Este artigo é da responsabilidade de Turismo do Centro de Portugal
Este ano, a Páscoa continua a celebrar-se à distância, de um clique, de um telefonema ou de uma videochamada. Mantemos viva a tradição e manteremos vivo o espírito de união e alegria tão caraterísticos desta época. Numa tentativa de adaptação muitas celebrações mantêm-se e são transmitidas online, permitindo que a Quadra Pascal permaneça viva.
Nas mesas da Região Centro de Portugal, o cabrito assado, os folares, o arroz-doce, o pão-de-ló e a tigelada, são os pratos e doces tradicionalmente eleitos por esta altura, sem esquecer as amêndoas. Venha daí e embarque nesta viagem onde poderá descobrir as melhores tradições desta região. Mantenha o espírito e a alegria deste tempo de Renovação!
Ria de Aveiro
Na altura da Páscoa, as freguesias de Cedrim do Vouga e de Couto de Esteves, em Sever do Vouga, perpetuam uma interessante tradição que vale a pena conhecer! Na madrugada do Domingo de Páscoa, a “rapaziada” de Carrazedo, freguesia de Cedrim do Vouga, reúne-se para ir “gritar à raposa” pelos montes. Levam latas, tachos e outros instrumentos para fazerem barulho até mais não! Com o objetivo de assustarem e espantarem as raposas, gritam ou assobiam pelos montes. Depois de completarem esta tarefa, vão pedindo ovos em todas as casas e terminam a realizar um convívio com uma grande fritada. Quem não for cooperante com a dádiva dos ovos, está sujeito a sofrer um assalto à capoeira feito pela raposa, ou seja, pela rapaziada.
A eleição dos compadres e das comadres é outra tradição muito antiga que tem continuidade nos dias de hoje, através de rapazes e raparigas solteiros durante o período da Quaresma. Tem início com um jogo que os rapazes realizam, onde constam os nomes de várias raparigas e rapazes. Sorteia-se para cada nome masculino um nome feminino. Posteriormente, ocorre a eleição das raparigas nos mesmos moldes e são afixadas listas de ambas. No Domingo de ramos, as raparigas oferecem uma lembrança aos rapazes e estes fazem o mesmo no dia de Páscoa.
Viseu Dão Lafões
Uma das tradições mais antigas do Município de Vouzela denomina-se “Encomendação das Almas”. Sabe do que se trata? Venha descobrir! Esta tradição consiste num ritual quaresmal que teve origem presumível no século XIII. Trata-se de uma forma de culto musical, onde um grupo de populares entoa cânticos piedosos e orações, com o objetivo de favorecer as almas que se encontrassem no Purgatório. Os cânticos são entoados a altas horas da noite só com a iluminação de candeias. O grupo cantava em anonimato, possuindo as cabeças cobertas de panos brancos ou vestindo-se completamente de negro e transportavam uma Cruz. Quando chegavam a um cruzamento da aldeia, acendiam as velas, ajoelhavam-se e “encomendavam”. As famílias apontavam aos cantadores uma lista onde constavam os nomes dos familiares falecidos, que possivelmente estariam no purgatório.
Paralelamente, também existia a tradição da “Amentação das Almas”, que era um ritual conhecido como o canto da esmola. Consistia num grupo de pessoas que cantava pela aldeia, e recebia esmolas em géneros agrícolas, que posteriormente eram leiloados e revertidos em missas, em sufrágio das almas do Purgatório. No concelho de Vouzela, esta tradição praticava-se anualmente, até meados do século XX. Atualmente, ainda continua ativa por intermédio de grupos folclóricos, em eventos de natureza sociocultural.
