Questionados sobre a democracia em que vivem, para assinalar mais um — o 47º — aniversário da Revolução de Abril, só 10% dos portugueses responderam que a veem sem espinhas, “em pleno”. No total, 83% dos inquiridos disseram que consideram a democracia portuguesa defeituosa — 36% acreditam que o regime tem “muitos defeitos”; 47% acham que esses defeitos são, ainda assim, “pequenos”; e depois existe ainda uma minoria de 4% que diz mesmo que Portugal nem sequer é um sistema democrático.
Os resultados da sondagem ISC/ISCTE, feita para o Expresso e para a SIC, foram publicados esta sexta-feira no semanário, a dois dias do 25 de Abril. Revelam um panorama pouco animador para o sistema e para quem o encabeça: confrontados com a afirmação “A maioria dos políticos preocupa-se com aquilo que pessoas como eu pensam” só 3% dos inquiridos concordaram totalmente e 18% concordaram em parte. No total, 74% dos portugueses não se sentem representados pela classe política — 29% discordaram em parte da afirmação, 45% foram mais veementes e discordaram totalmente.
Quando o foco muda, dos políticos para as suas ações, o quadro mantém-se inalterado: à frase “em geral, o Estado é gerido de forma a beneficiar todas as pessoas” só 5% dos participantes na sondagem responderam com um “concordo totalmente”. Feitas as contas a quem discorda, parcial ou totalmente, é fácil perceber que existe uma grande maioria — 72% — de portugueses que acredita que a democracia, quando nasce, não é para todos.
Se é entre as camadas mais desfavorecidas que as críticas ao sistema mais se fazem notar — os inquiridos que confessam que, com os rendimentos que têm, viver é “difícil” ou “muito difícil” são os que mais dedos apontam à democracia vigente —, a ligação dos resultados à pandemia já é mais difícil de sustentar. Uma maioria de 68% respondeu que nada mudou com a crise da Covid-19. E se 23% dos inquiridos consideraram que a democracia em 2021 é pior do que a de 2019, outros 4% garantiram que a consideram melhorada.