O primeiro ventilador produzido em Portugal — e o único no país com certificação europeia — está pronto e as primeiras 15 unidades vão começar a ser entregues nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ainda esta semana. Uma “máquina que fica para a história”, nas palavras de Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, que há um ano desafiou a Sysadvance a desenvolver este equipamento.

A entrega simbólica da primeira unidade do SYSVENT OM1 ocorreu esta quarta-feira, na sede da Sysadvance, na Póvoa de Varzim. José Vale Machado, diretor da empresa, sublinha três características deste ventilador: “O produto foi desenvolvido com o requisito específico de uma alta fiabilidade, alto desempenho e precisão. Estes equipamentos são responsáveis pelo suporte de vida de doentes que têm estados pulmonares muito críticos”. Segundo o responsável, a certificação de dispositivo médico emitida pelas autoridades europeias “comprovou que é um ventilador tão bom ou melhor que os equipamentos topo que são produzidos no estrangeiro”.

Portugal vai produzir o primeiro ventilador certificado

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O desafio e interesse da Sysadvance e da Ordem dos Médicos pela produção de um ventilador surgiu no ano passado, face aos efeitos que a pandemia estava a provocar nos hospitais portugueses. Desde esse momento, uma equipa de engenheiros e médicos intensivistas desenvolveu “em tempo recorde” este ventilador, destinado sobretudo às Unidades de Cuidados Intensivos em Portugal.

Temos um equipamento de alta fiabilidade, de alta precisão e com uma grande robustez. E com uma vantagem acrescida que é uma característica de todos os outros equipamentos que fabricamos aqui. Os equipamentos podem ser controlados remotamente via LAN, ou seja, podem ser ligados a uma rede informática e podem ser controlados através de um computador, sem necessidade de entrar nas zonas de contágio”, sublinha José Vale Machado.

Quanto à capacidade de produção, o responsável refere que, atualmente, a empresa consegue produzir dez ventiladores por dia, mas a sala de produção “está preparada para ser escalada com uma segunda linha até 20 unidades por dia e por turno”, podendo chegar a uma capacidade de produção de 60 equipamentos diários, se houver necessidade e encomendas que o justifiquem.

Esta semana serão entregues 15 das 30 unidades que foram encomendadas pelo Movimento Todos por Quem Cuida — composto pela Ordem dos Médicos, Ordem dos Farmacêuticos e Apifarma — e que serão doadas ao SNS. Também a Sysadvance vai oferecer mais cinco unidades, havendo ainda dois ventiladores que estão destinados à República Checa e um processo de equivalência de certificação iniciado no Brasil. Cada ventilador, revela o responsável, “vai ser colocado a um terço do preço dos competidores, mesmo tendo mostrado nos testes de certificação um desempenho igual ou superior ao atual líder de mercado. Custará cerca de 15 mil euros ao cliente final”.

Também presente na cerimónia de entrega esteve o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, juntamente com Ana Paula Martins, bastonária da Ordem dos Farmacêuticos. Para Miguel Guimarães, a produção deste ventilador nacional é importante por uma questão de autonomia em desenvolver equipamentos “nas crises que possam acontecer”.

Nesta última fase complicada que tivemos usaram-se os melhores e os piores ventiladores que tínhamos. Usaram-se todos os ventiladores, mesmo os que não eram específicos dos cuidados intensivos, porque o objetivo fundamental era tentar salvar o máximo de vidas”, sublinha Miguel Guimarães.

Segundo o bastonário da Ordem dos Médicos, este ventilador “vai ter, seguramente, aplicação”, começando pela “substituição dos ventiladores que já estão ultrapassados”. “Desenvolveu-se uma máquina que fica para a nossa história, fica para a história da pandemia e é seguramente um contributo que as ordens [dos médicos e dos farmacêuticos] estão a dar também ao país”, termina.