Serra da Estrela
A Páscoa da Serra da Estrela será condicionada mas a data será assinalada, de forma digital. Aqui a tradição ainda permanece viva, quer nos eventos gastronómicos e mercados digitais, como também nas celebrações pascais “online”. A riqueza cultural do concelho do Fundão está presente em tradições como o cantar das Almas, a Procissão dos Penitentes, na aldeia de Lavacolhos e a Procissão das Pinhas, na Barroca do Zêzere. Também as Ermidas ganham destaque na cidade do Fundão. Estas são representações vivas da Paixão de Cristo recriadas em simultâneo nas nove capelas da cidade. Na Sexta-feira Santa, decorre o Enterro do Senhor ao som das matracas e do canto das Verónicas. Este representa o trajeto que o corpo de Cristo fez desde o Calvário ao Sepulcro e tem bastante importância para os fundanenses. A grande maioria destas tradições sofreram alterações este ano devido ao período de pandemia que atravessamos, embora muitas com transmissão online.
Convidamo-lo a conhecer a Quadragésima! Esta consiste num conjunto de tradições e rituais religiosos que expressam a religiosidade popular nas cidades e aldeias desta zona. Nos 40 dias que antecedem a Páscoa ocorrem diversas manifestações religiosas e culturais em muitos lugares das Beiras. A organização “Quadragésima” é um projeto em rede dos Municípios de Belmonte, Covilhã, Fundão, Guarda e Sabugal que tem como objetivo dar a conhecer estas manifestações de cultura imaterial. Propõe uma programação artística onde as comunidades locais se envolvem e o visitante poderá disfrutar de experiências únicas, onde estão presentes a espiritualidade e o recolhimento.
Também o Município de Pinhel tem agendados eventos digitais alusivos à quadra pascal, adaptando a tradicional Via-sacra aos tempos de pandemia, transmitindo uma Via-sacra virtual, comentada pelo pároco de Pinhel.
Páscoa significa ainda tradição gastronómica, onde não podemos deixar de mencionar os “Mercados online” do município de Gouveia, Sabugal e Seia, e ainda Fornos de Algodres.
Beira Baixa
Desde o dia 21 de março ao dia 4 de abril, encontra-se em Idanha-a-Nova a instalação artística urbana “Os Passos da Via-sacra”. Esta compreende um conjunto de 15 imagens em exposição nas ruas da vila, que lembram os arranjos piedosos efémeros que eram montados nesta ocasião para edificação dos fiéis. Antigamente, incluíam panos pintados de armar.
Enquadrado na iniciativa “Aleluia em Casa 2021”, a que o município aderiu , convidou-se Sousa Monteiro a ilustrar os Passos da Via-sacra, evocando as encomendas de arte religiosa de outrora.
Esta atividade desenvolvida pelo município de Idanha-a-Nova permite à população continuar a viver este tempo Pascal com alegria e esperança, apesar da situação de pandemia que atravessamos. O formato inclui concertos, documentários e missas com transmissão online.
Já é tradição na Paróquia da Batalha, durante o período pascal entoarem-se os cânticos litúrgicos, denominados de Cânticos da Quaresma, junto ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha. Esta iniciativa costuma ser dinamizada por associações concelhias, que pretendem reconstituir uma tradição que marca esta quadra há muitos anos. Em outros concelhos, tal como em Ansião, as gentes imbuídas ainda de fortes crenças cristãs, mantêm vivas as suas tradições pascais, quer ainda na prática, quer na memória coletiva e familiar, passando-as de geração em geração.
A Páscoa é uma quadra cheia de tradições em Vila Nova de Poiares. Queremos convidá-lo a descobrir todas as tradições, algumas já bem antigas! As diversas procissões nas aldeias, encenações teatrais, comidas tradicionais e doces fazem parte destas festividades no concelho. Esta época é um marco no calendário religioso, pois coincide com a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Na tradição gastronómica de Poiares, o almoço do Dia Santo de Páscoa é recheado de carnes, entre as quais o cabrito, o borrego, o galo e também a chanfana. A mesa poiarense conta também com amêndoas e doces, vinho do porto ou da “safra caseira”, licores regionais e bolos, onde se lancha com produtos da terra e da região, num ambiente de confraternização e de festa, abrindo “a porta à cruz”.
