Se Portugal avança no processo de desconfinamento, com base numa matriz de risco que coloca o país ainda no “verde”, noutros países europeus a situação agrava-se, levando profissionais de saúde a emitir alertas sobre a capacidade do sistema e a pedir mais medidas de contenção. Em França e na Alemanha, os médicos apelam a um regresso ao confinamento.

Quarenta e um médicos de Paris publicaram, este domingo, um artigo de opinião no Journal du Dimanche a alertar para a situação crítica dos cuidados de saúde. No artigo, avisam Emmanuel Macron que podem ter de chegar ao ponto de escolher que doentes tratar.

O artigo surge numa altura em que o presidente francês tem rejeitado voltar a um confinamento geral e optado por restrições como o recolher obrigatório. Com o aumento do número de infeções (mais de 42 mil novos casos de infeção e 190 mortes nos dados mais recentes) e de camas ocupadas nos cuidados intensivos (mais 106 de sábado para domingo), os médicos apelam a Macron para que mude de estratégia. “Nunca nos deparámos com uma situação como esta, nem mesmo durante os piores ataques [terroristas]”, como os de 2015, defendem, no Journal du Dimanche.

Os médicos preveem que o aligeirar das restrições em vigor em março não vai controlar a pandemia. Os recursos hospitalares, adiantam, não são suficientes para responder às necessidades, o que os levará a ter de praticar uma “medicina de catástrofe”.

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“Já sabemos que a nossa capacidade de resposta está sobrecarregada. (…) Seremos obrigados a fazer a triagem dos doentes para salvar o maior número de vidas possível. Esta triagem vai abranger todos os pacientes, com e sem Covid, em particular no acesso dos pacientes adultos aos cuidados intensivos”, consideram.

De acordo com os dados divulgados este domingo, França registou um aumento do número de doentes com Covid-19 em camas de cuidados intensivos — de 4.766 para 4.872. Tendo em conta todos os internamentos — em enfermaria e cuidados intensivos —, há mais 453 pessoas nas unidades de saúde, para um total de 27.712.

“Estamos a correr de olhos abertos para a desgraça”

Na Alemanha, a situação também é crítica, com as unidades de cuidados intensivos a chegar ao limite devido à pandemia, alertou este domingo o presidente da Associação de Medicina Intensiva e de Urgências alemã (DIVI), pedindo restrições mais severas para reverter a tendência.

Estamos a correr de olhos abertos para a desgraça“, disse o responsável da DIVI, Gernot Marx, que pede um confinamento de duas a três semanas, em declarações à revista alemã Der Spiegel. O especialista realçou que esse confinamento “salvaria muitas vidas e protegia muita gente da sequelas do coronavirus”.

Segundo dados da associação, atualmente há 1.644 camas livres nas unidades de cuidados intensivos alemãs. Desde março, o número de pacientes em cuidados intensivos aumentou naquele país de 2.727 para 3.448. A situação é considerada crítica a partir dos 5.000 doentes com Covid-19 nas unidades de cuidados intensivos.

A Alemanha registou 17.176 novos casos e 90 mortos nas últimas 24 horas, um aumento de mais de 3.000 casos em relação ao domingo passado.