invenção foi revolucionária na altura: permitia ouvir música em qualquer lugar, sendo também possível escolher a ordem das músicas e até gravá-las da maneira que apetecesse a cada um — uma grande diferença face aos discos de vinil.

Foi uma “sensação”, descreveu Ottens à revista Time no âmbito dos 50 anos da invenção da cassete. Em 1982, no entanto, viria a preconizar a morte das cassetes: “Os gravadores convencionais estão obsoletos” — e o holandês contribuiu para isso. Desde 1980 que chefiou a equipa de desenvolvimento do compact disc (CD), numa parceria que a Philips fez com a Sony. “Nada se compara ao som do CD”, admitiu em entrevista ao jornal NRC Handelsblad.

Em 1986, Ottens reforma-se do seu cargo na Philips. Questionado sobre o impacto que as suas invenções tiveram, o holandês sempre se mostrou bastante modesto: “Éramos apenas uns rapazes que se divertiam”, que não tinham noção de que “estavam a fazer alguma coisa grandiosa. Era uma espécie de desporto”. “Não foi um grande evento na altura”, acrescentou.

Houve, no entanto, um arrependimento que ficou nos anos que esteve na Philips — o facto de a empresa não ter apostado num leitor de cassetes como o Walkman: “Ainda magoa”, confidenciou.