É ainda tradição cravar-se uma moeda de prata numa laranja, mas há também quem coloque a laranja à mesa, tendo um envelope com um valor monetário por perto. Os devotos vão antecipadamente ao campo onde apanham rosmaninho, junco e outras flores campestres, para confecionarem um tapete de flores e o colocar à entrada de casa, assinalando que esta pretende receber a Cruz de Cristo.
Dado existirem muitos moinhos de vento e azenhas, produzia-se muito pão de “testa” e folares, amassados nos “fornos da poia”, que se destinavam a ser vendidos em Coimbra, e em particular na aldeia da Serra do Carvalho. Estes, podem ainda levar ovos inteiros em cima, com umas tiras de massa com feitio de cruz, as “courras”. Na Quinta-Feira Santa dizia-se que Jesus estava no horto, e, como tal, até domingo não se ia à fazenda, nem sequer para apanhar couves. Em algumas aldeias, nas casas com mais posses matavam um galo ou galinha, coziam-no para depois corar no forno e com a água de cozer fazer canja.
Sexta-Feira e Sábado, guardava-se a santidade e não se fazia nada nas terras, apenas se ia à capela. O evento mais característico acontece no Domingo, com a visita pascal ou “compasso”, que simboliza a entrada de Jesus Cristo no lar do poiarense cristão. A visita pascal é composta por 4 a 5 elementos devidamente identificados com túnicas vermelhas: um preside, o padre ou seu substituto, outro leva a cruz, outro a campainha, outro a caldeirinha e outro o que recebe as dádivas, mas estas tradições encontram-se suspensas nestes anos de pandemia.
Nas aldeias do concelho, todas com a sua capela de devoção, é tradição antiga no domingo de Páscoa ao fim da tarde, fazer-se um leilão de oferendas em favor da sua capela. Muitas vezes as oferendas aconteciam por promessas feitas ao longo do ano. Ainda há quem ofereça o tradicional pé de porco que tinha sido guardado na salgadeira, ou um salpicão ou chouriça pendurado na unha e, por vezes, juntavam um garrafão de vinho, mas também ofereciam milho, feijão, folar, garrafas de bebidas, bolos, animais vivos como coelhos, galinhas ou galos, revertendo todo o dinheiro angariado a favor da capela.
A par destas tradições ainda contamos com os presentes dados pelos padrinhos e madrinhas aos afilhados ou afilhadas. Nem sempre o folar era doce, os afilhados podiam receber um pão de centeio ou trigo, por vezes com um ovo em cima tendo, no entanto, que receber as bênçãos dos padrinhos.
Médio Tejo
Em Vila de Rei, no Distrito de Castelo Branco, este ano em parceria com a delegação Vilarregense das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, é solicitado como forma de assinalar as comemorações Pascais a partir das suas próprias casas, que as pessoas se “juntem numa onda de solidariedade e manifestação de fé”, permitindo que se celebre a Páscoa, ainda que de maneira diferente. Nestes dias, os vila-regenses devem colocar objetos nas janelas, portas ou varandas, mostrando o apoio e a alegria desta quadra. No Domingo de Ramos (28 de março) é proposto que se coloque um ramo de oliveira ou outra planta. Na Quinta-feira Santa (1 de abril), é a vez de deixar flores. Na Sexta-feira Santa Sexta-feira Santa (2 de abril) sugere-se a colocação de um crucifixo, cruz de madeira ou pano roxo. Por fim, no Domingo de Páscoa (4 de abril) – “Alegria da Ressurreição”, é proposta a colocação de uma colcha, pano branco, fita branca e flores.
No Santuário de Fátima, de forma a serenar a impossibilidade de peregrinos poderem participar nas Celebrações Pascais, o Santuário programou a Semana Santa com celebrações diárias “online” para que todos possam participar na comemoração desta data festiva e viver a época da Ressurreição desde suas casas. Desta forma manteve-se uma programação incluindo o Domingo de Ramos e o Tríudo Pascal, culminando na Santa Missa do Domingo da Ressurreição. Concelhos de profundas tradições religiosas e fé, Mação e Sardoal, celebram a Semana Santa com presença virtual. No Sardoal, a semana santa é tão exuberante quanto bonita. As Capelas e Igrejas da vila estão todas abertas e mostram os seus tapetes de flores alusivos à Paixão de Cristo, cuidadosamente elaborados por grupos de pessoas cujas flores são apanhadas no campo.
