A Organização das Nações Unidas (ONU) está a seguir de perto os ataques em Palma, no norte de Moçambique, e está preocupada com a “rápida deterioração da situação humanitária” na região, disse esta quinta-feira o porta-voz adjunto do secretário-geral.

“Estamos a seguir de perto os ataques em Palma, que começaram em 24 de março e continuaram hoje [quinta-feira]. Há informação limitada sobre os incidentes”, disse Farhan Haq, porta-voz adjunto de António Guterres, em resposta à agência Lusa.

“Continuamos preocupados com a violência na província de Cabo Delgado que provoca o aumento do deslocamento de populações e leva à rápida deterioração da situação humanitária na região”, declarou Farhan Haq. Segundo o porta-voz adjunto, vários trabalhadores humanitários da ONU estavam em Palma quando o ataque começou e a organização está “a comunicar com todos os contactos relevantes para assegurar que os trabalhadores podem sair da área”.

A Organização das Nações Unidas “está pronta para continuar a apoiar o povo e o Governo de Moçambique para responder urgentemente às necessidades humanitárias da população afetada”, acrescentou o porta-voz adjunto.

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O Ministério da Defesa de Moçambique confirmou esta quinta-feira, numa declaração à imprensa, um ataque armado à vila de Palma, norte do país, junto ao projeto de gás de Cabo Delgado. De acordo com a mesma fonte, as comunicações com Palma estão interrompidas, não havendo, até este momento, informação sobre vítimas e danos causados.

O ataque a Palma aconteceu no dia em que o Governo moçambicano e a petrolífera Total anunciaram a retoma gradual das obras do complexo industrial de Afungi, adjacente à vila de Palma (separados por sete quilómetros de terrenos), após reforço das condições de segurança.

O Ministério da Defesa apelou para a população “se manter vigilante e serena enquanto procura espaços seguros”, pedindo colaboração com as autoridades, “denunciando os terroristas e homens armados para a sua neutralização”.

Várias fontes disseram na quarta-feira à Lusa que a população de Palma estava a abandonar a vila e a refugiar-se na mata, cenário também confirmado pelo Ministério da Defesa. Ainda segundo testemunhos, trabalhadores de diferentes nacionalidades ligados a obras na região de Palma, onde decorrem os projetos de gás do norte de Moçambique, fugiram juntamente com a população após o ataque de grupos armados à sede de distrito, segundo testemunhos.

O projeto de gás liderado pela Total é o maior investimento privado em África, avaliado em cerca de 20 mil milhões de euros.

A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes. Algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.

Segundo o secretário-geral da ONU, a população moçambicana precisa da ajuda urgente de cerca de 254 milhões de dólares (ou 18,7 mil milhões de meticais) “para enfrentar a tripla crise resultante da violência, das crises climáticas e da pandemia de Covid-19”.