A maternidade está cheia de surpresas. E se para as estrias há cremes milagrosos e por cada recém-nascido que não dorme existe pelo menos uma teoria infalível, para a solidão passou a haver o podcast. “Se você também se sente uma mãe de merda várias vezes por dia, bem-vinda ao ‘Calcinha Larga’, um espaço para a gente ser de verdade e mais do que tudo se perdoar por isso”, introduz a cronista e argumentista brasileira Tati Bernardi, uma das anfitriãs do programa que é também um porto de abrigo para mulheres comuns num mundo de mulheres perfeitas.
Ao fim de mais de um ano – o que em termos pandémicos corresponde a uma eternidade – o saldo é um misto de jantar de amigas, terapia de grupo e magazine de humor. Sem filtros e sem álcool, mas muitas drogas à mistura. Legais, frise-se. Anti-histamínicos, antidepressivos, por aí. Pelo caminho, mães (e não só) sentem o conforto de embarcar na novíssima modalidade da solidão acompanhada. Que sempre é melhor que a solidão solitária. “Sim, é maravilhoso ter filhos, mas, sim, em vários momentos do dia também é um saco, também é difícil”, ouve-se. E, já agora, somos muito mais parecidas (e parecidos) do que pensamos. Até mesmo nos piores defeitos, angústias e perrengues. E se emperrou em “perrengue”, que se pronuncia “pêrrengui”, saiba que se trata de uma forma informal de no Brasil indicar “sarilho”. Porque “Calcinha Larga”, que em Portugal se diria “cuecão”, também enriquece o léxico dos portugueses.
Todas as quartas-feiras, Tati Bernardi e as argumentistas Camila Fremder e Helen Ramos (conhecida pelo canal de YouTube Hel Mother) conversam com uma convidada no Spotify. Atrizes e psicanalistas, chefs e influencers, vale tudo. Até mesmo alguns cromossomas Y, como os do cronista António Prata e do humorista Gregório Duvivier. Bernardi – “estudante de psicanálise e desinfluencer” – domina o pedaço de forma ligeiramente maníaca, e brinca com isso, Fremder traz uma dose de neuroses acima da média (ou “nóias”, como lhes chama) e Ramos assume o papel da millenial que teve de se reinventar. Um grande tema por programa e rubricas regulares impedem o caos. Ou tentam.
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