Oeste
Em Peniche, as tradições existentes são igualmente convidativas nesta quadra. Como forma de assinalar a Procissão do Senhor dos Passos, o grupo de teatro “O Nazareno” sugere-lhe que coloque uma colcha à janela ou que decore a entrada da sua casa, pois irá levar as imagens, a partir de viaturas, a alguns dos bairros e ruas da cidade e todo o percurso será transmitido em direto a partir da página oficial do Grupo de Teatro “O Nazareno”.
As tradições eram muitas, pois a Quaresma celebrava-se à sexta-feira à noite e sempre num bairro diferente. No Domingo de Ramos, para além da missa do dia, também contávamos com a Procissão de Senhor dos Passos, que acontecia entre a Igreja de São Pedro e a Capela do Calvário, por volta das 15h00. Por sua vez, no Largo do Calvário costuma haver um Sermão dado por um sacerdote convidado, e um momento evocativo do encontro de Jesus “Senhor dos Passos” com sua Mãe “Nossa Senhora das Dores”, cujo andor sai da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda e reúne-se ao filho no Calvário. Após a procissão, existia um momento musical que contava com a exibição de um trecho do musical O Nazareno, de Frei Hermano da Câmara, que recordava a crucificação e morte de Jesus. Na Quarta-feira da Semana Santa, era habitual acontecer a Via-sacra encenada pelo grupo de teatro O Nazareno. Esta Via-sacra, ora acontecia na versão de rua, entre a Misericórdia e São Pedro, ora na versão interior, em São Pedro.
Na Quinta-Feira Santa, às 19h, em São Pedro, dava-se a tradicional Missa do Lava-pés (que recorda a Última Ceia e a instituição da Eucaristia), com um conjunto de 12 pessoas representativas dos apóstolos a quem o sacerdote lava os pés, evocando o gesto de Jesus. Após a eucaristia, o Santíssimo fica exposto e costuma haver um momento de oração noite fora. Na Sexta-Feira Santa, as Cerimónias da Paixão do Senhor começam às 15h em São Pedro com os vários gestos próprios da liturgia deste dia. Às 21h, existe um momento teatral evocando a crucificação e a descida da cruz, pois a imagem de Jesus crucificado é colocada num esquife que seguirá levado em ombros sobre o pálio na Procissão do Enterro, que sai às ruas logo de seguida, até à Igreja de Nossa Senhora da Ajuda.
Sábado é dia de reflexão e a Igreja da Misericórdia encontra-se aberta durante todo o dia. Às 22h, na Igreja de São Pedro, há a Vigília Pascal, a celebração mais importante de todo o ano litúrgico com uma liturgia própria: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; uma série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Batismo e, por fim, a liturgia Eucarística.
Durante o Domingo de Páscoa, as missas realizam-se em São Pedro às 11h, e em Remédios às 16h. Neste dia, poderá também assistir ao Concerto de Páscoa pelo Coral Stella Maris, na Ajuda às 19h. Assista aqui. Mesmo ao lado, em Óbidos, há a habitual Via Sacra, atraindo anualmente centenas de veraneantes que desejam assistir e participar neste momento de oração e reflexão, pelas ruas da vila medieval, este ano de forma digital.
Assim termina a nossa viagem pelo Centro de Portugal nesta festividade tão única como é a Páscoa, altura que nos enche de esperança e “nos aproxima” nestes tempos tão conturbados e que exigem a readaptação de muitas tradições. A tradição aqui ainda é o que era! A emoção mantém-se. E o Centro de Portugal continua aqui, à sua espera!
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