Quase todos os profissionais de saúde (99,8%) vacinados em dezembro de 2020 e acompanhados pelo Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) desenvolveram anticorpos contra o SARS-CoV-2 depois de terem tomado a segunda dose da Pfizer/BioNTech. Ao fim da primeira dose, a percentagem ficava-se pelos 90%, concluiu o estudo em pré-publicação anunciado esta sexta-feira e colocado na plataforma MedRXiv.

Numa parceria com o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, o IGC acompanhou 1.245 profissionais de saúde desde dezembro até agora e descobriram que, mesmo após a segunda dose, o aumento de anticorpos na mucosa, que é a principal fonte de contágio e transmissão da doença, é “pouco expressivo”. Por isso, os investigadores não aconselham que se aumente o intervalo entre tomas de vacinas.

O estudo também aponta que a eficácia da vacina depende das idades e das características dos indivíduos. Por exemplo, “verificámos que a idade tem efeito na resposta à vacina e nomeadamente que homens com idades compreendidas entre os 60 e os 70 anos tiveram respostas imunológicas mais baixas, principalmente após a toma da primeira dose da vacina”, descreveu Carlos Penha Gonçalves, co-responsável pelo estudo.

Jocelyne Demengeot, imunologista que também participou no estudo, acrescentou que “a resposta imune é muito heterogénea na população”, daí que a segunda dose seja necessária para aumentar a proteção conferida pela vacina; e que, mesmo após a vacinação, seja imperativo manter as medidas de proteção individual, como a utilização de máscara e o distanciamento físico.

Ainda assim, o estudo confirma que a vacina “origina uma forte reposta imune”, avançou João Faro Viana, médico responsável pelo projeto no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental. Os profissionais de saúde vão continuar a ser acompanhados até dezembro deste ano para determinar por quanto tempo é que os anticorpos contra o coronavírus se mantêm e para estabelecer se algum deles desenvolveu Covid-19 severa.

Entretanto, o IGC pretende alargar o estudo para monitorizar outras faixas etárias da população e o efeito de outras vacinas, estabelecendo em parcerias com outros hospitais e outras autarquias. Os dados vão ser partilhado com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), que, por sua vez, vão reportá-los ao Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC).

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